Da varanda da minha casa, na Serrinha do Alambari, descortino um amplo panorama da vertente oriental do maciço do Itatiaia, na região da Serra da Mantiqueira, dentro do Estado do Rio. Essa encosta é coberta por grande diversidade de árvores, densos palmitais e belas formações de samambaiaçus.
Minha casa é orientada para o Norte e, assim, o sol nasce à direita dela, movendo-se ao longo da serrania, que se mostra de frente, como uma parede de vegetação. O sol se esconde atrás da montanha, para o lado do pico das Agulhas Negras, e a iluminação se mantém favorável para a fotografia das plantas e da paisagem exuberante da floresta.
Da minha janela, observo as aves e as mudanças do tempo ao longo do dia. Acompanho o crescimento da vegetação e suas variações conforme as estações. Dali, estou atento também a oportunidades para fotos. Já usei desde uma grande angular de 24 mm até uma tele de 800 mm, e quase todas as distâncias focais das minhas lentes. Às vezes é um gavião pousado numa embaúba, outras é a textura dos palmitais, ou ainda o efeito da luz do amanhecer no conjunto da mata.
Quando vislumbro algo que me convida a fazer uma foto, imediatamente penso com que distância focal vou enquadrar. Ao perceber uma oportunidade, o passo seguinte é decidir o enquadramento. E isso me fez pensar… O que é o enquadramento? Qual o seu significado e importância para a composição de uma foto? Como ele se relaciona com os outros elementos de design da fotografia? Que equipamentos e técnicas podemos usar para controlar o enquadramento de uma foto?
Ao encontrar uma oportunidade de criar ou montar uma fotografia, consideramos imediatamente, e de uma só vez, os elementos de design dela. Vemos, com o olho da mente, composição, linhas e formas, tons de cinza ou cores, o momento decisivo para disparar o obturador, a informação contida na cena, a expressão do sujeito, o clima ou astral daquele momento, a perspectiva, a iluminação, a textura e o ritmo de todos esses elementos. Numa fração de segundo, percebemos tudo isso – articulamos a linguagem fotográfica – e, ao mesmo tempo, enquadramos a cena. O mestre norte-americano Ansel Adams chamava isso de pré-visualização.



O que é enquadrar?
O enquadramento é o recorte visual que fazemos do mundo, o que incluímos no espaço delimitado pelo filme ou pelo sensor – e, ao mesmo tempo, o que deixamos de fora. É como se víssemos o mundo como um quadro e lhe recortássemos uma janela pois, ao fotografarmos, criamos uma imagem plana a partir de uma realidade multidimensional. O francês Henri Cartier-Bresson dava tanta importância ao enquadramento que ampliava suas fotos com uma linha negra circundando a imagem para dizer que aquela foto tinha o enquadramento original feito no momento de fotografar, sem cropping posterior.
Fazemos também o recorte temporal de um acontecimento. Excluímos o que aconteceu antes e depois do instante fotografado. Sequestramos esse momento do fluxo do tempo, do contínuo temporal daquele acontecimento, de seu contexto, o que tem importância fundamental no significado daquela imagem. É como se apropriar de um fotograma de um filme, dispensando tudo o que vem antes ou depois. Essa questão é o momento decisivo. Aqui, vamos tratar do enquadramento espacial da fotografia.



