Quando se trata de fotografia de viagem, um nome ficou notabilizado na área: Valdemir Cunha. Ele foi editor de fotografia das revistas Viagem & Turismo, Caminhos da Terra e Próxima Viagem, rodou cerca de 80 países produzindo imagens para essas publicações e percorreu diversos cantos do Brasil para registrar a natureza, as paisagens, a culinária e a cultura.
Essas andanças culminaram em novembro de 2012 na publicação de seu 120 livro: Brasil Invisível, com fotos feitas ao longo de dez anos de viagens pelo Brasil. Lançado também em iPad (com conteúdo exclusivo, vídeos, compartilhamento de imagens e georreferenciamento), a obra busca mostrar uma transformação do País observada por Valdemir Cunha: o surgimento de melhores oportunidades para a população por meio do trabalho e do acesso à educação.
Assim, estão na publicação fotos como a de um índio pataxó com um CD player, pequenos produtores de mandioca e um dos poucos tropeiros que ainda existem no Brasil. A história de alguns dos personagens é contada em textos do jornalista Xavier Bartaburu.
Confira a seguir a entrevista com Valdemir Cunha sobre o projeto.

Fotografe – Como surgiu a ideia do livro Brasil Invisível?
Valdemir Cunha – A ideia surgiu de forma mais concreta com as viagens que fiz pelo Brasil em 2000, 2001 e 2002. Naqueles três anos viajando pelos rincões do País, percebi que uma parte das pessoas que moravam em regiões isoladas estava cada vez mais melhorando de vida a partir da força de vontade e com muito trabalho. Era algo diferente da década de 1990 e do final dos anos de 1980. Existia mais que apenas a esperança de conseguir mais qualidade de vida. Vi que, de fato, uma parcela dessa população estava conseguindo colocar os filhos em escolas e proporcionando algo melhor para as famílias.
No início, em 2000, achava que isso poderia ser apenas casos isolados e, por isso, passei três anos viajando por todas as regiões do País: para me certificar de que não eram situações particulares e que isso estava acontecendo por todo o Brasil. Em 2003, quando comprovei a minha percepção, comecei a trabalhar no projeto procurando visitar todos os Estados brasileiros em busca dessas pessoas. Foram mais dez anos de muito trabalho e muitas viagens por todas as regiões do País.

Fotografe – O que o incentivou a criar o projeto e realizá-lo?
Valdemir Cunha – Por volta de 1995, vi uma palestra do Sebastião Salgado na USP (Universidade de São Paulo). Fiquei impressionado com o planejamento e a grandiosidade que ele tinha em suas temáticas. Ele não publica livros, mas executa grandes projetos. Desde essa época, venho planejando meu trabalho pensando num grande projeto de documentação da população brasileira, da cultura e dos lugares onde essa gente mora.


Fotografe – Você usou fotos de outros trabalhos neste livro?
Valdemir Cunha – Brasil Invisível é um grande projeto que vem sendo executado desde o início da década de 1990, embora tenha sido estruturado e pensado como trabalho entre 2000 e 2003. Por isso, algumas imagens, cerca de dez apenas, foram publicadas em outros livros meus, mas foram produzidas inicialmente para o Brasil Invisível.

Fotografe – O que levou em conta para selecionar as fotos que fariam parte do livro?
Valdemir Cunha – O que me move quando estou editando imagens para projetos como o Brasil Invisível é, principalmente, a história que quero contar. No caso, é o dia a dia de homens e mulheres das cinco regiões brasileiras inseridos em suas rotinas. Pessoas que moram em lugares onde médicos são raros; as escolas, distantes; e coisas essenciais para viver dignamente, como saneamento básico, não existem. O livro mostra principalmente gente que vive e sobrevive baseada na crença de que o trabalho pode melhorar a condição da família. Eles vivem felizes a despeito de suas privações. A partir desse recorte, fiz a edição com o objetivo de contar as histórias dessas pessoas. Como moram, em que trabalham, quais são suas crenças e onde vivem.
