Passados dez dias das grandes manifestações que tomaram as ruas do Brasil, a fotojornalista Adriana Franciosi, do jornal Zero Hora, falava com dificuldade. A cada dez palavras, uma tosse seca insistia em interrompê-la. Era o efeito das bombas de gás lacrimogêneo jogadas pela Brigada Militar de Porto Alegre (RS) para dispersar a população.
Em 17 de junho de 2013, dia em que os protestos ganharam uma magnitude jamais vista, ocorrendo simultaneamente em diversas capitais do País, Adriana teve de ir ao hospital por causa do gás inalado durante a cobertura. E, no início de julho, uma reação alérgica aos componentes químicos da bomba, somada ao esforço físico e à grande carga horária, a levou a três dias de licença médica.
Além da capital gaúcha, grandes protestos aconteceram também em São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Salvador (BA) e Fortaleza (CE). Apesar das centenas de quilômetros que separam as cidades, o cenário foi muito semelhante em todas elas: milhares de cidadãos ocupando as ruas insatisfeitos com a política, muitos cartazes, caminhadas, repressão policial, enfrentamentos e vandalismos. Por isso, a cobertura feita e a rotina dos repórteres fotográficos foram muito parecidas, independentemente da localidade.



Segurança
Por causa do confronto entre policiais e manifestantes e dos atos de vandalismo que ocorriam com o passar da noite, as manifestações de junho de 2013 foram quase uma cobertura de guerra para os fotojornalistas. Responsáveis por mostrar tanto as caminhadas pacíficas quanto a violência, se viam em meio às bombas de gás de efeito moral, pedradas e balas de borracha. Com isso, alguns jornais forneceram equipamento de segurança, como máscaras, óculos e capacetes, a partir do segundo grande protesto.
Apesar da experiência em situações de confronto, para muitos, foi a primeira vez que usaram o aparato. É o caso de Alex Silva, fotógrafo há dez anos do jornal O Estado de S. Paulo. “A gente é calejado nessas coberturas, e acabava não colocando máscara. Eu estava levando somente vinagre e pano para me proteger do gás e só quando cobri a manifestação no Rio de Janeiro (no dia da final da Copa das Confederações) resolvi usar. Com ela dá para trabalhar mais tranquilamente, sem ficar esfregando o olho toda hora”, conta ele que, por causa do forte cheiro do gás quase desmaiou na Avenida Consolação, em São Paulo, ao fazer a cobertura no dia 13 de junho (o mais violento).

