Resgatar a história de um povo e mantê-la presente para as próximas gerações é uma importante tarefa antropológica para a sociedade e tem, na fotografia, uma ajuda bastante eficaz. O trabalho de Tadeu Vilani é um bom exemplo de como as imagens colaboram com essa empreita. As fotos que ilustram essa matéria são parte de um interessante registro que ele realiza das diferentes etnias que formaram o povo e os costumes do Estado do Rio Grande do Sul.
Entre o final do século 19 e início do século 20, diversos problemas político-econômicos na Europa forçaram a imigração de alguns povos para a América, a fim de tentar a vida neste lado do Atlântico. No Brasil, famílias estrangeiras encontraram promessas de melhoria com o trabalho nas fazendas de café, arroz e outras lavouras do Sul e Sudeste. As famosas colônias agruparam imigrantes de regiões próximas e, dessa forma, essas pessoas conseguiram manter suas tradições ativas. Aos poucos, incorporaram suas crenças e costumes aos hábitos da vida brasileira.
O Rio Grande do Sul é um Estado que recebeu, além de portugueses, imigrantes italianos, alemães e poloneses, que desembarcaram lá para trabalhar como pequenos produtores rurais. É dessa raiz genealógica que descende Tadeu Vilani, natural de Santo Ângelo (RS), na região das Missões, a cerca de 460 km de Porto Alegre. Bisneto de italianos, com outros ascendentes negros e poloneses, o fotógrafo diz que sempre se interessou pela história dos antepassados, já que ainda traz na memória a época da juventude, que passou com seus tios e avós nas colônias.
Incentivado em pesquisar mais sobre a origem de sua família, Tadeu encontrou na fotografia uma forma de ampliar esse conhecimento e ir além, ao elaborar um amplo estudo dos imigrantes que ajudaram a formar a cultura gaúcha. “Quis entender como foi a vida que meus pais e avós tiveram nas colônias, como descendentes de emigrantes saídos de uma Itália destruída. Como sou de outra geração e cresci na cidade, esse sentimento emocional vai se perdendo aos poucos”, conta.
A partir desse objetivo, Tadeu já fotografou diversas famílias italianas, polonesas, alemãs e, agora, trabalha com o registro do povo negro. Em seguida, planeja fotografar os açorianos, outra etnia presente no Estado. “Ao retratar toda essa gente, procuro não utilizar os estereótipos de cada etnia. Quero mostrar a realidade de cada cultura, com um olhar que evidencie as reais características de cada povo”, diz.
Além dos imigrantes, Tadeu também fez fotos dos índios guaranis, que antigamente ocupavam, entre outras áreas, as margens da Lagoa dos Patos e o norte do litoral gaúcho. “Foi um desafio que propus a mim mesmo, para me desvencilhar um pouco da cultura europeia presente nas outras etnias.”




Cinema europeu
O fotógrafo gaúcho conta que, ao criar seu estilo, sua principal influência foi o neorrealismo italiano, um movimento cultural que surgiu no final da Segunda Guerra Mundial, com destaque para as produções cinematográficas. A principal característica dessa vertente foi o uso de elementos da realidade nas obras de ficção, aproximando-as do estilo presente em filmes documentários. Numa Itália recém saída do regime fascista, os diretores do cinema neorrealista retrataram a classe operária imersa em um ambiente social injusto; com isso, procuravam usar suas produções como forma de comprometimento político.
Mas, para Tadeu, essa inspiração não foi exatamente intencional: ele conta que, quando jovem, via muitos filmes italianos e se apaixonou pela estética das produções da época, em especial um filme do diretor Vittorio De Sica, Ladrões de Bicicleta (Ladri di Biciclette, 1948). Ganhadora do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1950, a película narra a história de Antonio Ricci, italiano que, depois da Segunda Guerra Mundial, consegue um emprego como colocador de cartazes. O trabalho, porém, exige uma bicicleta, que ele consegue comprar com dificuldade, mas esta é roubada em seguida. Com a ajuda do filho Bruno, Antonio sai em busca da bicicleta por toda a cidade.
“Esse filme mexeu comigo e me ajudou muito na fotografia, devido à dramaticidade que ele mostra. Reflete o sentimento que os descendentes de italianos e poloneses tiveram a partir da destruição ocorrida com a guerra”, afirma Tadeu. O fotógrafo comenta que, para ele, o cinema foi uma influência maior até que a própria fotografia. “O estilo quase documentarista dos filmes italianos dessa época foi mais importante para mim do que foi o trabalho de grandes fotógrafos, como Cartier-Bresson. Primeiro tive contato com os filmes para, depois, me interessar pelos livros de fotografia”, diz.



