Natureza em alta? Só nos livros. Depois do fracasso da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (em Copenhague, na Dinamarca), de terremotos pelo planeta e de enchentes por todo lado, ver o meio natural exibir tranquilidade só mesmo em imagens impressas. E isso sem considerar o recente fotojornalismo, que registrou todas as últimas catástrofes naturais, além de vários outros problemas.
Contra a maré de tragédias, um dos bons exemplos é o novo livro de Luciano Candisani, Jubarte, que aborda esta espécie de baleia, também conhecida como corcunda, por causa de seu dorso. A publicação colabora com o projeto Monitoramento de Baleias por Satélite, que trabalha na preservação desses animais. O almirante Ibsen de Gusmão Câmara, paleontólogo e conservacionista militante, esclarece no prefácio do livro que a relação entre o homem e os grandes cetáceos é marcada pela controvérsia: algumas pessoas têm admiração por estes seres; já outras enxergam neles uma fonte de lucro. Na imprensa, vemos tanto o esforço dos ecologistas, quanto as crueldades cometidas por gananciosos comerciantes.
O fato é que, se essa contenda estivesse equilibrada, não haveria tanta luta dos preservacionistas, o que destaca o caráter de extrema importância do livro que, por sinal, reafirma também a postura estável e coerente do fotógrafo e de suas publicações anteriores. Luciano Candisani sempre aliou o trabalho e a preservação da natureza às belíssimas imagens que produz. Fotos, aliás, de técnica exemplar.
Reunir material para a nova publicação não foi fácil. Candisani conta que o período de maior concentração das baleias no litoral da Bahia, entre os meses de agosto e setembro, corresponde também ao auge do inverno no Hemisfério Sul, estação fustigada por ventos fortes e frentes frias. “Dos 20 dias disponíveis para a expedição de 2009, apenas metade apresentou condições mínimas para o trabalho de marcação das baleias em mar aberto”, diz.
Qualquer fotógrafo que já tenha tentado fotografar dentro de uma pequena embarcação balançante, conhece a dificuldade da iniciativa. Se for usar uma teleobjetiva de 300 mm, ou acima disso, sabe que é mais difícil ainda, mesmo com os truques do giroscópio, embutido em algumas objetivas de autofoco com sistemas estabilizadores. O trabalho tem que ser no manual mesmo, tem que saber usar a tele, tarefa para poucos, como Candisani.
Como os fotógrafos mais moderninhos, o autor também dispõe de uma grande angular, usada quando as embarcações conseguem se aproximar dos grandes mamíferos. Candisani conta que a jubarte expõe o dorso apenas por alguns instantes antes de mergulhar. “Exatamente nesse momento, o bote precisa estar a menos de cinco metros do animal, para que o marcador tenha a chance de lançar o transmissor”, afirma, referindo-se ao projeto.

Outra coisa que exige perícia com uma teleobjetiva é quando as baleias saltam. Como elas não estão próximas, o fotógrafo precisa se equilibrar, focar e disparar para captar o momento exato em que elas saem da água. São imagens belas, quase abstratas, que desenham ora o corpo todo, ora a tradicional nadaderia caudal. Candisani conta também que a jubarte é um tanto exibida. Da família dos rorquais, é a que mais se mostra na superfície.
As imagens com as baleias submersas, infelizmente, são poucas no livro, mas têm uma ótima qualidade e dão conta do recado. Até porque a publicação é voltada para o Projeto de Monitoramento de Baleias por Satélite, o que pede que todo o esforço acima do nível da água seja evidenciado. Para isso, é preciso contar, de forma detalhada, como o fotógrafo trabalha e como é o esforço em prol da jubarte.
Livros como esse são peças essenciais na conscientização de problemas urgentes, que tocam não somente os ambientalistas, mas toda humanidade. Muitos países demoraram (e outros ainda resistem, como o Japão) a terminar com a pesca indiscriminada, que não atinge apenas as baleias. Coisas injustificáveis em pleno século 21, que parece ser governado por autocratas sem nenhuma visão do futuro. Os mesmos que ainda acham que tsunamis são coisas do destino.
