Ele já “colocou” a lua em uma das mãos do Cristo Redentor e “pousou” um dirigível nas areias da praia de Ipanema em um domingo de sol. Custódio Coimbra é um fotógrafo das alturas. Suas lentes estão quase sempre posicionadas de cima para baixo, em um ângulo pouco convencional e, por isso mesmo, prontas para registrar cenas cotidianas a partir de uma visão que poucos têm acesso. Custódio é, sem exageros, um fotógrafo de atitude e altitude.
Ele acaba de lançar o livro Rio de Cantos Mil, pela editora Réptil (preço sugerido R$99), com mais de cem fotos. Alguns dos trabalhos mais emblemáticos, reunidos nesta obra lançada recentemente, são as fotos aéreas. Ele explica que a técnica está em buscar um ponto de onde se tenha dimensão dos fatos. “A fotografia aérea tem sua magia. É raríssimo fazer duas fotos do mesmo lugar. Como, normalmente, o fotógrafo está em movimento, é quase impossível uma foto se repetir”, diz. Nota-se que Custódio opta por fotografar o mais perpendicular possível, chapando os elementos em um único plano que, sem volume, mais parece um mapa, um desenho, muitas vezes abstrato. Tudo proposital. “Gosto de deixar a dúvida: de onde ele fez a foto?”, sugere.
Custódio usa, basicamente, uma Canon EOS Mark III e lentes f/2.8 17-35 mm, 28-70 mm e 70- 200 mm. Não recorre a tripés. Um olhar “do alto” é um outro ponto de vista sobre a cidade. Como dica a quem quer fazer fotos assim, ele atenta para a velocidade do obturador. “Devido à trepidação e ao movimento de onde se está, é necessário atenção à velocidade do obturador. Prefiro sempre tentar usar 1/1000s, no mínimo”, afirma.


Sem medo de altura

O requisito básico para fotografar perto das nuvens, quase de cabeça para baixo, é não ter medo de altura. Custódio já fotografou de avião, helicóptero, planador, asa-delta, dirigível e até parapente. “Quanto menos equipamento, melhor. Mas é comum ter de trocar de lentes durante as coberturas. Todo cuidado é pouco nessa hora. Frieza e atenção são quesitos fundamentais”, alerta.
Além de tranquilidade e segurança, necessárias para uma boa foto nas alturas, o fotógrafo depende, na maioria das vezes, do aluguel de um helicóptero. Algumas das oportunidades surgem com o dia a dia, pelo trabalho no jornal O Globo, no qual está desde 1989. Entre uma pauta e outra, sempre que possível, ele aproveita para fazer registros pessoais. “Como trabalho para a editoria ‘Rio’ (que abrange assuntos gerais da cidade), cubro os acontecimentos do cotidiano. Chuva, sol, manifestações, do luxo ao lixo. Entro às 8h e normalmente não sei para onde vou. Cada dia é uma surpresa”, conta Custódio.
Nesse trabalho está incluída uma vasta leva de temas. Da praia à montanha, das baianas girando na avenida ao jogo de futebol, das arquibancadas do Maracanã aos blocos do carnaval de rua… “Cada assunto tem uma particularidade. A questão socioambiental sempre me pautou. Uma vez, durante um debate, perguntaram-me por que fotografo tanto os menores de rua. Respondi que, se eu tivesse nascido na Dinamarca, iria fotografar outra coisa. Criança nas ruas é a minha realidade. Alegria, tristeza, dor, tensão”, lista o fotógrafo.


Clique aqui para ler o PDF na íntegra – matéria publicada em Fotografe 168 (set/2010)