Dizer que o agronegócio é um importante setor para o Brasil não é novidade. Produtos como soja, cana-de-açúcar, café, carne bovina, algodão e biodiesel são alguns dos protagonistas do ótimo desempenho brasileiro no mercado externo de commodities – termo em inglês que identifica as mercadorias de base em estado bruto, matérias-primas, ou com pequeno grau de industrialização. O destaque é que o desempenho econômico desta área reflete positivamente em outros setores, como a fotografia.
A estabilidade comercial é uma das principais características que o campo exporta. Mesmo com épocas específicas de safra agrícola e ciclos produtivos na pecuária, o agronegócio mostra-se como uma área bastante estável comercialmente, sem oscilações, principalmente, nos investimentos em imagem feitos pelas empresas.
De forma geral, três diferentes segmentos podem ser trabalhados na fotografia de agronegócio: fotojornalismo, para jornais diários e revistas especializadas; publicidade, por meio de agências ou das próprias empresas de insumos agropecuários ou cooperativas de produtores; e fotos de animais para leilões ou em provas de desempenho, como avaliações de touros ou corridas de cavalos. Fotografe conversou com alguns profissionais da área para conhecer os estilos e as peculiaridades técnicas de cada um destes segmentos. Os quatro entrevistados ressaltaram: trata-se de uma área rentável e faltam bons profissionais no setor.
Humberto Franco, fotógrafo sediado na capital paulista, é um dos que se especializaram nesse tipo de foto. Começou a carreira com fotos de estúdio, mas logo passou para a área editorial, um tempo como paparazzo e depois na cobertura de rodeios e provas equestres. A partir daí, aprofundou os conhecimentos nos assuntos rurais para a atuação no fotojornalismo e em foto corporativa. Hoje, tem trabalhos publicados em importantes revistas do agronegócio, como Dinheiro Rural e Panorama Rural.

“A foto de agropecuária é um mercado amplo e bem remunerado se comparado a outras áreas da fotografia especializada, como automóveis ou esporte. Além disso, é um segmento carente de bons fotógrafos, que registrem qualquer cultura com um olhar diferenciado. Acredito que, no Brasil todo, há no máximo cerca de 15 profissionais de renome, especializados em agronegócio”, afirma Franco.
O fotógrafo explica que a principal característica da prática de se fazer fotos para esse setor é a possibilidade de realizar imagens bem produzidas, pois o tempo dispensado em uma fotorreportagem ou mesmo para o mercado corporativo é grande. Por outro lado, como boa parte dos assuntos fotografados são exuberantes, próprios da agropecuária tropical, Franco diz que fazer imagens bonitas é uma obrigação de qualquer fotógrafo.
“Geralmente, como o trabalho exige que o fotógrafo viaje e fique nas fazendas por alguns dias, há tempo para ele pensar nas imagens, explorar o assunto ao máximo e as condições para fazer fotos diferenciadas, com forte impacto visual. O repórter fotográfico de agronegócio precisa estar bem antenado ao que o diretor de arte precisa e, principalmente, o que ele quer transmitir com a imagem”, diz.
Franco trabalha com uma Canon EOS 5D e a dupla de lentes 17-35 mm f/2.8 e 70-200 mm f/2.8. Usa dois flashes Canon 550 EX, além de um Shine 500, da Atek, para fotos de personagens. Seu estilo evidencia que a iluminação é trabalhada de forma bem planejada. Para ele, de quanto mais equipamentos para iluminação o fotógrafo puder dispor, mais resultados satisfatórios ele terá.

“Além das fotos básicas do fotojornalismo, como uma imagem para a abertura de matéria, uma para a capa, uma boa foto de personagem, um close do assunto e uma foto aberta do local, o fotógrafo precisa criar imagens de impacto visual. Isso é o mais importante nesse tipo de foto. Um bom recurso é a contraluz. Os editores de veículos de comunicação e as empresas adoram”, comenta.
Segundo o fotógrafo, no trabalho para empresas, com fotos para anúncios e outros materiais de identidade corporativa, a dinâmica é a mesma do fotojornalismo, mas com um potencial próprio. “Você pode fazer uma foto para alguma multinacional aqui no Brasil e ela ter repercussão no exterior, por meio das outras filiais da empresa. Ao fazer uma imagem sobre agricultura, ela pode rodar o mundo e, se souber trabalhar bem, uma foto que vale R$ 300 no Brasil pode chegar a US$ 1.200 para o licenciamento no exterior”, estima.
Para quem deseja entrar na área, Franco dá três dicas pontuais. A primeira é procurar fazer fotos para veículos especializados. “Mesmo uma revista pequena dá oportunidade ao fotógrafo de trabalhar pautas diferentes das que a grande imprensa oferece. Participar de feiras e congressos do setor é outra chance de praticar e também ter contato com pessoas do segmento, que são clientes em potencial”, explica.


A segunda dica é fazer fotos de assuntos que rendam imagens atraentes, como a cultura do café, para constatar que é possível fazer belas fotos, além de ajudar a formar um portfólio. “A lavoura do café, por si só, gera boas fotos por conta da variedade de cores e também pelo cronograma que essa cultura tem, desde o plantio, colheita, secagem e torrefação”, ensina Franco.
Por último, ele sugere fotografar assuntos que obriguem o fotógrafo a fugir de clichês, como por exemplo, plantações de cana-de-açúcar. Para ele, esse tipo de cultura sempre oferece o mesmo cenário, com as mesmas abordagens. Tentar fazer fotos diferenciadas é um bom exercício de criação. Com isso, o fotógrafo pode conseguir um estilo pessoal e ter seu trabalho reconhecido no mercado.
