Em um domingo de abril de 2012, na periferia de Porto Alegre (RS) – mais precisamente no bairro do Umbu –, o fotógrafo gaúcho Tadeu Vilani, 48 anos, se preparava para documentar a corrida de trote (com charretes adaptadas para competir puxadas por um cavalo), típica da região. Quando foi dada a largada, com os jóqueis já em movimento, o fotógrafo se apoiou na parte de trás de uma caminhonete, ajustou a câmera para capturar a imagem em baixa velocidade e fez a foto que lhe garantiu o tricampeonato na Categoria P&B do Concurso Leica-Fotografe.
A foto é parte do trabalho Pradinho, finalizado recentemente, feito em parceria com o fotojornalista gaúcho Jorge Aguiar. Neste ano, deve ser feita uma exposição com todas as imagens resultantes do projeto dedicado a registrar a corrida de carreiras. Mas Tadeu está longe de se contentar com esse e os tantos outros documentários feitos por ele. Atualmente, divide seu tempo entre quatro projetos que prioriza quando não está trabalhando para o jornal gaúcho Zero Hora, onde atua como fotojornalista há 17 anos.

Frutos futuros
O primeiro consiste em um resgate e restauração de fotografias de casais feitas nas décadas de 1940 e 1950. Com as fotos em mãos, Tadeu investiga como a imagem foi feita e o que os retratados sentiram quando foram fotografados. “Esse projeto está no começo”, conta. “O momento em que uma foto é feita, nesse tipo de situação, é muito especial. Quero saber como isso aconteceu”, diz.
O segundo é sobre os pampas gaúchos, iniciado em 2012. “Nesse trabalho, retrato o cotidiano dos homens do campo, a imensidão dos pampas, as festas, a solidão. Pessoas que trabalham nessa região são sempre muito solitárias”, observa Tadeu. O objetivo do fotógrafo é em 2013 fazer documentários que foquem no Brasil. Em 2014, nos pampas uruguaios e, em 2015, nos argentinos.
O terceiro projeto, um dos mais antigos e ainda não terminado, é o estudo sobre a imigração alemã no Rio Grande do Sul. Como parte do trabalho, ele já havia abordado a influência alemã na área rural e, dessa vez, junto com o fotógrafo Fernando Zago, foca no aspecto urbano da imigração, que em 2014 completa 190 anos.
Além desses, Tadeu ainda fotografa o futebol de periferia, que, segundo ele, está “em contraponto ao praticado nas escolinhas de futebol, que é elitizado”. Nesse documentário, o fotógrafo não retratou somente o Rio Grande do Sul, como também outros Estados brasileiros, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Todos os projetos, ainda sem nome, estão sendo feitos em P&B, marca registrada de Tadeu Vilani. “Fazer trabalhos autorais apenas em P&B foi algo a que me propus desde o começo”, explica ele.
Há ainda um documentário que está somente no campo das ideias: investigar, por meio da fotografia, a formação da cultura japonesa no Brasil a partir da imigração e como o povo influenciou o Rio Grande do Sul. “Gosto de estudar o lugar em que vivo, entender as coisas que o formam, e entre elas está a influência das etnias”, explica.


Elemento humano
Apaixonado pela questão humana, Tadeu sempre procura encaixála em seus documentários. O fotógrafo tenta com a fotografia estudar o que o ser humano produz, a forma como ganha a vida e como se relaciona consigo mesmo e com a vida. Isso para, principalmente, pesquisar a determinação das pessoas. “Se tem uma coisa que pude provar com o meu trabalho é que querer é poder”, analisa. Para exemplificar, conta duas histórias que ocorreram recentemente, quando cobria pautas para o jornal Zero Hora.
No início de junho de 2013, documentou, com a jornalista Kamila Almeida, uma família que mora embaixo de uma ponte na BR-116, na altura do km 259. Constituída de uma mãe viúva e três filhos, a família chamou a atenção do fotógrafo porque, apesar do lugar onde vivia, tinha um quarto com TV e outros eletrodomésticos, e o ambiente era limpo e arejado. O que mais surpreendeu Tadeu, no entanto, foi o filho mais velho: apesar das dificuldades financeiras, ele é o melhor aluno do colégio público que frequenta, com uma média de 10 nas notas. “É uma situação adversa, impressionante de ver”, relata Tadeu.
Outra situação é a dos carreteiros que vivem nos pampas da região de São Gabriel. Cerca de quatro vezes por ano, eles percorrem cerca de 50 km com seus carros de boi para venderem o que produzem na cidade. Levam três noites para chegar à cidade, se a viagem for feita com calma – e deve ser, para não machucar os bois. “No mundo moderno, ainda existe esse tipo de coisa primitiva. É muito interessante vivenciar essa experiência”, conta ele, que pode e quer muito retratar histórias interessantes como essas, pois tem faro para isso.


Clique aqui para ler o PDF na íntegra – matéria publicada em Fotografe 202 (ago/2013)