Ao focalizar de perto um determinado ponto de algum objeto, apenas esse ponto aparece nítido. Todo o resto fica vagamente delineado na visão periférica. É como se olhássemos através de um potente telescópio com profundidade de foco mínima.
Ao olhar uma pinta em meu braço, a 20 cm de distância, tenho que desviar os olhos para ver o fio de cabelo ao lado. Ao observar a lua cheia e prestar atenção nas manchas das crateras, tenho que redirecionar meu olhar para perceber o halo de umidade em volta dela.
O que escrevo não foi tirado de estudos de psicologia da percepção, mas de minha própria experiência e pura observação. Faça um teste e veja. Saber como a visão funciona ajuda a compreender a maneira como percebemos, selecionamos e enquadramos as cenas que fotografamos.
Esse modo especializado e seletivo (portanto, excludente) de funcionamento da atenção visual influencia a maneira como valorizamos o fundo das fotos. E, por fundo, entenda tudo o que não for o assunto principal da imagem, inclusive o que estiver em um plano anterior ao motivo principal.
Quando olhamos no monitor ou no visor da câmera SLR para fazer uma foto, muitas vezes esquecemos de considerar o que envolve o assunto principal. Excluímos o fundo e nos concentramos apenas na figura. Não percebemos o quadro total, a relação entre figura e fundo. Depois, com a imagem na tela do computador ou no papel, percebemos que a composição pode ter sido prejudicada. Justamente a composição, a organização total de todas as linhas, formas e cores, que é o elemento mais importante do design de uma imagem.
Geralmente, a harmonia entre figura e fundo é afetada por elementos que perturbam a composição, como reflexos, linhas, formas e cores, que tiram a força da figura principal, “brigam” com ela. Com essa abordagem, podemos entender que algumas fotos não têm figura e fundo. Toda a composição é figura, é assunto principal. Não somente fotos em que apenas um elemento ocupa todo o quadro, como uma textura ou um desenho, mas algumas paisagens também.


O Movimento
No entanto, essa característica da visão humana não é a única razão de fazermos fotos com interferências do fundo, com a composição desequilibrada ou estática. Por vezes, também esquecemos algumas noções de composição e desconsideramos regras básicas. Mas é preciso sempre respeitar as regras? Bem, se não conhecermos tais orientações, como desrespeitá-las criativamente?
Se colocamos a linha do horizonte no meio do quadro, dividindo uma foto de paisagem em duas partes iguais, por exemplo, criamos uma simetria paralisante que bloqueia o dinamismo interno da composição, delegando o mesmo peso visual ao primeiro plano e ao plano de fundo. O céu funciona como o elemento complementar da paisagem e, ao desperdiçarmos a oportunidade de criar um dinamismo, produzimos uma imagem estática, monótona, que atende muito mais a um primeiro impulso do olhar do que a uma composição pensada. Ao posicionarmos uma ave no meio da foto produzimos efeito semelhante.

A natureza da mente humana é estar em movimento. O pensamento e a percepção fluem sempre. É impossível mantê-los imóveis por muito tempo. Por isso, os exercícios de concentração são tão difíceis e frustrantes. Tudo o que não é o ponto de concentração é distração e o embate entre exercício e distração aborrece. Ao apreciarmos uma imagem sem movimento, contrariamos o ritmo da mente e nos enfadamos com isso. Não aproveitamos a oportunidade de usar o fundo como um elemento enriquecedor da imagem, tornando-o, ao contrário, um adversário do dinamismo visual.
Se considerarmos que o fundo ocupa frequentemente a maior parte da superfície da foto, é admirável que descuidemos tanto desse importante elemento de composição. Os exemplos citados são de usos passivos do fundo, mas podemos também utilizá-lo ativamente, fazendo com que ele tenha um significado na composição, dramatizando uma cena ou acrescentando sutilmente mais informação àquela imagem.

