CARTA AO LEITOR
Se havia algo que desafiava fotógrafos do mundo inteiro antes da era digital era registrar uma imagem com filme diapositivo colorido, chamado de slide ou cromo, tido como tarefa para profissionais dos mais gabaritados. Com uma baixa latitude de exposição, o slide não permitia erros de fotometria. Esse motivo e o fato de ser caro, tanto o filme como o processo de revelação, o deixava longe de amadores. Eu mesmo só fui conhecer um filme diapositivo quando fazia faculdade de Jornalismo, no começo dos anos 1980. Um colega endinheirado, que tinha uma Nikon F2 (o máximo para estudantes da época), apareceu com um Kodak Ektachrome, se me lembro bem, em uma das aulas de Fotografia e, para matar minha curiosidade, deixou que eu fizesse duas fotos das 12 poses com a câmera dele. Acostumado com filme P&B, achei que não seria tão complicado como ouvira falar. Quase duas semanas, o resultado: as fotos dele estavam razoáveis e as minhas duas, imprestáveis. Estourou tudo.
Só fui conseguir fazer algumas boas imagens com slide no começo dos anos 1990 depois de dicas do fotógrafo Mário Bock, quando trabalhamos juntos na revista Duas Rodas, especializada em motociclismo. Na época e até o começo dos anos 2000, fotografia colorida para 95% das pessoas era sinônimo de negativo colorido, que tinha uma latitude de exposição bem mais ampla, fora as correções que eram feitas automaticamente nos laboratórios. Quem nunca viajou e, na volta, foi correndo para um shopping center fazer aquela revelação de 1 hora para ter em mãos rapidamente aqueles pequenos álbuns com fotos ampliadas em 10 x 15 cm?
Hoje, na era digital, o que não falta é facilidade para trabalhar com imagens coloridas, que, na minha opinião, são mais desafiadoras do que as em P&B. E, se a exposição não captou bem as tonalidades que você queria, ainda existe a possibilidade de ajustar na pós-produção, principalmente se o arquivo estiver em RAW. Por isso, quando vejo imagens de Walter Firmo ou Luiz Braga feitas na época do slide (dois mestres que falam sobre fotografia colorida nesta edição), percebo o quanto eles são craques.
Como você deve ter notado, desde a capa, esta é uma edição dedicada à cor. E, se tem um cara que sabe transitar nesse mundo com muita ousadia, é o franco-húngaro (e quase brasileiro) Pol Kurucz, que faz produções criativas com um paleta saturada, composta quase sempre de cores secundárias berrantes. E, pasme, ele resolve tudo com luz e gelatinas coloridas, quase nada de tratamento no Photoshop (confira na pág. 40).
Aprenda, informe-se e divirta-se. Boa leitura.
Sérgio Branco
Diretor de Redação
branco@europanet.com.br
SUMÁRIO FOTOGRAFE 287
- Pinceladas com luz – Com um estilo delicado e composição impecável, jovem fotógrafo gaúcho especializado em fotografia de crianças produz imagens que lembram pinturas e ilustrações antigas
- A cor na criação autoral – Veja como explorar a cor em trabalhos pessoais e aprenda com o processo criativo de Walter Firmo, Luiz Braga, Ana Carolina Fernandes e Nilo Biazzetto Neto
- A jornada da fotografia colorida – Das primeiras experiências no século 19 à criação do filme colorido, que destacou o olhar genial do austríaco Ernst Haas. Confira e aprenda
- Provocações coloridas – Com habilidade para explorar matizes fortes e com uma proposta excêntrica, o ousado fotógrafo Pol Kurucz faz do uso da cor um dos diferenciais nas imagens que produz
- Na cola dos bate-bolas – O fotógrafo Ratão Diniz documenta uma tradição trazida ao Brasil por portugueses e que sobrevive marginalizada nos subúrbios cariocas
- Especialista em cor – Confira dicas de José Fujocka, um dos principais nomes da pós-produção no Brasil e responsável por tratar imagens de grandes fotógrafos