CARTA AO LEITOR
Edição fechada, recebo pelo WhatsApp a triste notícia: o grande fotógrafo Sérgio Jorge havia perdido a batalha para a covid-19 na madrugada do dia 30 de novembro de 2020 em um hospital de Amparo (SP), sua terra natal, depois de duas semanas de internação. Aos 83 anos, Serjão, como gostava de chamá-lo, mostrava uma vitalidade impressionante. Mesmo em tratamento, achou espaço para fazer alguns autorretratos na cama do hospital, sorrindo e brincando, certo de que venceria a luta contra essa doença que assombra o mundo. Não deu.
Estivemos juntos há pouco mais de um ano, no festival de fotografia Olhares da Mantiqueira, em Bueno Brandão (MG), minha terra natal, no qual Serjão foi a grande atração. Ali ele deixou boquiabertos os presentes ao falar sobre sua brilhante carreira. Lembram dele como o primeiro ganhador do Prêmio Esso de Fotografia, em 1960, com a famosa foto do menino que luta com o homem da carrocinha na periferia de São Paulo (SP). Outras citações de referência são ter feito a foto do milésimo gol de Pelé e de ter acompanhado as grandes vitórias de Eder Jofre no boxe. Mas Serjão fez muito mais e contava histórias incríveis dos tempos de fotojornalista (passou pelas redações de O Dia e A Gazeta, nas décadas de 1950 e 1960, e depois foi destaque na revista Manchete, nas décadas de 1960 e 1970).
Tenho como certo que Sérgio Jorge é um dos grandes mestres da fotografia brasileira. Além disso, foi um dos criadores do festejado Estúdio Abril de Fotografia, na fase em que trocou o fotojornalismo pela publicidade. Nesse estúdio que se tornou uma referência, Serjão ajudou a formar dezenas de fotógrafos que depois alcançaram sucesso na carreira. Em 1975, abriu o próprio estúdio e nele trabalhou até se aposentar.
Voltou a morar na cidade natal e, claro, continuou envolvido com fotografia. Era atualmente o presidente do Foto Clube de Amparo e nas últimas semanas estava na correria, organizando a Bienal Preto e Branco 2020 da Confederação Brasileira de Fotografia, uma saudável disputa entre fotoclubes de todas as regiões do Brasil e da qual sou jurado, a convite dele e de seu braço direito, o fotógrafo Reginaldo Leme – que foi quem me deu a notícia pelo WhatsApp. Que meu amigo Serjão encontre a paz onde quer que esteja. Seu legado na fotografia é imenso e na próxima edição quero contar um pouco mais sobre esse grande fotógrafo e grande ser humano.
E que fique o alerta de que a pandemia não passou. Precisamos nos resguardar até a chegada de uma vacina que funcione, seja ela qual for. Ficar negando a realidade que nos assola só causa mais mortes. Conscientes de que temos que nos proteger uns aos outros, sairemos dessa com menos trauma, pois o estrago já está feito.
Boa leitura.
Sérgio Branco
Diretor de Redação
branco@europanet.com.br
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