O segundo volume da série Portfólio Fotografe contempla o trabalho do renomado fotógrafo maranhense Márcio Vasconcelos. Com vários prêmios no currículo, livros e exposições muito elogiados, ele começou na fotografia por hobby quando era funcionário do Banco do Brasil no Maranhão e em pouco tempo passou a ter uma atividade fotográfica profissional em paralelo às obrigações de bancário.
Encontrou na publicidade um mercado crescente em São Luís (MA) e acabou se dedicando a esse segmento. Cada vez mais envolvido com a fotografia, aproveitou um Programa de Demissão Voluntária (PDV) do Banco do Brasil, recebeu uma indenização e montou o primeiro estúdio no centro histórico da capital maranhense. Apesar do sucesso comercial, ele foi deixando o estúdio aos poucos para abraçar a fotografia autoral. Voltou o foco para as religiões afro-brasileiras, principalmente o Tambor de Mina, introduzido no Maranhão pela rainha Nã Agotimé, do reino de Daomé, na África Ocidental, que veio para o Brasil vendida como escrava. Na capital maranhense, ela fundou, na década de 1840, o primeiro terreiro de Tambor de Mina, assim chamado em referência ao instrumento usado nos cultos e à origem dos negros que fundaram a religião, vindos da costa próxima ao Castelo de São Jorge de Mina, atual Benin. A religião se parece muito com o Candomblé, que se desenvolveu na Bahia e no Rio de Janeiro.

Fascinado pelos rituais do Tambor de Mina, Márcio Vasconcelos começou a documentá-los na Casa de Nagô, em São Luís, uma das mais importantes do Maranhão, o que deu origem ao primeiro trabalho autoral, Nagon Abioton. Depois, fez a viagem de volta da rainha Agotimé para pesquisar no Benin as raízes da religião, levantando semelhanças e diferenças existentes entre os rituais realizados no país africano e no Maranhão – esse projeto deu origem ao documentário Zeladores de Voduns do Benin ao Maranhão.
O terceiro trabalho nessa linha foi Bruxos e Curandeiros, que uniu o fotógrafo e a antropóloga Ana Stela Cunha em uma viagem para Cuba para documentar o Palo Monte, originário de escravos vindos de uma região do que hoje é o Congo, cujos líderes religiosos são chamados de brujos (bruxos).

O Portfólio Fotografe de Márcio Vasconcelos abrange outros dois projetos: Na Trilha do Cangaço e Visões de um Poema Sujo. O primeiro trata da saga de Virgulino Ferreira da Silva, o cangaceiro Lampião. A inspiração surgiu de uma entrevista dada por Frederico Pernambucano de Melo, um dos maiores biógrafos de Lampião, que revelou na época que ainda havia um dos integrantes do bando vivo, e o fotógrafo decidiu que iria atrás dele para documentar o quanto de história ainda restava pelas trilhas em que Lampião havia passado. O segundo veio de um insight quando ele caminhava pelas ruas de São Luís e, a cada passo, vinha à sua mente um verso de Poema Sujo, de Ferreira Gullar (1930-2016). O fotógrafo estudou com afinco a obra do poeta maranhense e saiu pelas ruas da cidade em busca de suas visões.
