A fotografia de paisagem noturna pode oferecer resultados incríveis, desde que se siga algumas regras básicas. A primeira e mais importante de todas consiste em ajustar uma baixa velocidade no obturador da câmera (15s, 30s, 45s…) para trabalhar com tempos de exposição mais longos (algumas capturas chegam a uma ou mais horas de duração). Portanto, usar o modo manual é imprescindível. O passo seguinte é ter habilidade para acertar o foco na escuridão e fazer uma boa composição da cena. Essa é a lição inicial de quatro especialistas: o mineiro Cristiano Xavier, o carioca Marcelo Portella, o paulista Ricardo Takamura e o baiano-capixaba Victor Lima.
Na estrutura desses pilares básicos, um acessório é indispensável: o tripé. Cabe a ele garantir estabilidade para evitar a tremedeira durante os extensos tempos de exposição. Vale lembrar que não é qualquer tripé comprado em lojinha popular que vai servir. Se você quer levar a sério a fotografia noturna, tripé é um assunto complexo e deve ser averiguado com cuidado e paciência, pegando algumas dicas de quem entende. Um tripé robusto com cabeça rotativa, que dê bastante mobilidade, é fundamental para a especialidade. E, fora o tripé, um disparador remoto, com ou sem fio, é outro quesito bastante recomendado por especialistas, pois colabora para efetuar o disparo sem mexer na câmera – pois qualquer movimento produz vibrações que podem prejudicar a nitidez da imagem.
Quem não dispõe de um disparador, pode resolver parcialmente a situação usando o temporizador da própria câmera. Mas esse recurso não permitirá exposições com mais de 30 segundos (possível somente no modo B, de bulb). Vale lembrar ainda que é muito importante desligar o estabilizador de imagem da objetiva enquanto estiver fotografando com a câmera montada no tripé. Isso evita que o motor da estabilização provoque uma vibração indesejada e atrapalhe a captura da cena.


A essencial grande angular
Com toda a tecnologia aplicada em sistemas digitais, atualmente é possível fotografar paisagem noturna com a maioria dos smartphones e câmeras compactas. Alguns equipamentos, é claro, oferecem mais restrições e podem apresentar mais ruídos na imagem do que outros. Entretanto, os especialistas defendem que é possível aproveitar sabiamente os recursos de câmeras mirrorless e DSLRs mais simples disponíveis no mercado, inclusive tirando proveito das lentes que compõem os kits, como a zoom 18-55 mm, que tem boa cobertura angular.
Para ir além ao fotografar paisagens à noite, a objetiva mais recomendada é a grande angular de 14 mm a 16 mm com abertura máxima de f/2.8. Porém, aberturas mais estreitas, como f/8, f/11, f/16, são muito utilizadas por quem é da área devido à maior profundidade de campo oferecida, que é sinônimo de maior nitidez na imagem.
Em fotografia noturna, o foco automático costuma não funcionar na maioria dos casos, pois simplesmente não existe iluminação suficiente para o sistema encontrar um ponto de foco, ou seja, é um tiro no escuro. Mas existem alguns truques para driblar esse problema. Um deles consiste em usar a metragem do foco manual da lente, criando uma estimativa da distância entre a câmera e o local a ser focado no primeiro plano e marcar essa distância no próprio anel de foco da objetiva. Outro truque é iluminar o primeiro plano com uma lanterna potente e aproveitar essa iluminação para fazer o foco.
Pontos que não devem ser esquecidos: fotografar sempre usando o formato RAW para ter mais espaço de manobra nas altas e baixas luzes ao ajustar o arquivo na pós-produção e escolher o balanço de branco considerando a presença de iluminação artificial na cena e o estágio da Lua, que muda conforme passa a noite (ao nascer, por exemplo, o astro emite uma luz muito mais quente). Normalmente, um valor assertivo está entre 3.500 e 5.000 Kelvin.


O elemento humano na cena
Algo que valoriza uma imagem de paisagem noturna é a presença de um elemento humano. Isso ajuda a criar uma identificação com o espectador e ainda cria a noção de espacialidade. Por outro lado, o modelo deve ficar imóvel durante toda a exposição, do contrário não haverá nitidez.
Outro recurso usado por quem é do segmento é levar flash, lanterna potente ou iluminador de LED para produzir efeitos criativos. Mas é preciso cautela para não exagerar. Sutileza acima de tudo para harmonizar a luz desses acessórios com a luz natural do ambiente. O uso de lanterna, por exemplo, para fazer light painting no primeiro plano, pode gerar resultados muito interessantes. Mas é preciso saber combinar intensidade, movimento e duração de exposição da luz da lanterna para atingir o objetivo. Em casos assim, a ajuda de um assistente é bem-vinda, pois permite que o fotógrafo controle a câmera enquanto o assistente “pinta” a cena com luz.
No enquadramento, é crucial ficar atento aos elementos no cenário para ter uma composição harmoniosa. A dica dos especialistas é estudar o ambiente com calma e ter em mente que elementos em primeiro plano tendem a aumentar a ideia de profundidade. Primeiro, pensar no que deseja destacar no primeiro plano, depois compor com os elementos do segundo plano (caso haja) e, por fim, harmonizar tudo com o fundo, onde está o horizonte.
Há muitas possibilidades criativas para fotografar paisagens noturnas, como poderá ser observado nos trabalhos de Cristiano Xavier, Marcelo Portella, Ricardo Takamura e Victor Lima, profissionais especializados no assunto que seguem diferentes linhas de trabalho. Porém, com o mesmo propósito: fotografar belos cenários noturnos, em que o céu e as estrelas merecem especial atenção.

Pintura com luz: Cristiano Xavier

Para o fotógrafo mineiro Cristiano Xavier, o tópico mais interessante da fotografia noturna é aprender a fazer light painting na cena para obter um resultado que vai além do simples registro em longa exposição. Xavier diz que quem deseja se destacar no segmento precisa aprender a trabalhar com as diversas possibilidades da fotografia noturna usando a iluminação artificial. Ele, por exemplo, escolheu usar flashes para criar efeitos nas imagens que faz. Mas, para quem está começando, recomenda o uso de uma lanterna potente para realizar essas interferências. “A fotografia noturna é como uma tela em branco que podemos pintar com luz. O fundo tem as estrelas no céu escuro. Dê a sua contribuição criativa por meio da luz artificial. Ao pintar a cena, o resultado será mais rico e diferenciado”, ensina.
Atualmente, uma tendência na fotografia de paisagem noturna, e que impressiona o observador, é incluir uma parte do cinturão de estrelas da Via Láctea, a galáxia da qual o sistema solar faz parte. Para isso, Xavier costuma usar uma Canon EOS 5Ds com a objetiva 14 mm f/2.8 (luminosa e com pouca distorção). Ajusta ISO 3.200 ou 4.000, que considera o suficiente, e alerta que acima disso o nível de ruído é muito alto e pode deteriorar a imagem, principalmente em câmeras mais simples.
Explica que o foco à noite é a parte mais crítica e dominar a técnica exige bastante prática. Se usar o autofoco é complexo, o foco manual também não é menos difícil, visto que o fotógrafo está na escuridão, em lugares geralmente ermos, bem distantes de cidades, com a melhor luminosidade natural do céu possível. Portanto, o primeiro desafio é encontrar algo no primeiro plano, como uma rocha ou uma árvore, para iluminar com uma lanterna forte e então fazer o foco automático. Assim que o sistema focar, desliga-se o autofoco para realizar a captura.
Outro truque muito comum usado por ele é acionar o liveview da câmera e manualmente dar um zoom na tela, tentando girar o anel de foco até ver o pontinho da estrela bem focado, ou seja, quanto menor o ponto (estrela), mais focado, e quanto maior, mais desfocado.

Entender de astronomia
Conhecer um pouco de astronomia é o pulo do gato para quem quer investir no assunto. Xavier indica que o fotógrafo deve conhecer, no mínimo, as fases da Lua, a posição das estrelas e da Via Láctea. Aliás, é importante lembrar que a Via Láctea tem uma grande diferença de posição entre os dois hemisférios, o norte e o sul.
Fora isso, o especialista diz que é preciso ter conhecimento avançado em aplicativos que são essenciais para mostrar a posição da Via Láctea, assim como a hora que o Sol e a Lua nascem e se põem. Por fim, soma-se ainda um bom planejamento para ir até o ponto escolhido e fazer as fotos.
Xavier ensina que há ainda um ponto de partida de ajuste de câmera para ter resultados diferentes: se a ideia é um registro estático das estrelas, sugere um ISO de 3.200 ou um pouco mais com uma lente luminosa (f/2.8). Já no caso de buscar por imagens de estrelas em movimento (rastros), em que a exposição pode ser de 1 hora ou mais, é importante usar um ISO abaixo de 3.200 para ter mais tempo de exposição e evitar imagens superexpostas.
Mas de nada adianta uma lista de técnicas se o fotógrafo economizar justamente na base da câmera, ou seja, no tripé. Um acessório profissional, de qualidade, pode ser fundamental para gerar uma imagem nítida, mantendo a câmera firme durante a exposição. “Procure investir em um feito com fibra de carbono, que seja leve, fácil de transportar e firme para suportar qualquer vento, pois um pequeno movimento em longa exposição pode levar tudo por água abaixo. Se tiver que escolher, fique com o tripé pesado, mas que seja firme”, explica.


Quem é ele
Cristiano Xavier, 45 anos, é um veterano no segmento. Fotógrafo desde 1997, está à frente da OneLapse Expedições ensinando alunos sobre técnicas de fotografia noturna e light painting em cenários como Mongólia, Noruega e Patagônia. Premiado no Brasil e no exterior em diversos concursos de fotografia, é autor do livro Magna, publicado pela Vento Leste Editora. Para saber mais, acesse: www.cristianoxavier.com.
Experimentações: Marcelo Portella

Marcelo Portella, profissional há 16 anos, leva a paixão pela fotografia noturna tão a sério que modificou a própria Nikon D800E para capturas de espectro completo. Ou seja, mandou retirar um filtro interno da câmera e tem feito experimentos com astrofotografia e infravermelho para ter efeitos de modificação de cores em algumas imagens.
Gosta de produzir algumas imagens de paisagem noturna fora do convencional, como ter a luz da Lua como fonte de iluminação de primeiro plano ou mesmo usar um drone com duas lanternas de LED para ter o mesmo efeito. Ele conta que aproveita as expedições fotográficas que organiza para estimular principalmente a criatividade dos alunos.
Além do equipamento personalizado, Portella usa ainda duas outras Nikon, a D850 e a D810 Nikon, com as lentes 14-24 mm f/2.8 e 24-70 mm f/2.8. Porém, não é só no equipamento fotográfico que está a técnica. Para ele, a fotografia de paisagem noturna está diretamente relacionada em fazer um bom planejamento seguindo o que ele chama de “algumas etapas de ouro”.
Primeiramente, pesquisar o local a ser fotografado, estudando as maneiras de acesso e visitando o lugar durante o dia, o que é primordial na visão dele. O uso de aplicativos como TPE, PhotoPill e Planit Pro são essenciais para visualizar o trajeto da Via Láctea, do Sol e da Lua, assim como os horários que eles estarão visíveis.
Vale sempre consultar a previsão do tempo para saber se é possível realizar a foto planejada e que tipo de vestimenta usar, pois em lugares de frio extremo é necessário estar bem protegido. Outro passo é montar um checklist fotográfico para não esquecer itens importantes.
Outra dica de Portella é avisar sempre alguém quando for sozinho fotografar em algum lugar distante – além de verificar a área de cobertura do celular e levar um kit de emergência (pilhas e baterias extras para lanterna e celular, comida, água, remédios e proteção contra o frio). Manter um plano “B” também é importante. “No começo, pesquise imagens de outros fotógrafos não para copiá-los, e sim para servir como fonte de informação, pesquisa e inspiração”, ensina.


Receita simples
Defensor da ideia de que é possível fotografar a Via Láctea com qualquer equipamento, desde que se tenha um bom conhecimento sobre a técnica, entendendo os recursos e limites da câmera, Portella explica que registrar paisagens noturnas não é nada de outro mundo, basta seguir um passo a passo simples.
Primeiro, montar a câmera em um bom tripé sobre uma área estável. Depois, ajustar o modo manual e, em seguida, desligar o sistema de estabilização da lente (se houver). Escolher o arquivo RAW para ter uma edição de melhor qualidade e usar uma grande angular com o menor comprimento focal (como uma 14 mm).
O tempo de exposição deve ser entre 15s e 30s, dependendo da luminosidade da lente, e o ajuste deve ser mantido na maior abertura possível (como f/2.8). O white balance deve estar ajustado entre 3.500 e 4.500 Kelvin, diz ele. Para evitar que a câmera trema no momento da captura, recomenda disparar a câmera via cabo ou controle remoto. Deve-se fazer um teste, conferindo a composição da cena e o histograma da imagem para evitar imagens subexpostas.

Como fazer foco na escuridão é uma dúvida muito recorrente, o especialista conta que, se houver um assunto em primeiro plano, o foco deve ser feito nele, porém, quando o tema for apenas o céu, o foco é feito no infinito (verifique a posição correta na lente, pois isso varia de acordo com o modelo). “Uma maneira bem simples de fazer o foco em ambientes muito escuros é iluminar o assunto em primeiro plano ou posicionar uma lanterna contra a câmera, usar o sistema de autofoco na área iluminada e depois passar para o manual para travar o foco antes do disparo”, explica.
Outro método usado por Portella é fazer o foco por meio da distância hiperfocal. De uma forma bem simplificada, a distância hiperfocal é a distância de foco que oferece a melhor profundidade de campo, ou seja, a distância em que a maior parte da imagem estará nítida. Segundo ele, é possível encontrar a distância hiperfocal necessária usando uma Tabela DoF (Depth of Field) ou com algum aplicativo, como o PhotoPills, muito mais prático e muito bem ilustrado. Isso permite que se trabalhe de forma mais precisa e prática, obtendo uma imagem nítida do primeiro plano até o fundo.


Quem é ele
No comando da escola Visual Arts Escola de Fotografia e da Dreamscapes Expedições, o fotógrafo e professor Marcelo Portella, 54 anos, começou na fotografia em 1998. Ele cresceu em um ambiente artístico, rodeado de telas de pintura e livros de arte, e desenvolveu um olhar apurado para a fotografia. Fez cursos de Artes Plásticas no MAM e no Parque Lage, no Rio de Janeiro. Portella viaja constantemente para destinos exóticos mundo afora para dar workshops ou comandar expedições. Para saber mais sobre ele, acesse: www.dreamscapes.com.br.
Equilíbrio da Luz: Ricardo Takamura

Aprender a enxergar a tênue iluminação nas paisagens durante a noite e entender o que a câmera vai fazer com essa luz: para Ricardo Takamura, esse é o principal segredo. Segundo ele, é necessário treinar bastante os olhos para fotografar no escuro (o olho humano costuma levar cerca de 15 minutos para se adaptar à total escuridão). O exercício começa em desligar todo e qualquer tipo de luz, inclusive a da tela do celular. Takamura lembra também que é bastante difícil fazer a composição em fotografia noturna – para ele, é literalmente disparar no escuro. Portanto, planejar com antecedência, visitando as locações durante o dia, é um ponto-chave nesse tipo de tema.
A cada ano que passa, o céu fica mais oculto atrás de um manto de luminosidade. Isso é resultado da poluição luminosa das grandes cidades, explica Takamura. “Atualmente já se pode considerar o fato de que um terço da população mundial não consegue mais enxergar o céu estrelado como ele realmente é. Somos uma das últimas gerações que têm a oportunidade de ver a Via Láctea. Acredito que em pouco tempo ela será visível somente em áreas de vazio humano, como desertos, regiões gélidas e no oceano”, explica ele, defendendo a ideia de que a fotografia noturna é uma maneira de documentar algo que está desaparecendo rapidamente.
Para produzir imagens de paisagem noturna com céu estrelado e driblar a poluição luminosa, é necessário ir cada vez mais longe das grandes, médias e até mesmo pequenas cidades. Além disso, o brilho da Lua também costuma atrapalhar bastante esse tipo de fotografia. Portanto, um dos segredos é fotografar em noites de Lua nova, ensina Takamura.
A receita fica ainda mais completa se juntar a isso uma noite sem nuvens, sem poluição e com pouca umidade do ar. Nem sempre é possível conseguir um céu sem nuvens em uma noite de Lua nova, porém, o especialista aconselha a jamais desistir: a dica é usar as nuvens para compor as imagens.


Sem receita pronta
Para produzir imagens noturnas de paisagens com estrelas, Ricardo Takamura informa que um bom ponto de partida é começar com ISO 1.600, trabalhar com objetivas com a mais ampla abertura possível e usar o tempo de exposição próximo de 30 segundos. A partir daí, deve-se reconfigurar a câmera de acordo com a situação.
Segundo ele, não existe uma receita pronta para todas as câmeras, cada equipamento tem um limite de ISO diferente. O tempo de exposição também varia conforme a objetiva. A dica então é usar a regra dos 500: divida 500 pela distância focal da lente que estiver usando. O resultado vai ser o maior tempo de exposição que poderá usar sem que as estrelas risquem o céu. Com uma lente 50 mm, faça a conta: 500 dividido por 50 igual a 10, ou seja, 10 segundos de exposição, este é o tempo máximo para fotografar sem que as estrelas saiam tremidas (riscadas), a não ser que seja essa a ideia, ensina ele.

Para o desafio de fazer foco perfeito, Ricardo Takamura tem seus truques: “Costumo fazer o foco no modo manual e usar algum ponto de luz distante, como uma estrela mais brilhante. Outro truque é fazer o foco durante o dia e depois prender o anel de foco da lente com uma fita e aguardar pela noite. Há os que costumam usar o marcador de infinito da lente, mas, na minha opinião, isso nem sempre é confiável para fotografia noturna”, avalia Takamura.
Para produzir seus trabalhos, ele usa uma Nikon D810 com a objetiva Nikkor 14-24 mm f/2.8 e uma Fuji XT3 com uma Rokinon 12 mm f/2. Entretanto, explica que com os avanços tecnológicos é possível fotografar estrelas até mesmo com alguns modelos de smartphone e
de câmera compacta.
Fazendo coro com os demais especialistas, ele indica que um bom tripé também é fundamental. Takamura sugere os modelos robustos, pois quanto mais pesados, mais estáveis. Por outro lado, inviabilizam saídas que requerem longas caminhadas. Na dúvida, o ideal é ter dois de perfil profissional, um mais leve e outro mais pesado – o fotógrafo usa dois da Manfrotto, um do modelo 055xpro3 (pesa cerca de 2,5 kg) e um do modelo 190cx (1,3 kg), quando precisa fazer longas caminhadas.


Quem é ele
Ricardo Takamura, 42 anos, morador de São José dos Campos (SP), fotografa paisagens noturnas desde 2012 – algo que chamava a atenção dele desde criança, quando morava em um condomínio rural, afastado da cidade, e podia observar as estrelas do quintal de casa. Também desde cedo relaciona-se com a arte, pois ainda bem jovem começou a pintar e a esculpir em madeira. Foi com uma câmera compacta com superzoom que descobriu a longa exposição. Para saber mais, acesse: www.ricardotakamura.com.br.
Documento e arte: Victor Lima

A fusão de imagens em fotografia de paisagem noturna é um tema polêmico. Victor Lima diz que alguns puristas descartam o aspecto artístico e não admitem imagens que não sejam feitas em apenas um clique. Mas, para ele, a fotografia como expressão de arte não deve se prender ao simples ato de documentação. O correto é que o fotógrafo informe sempre o espectador sobre o que ele está vendo, ou seja, fotografia documental ou arte digital.
“Também faço fusões de fotografias com a finalidade de decoração de ambientes, por exemplo, com a venda de impressões fine art. Normalmente, uso imagens feitas em horários anteriores ao anoitecer, em que posso trabalhar com o ISO mais baixo e com isso obter menos ruído. Depois faço a mesclagem com imagens capturadas durante a noite, no mesmo lugar ou não, via Photoshop”, diz ele, que também explica que existem três tipos principais de técnicas de pós-produção de imagens noturnas utilizando mais de uma imagem: stacking (empilhamento), blending (combinação) e composite (composição).
No stacking se faz uma série de imagens da mesma cena, em sequência e no mesmo horário, sem alterar o frame, e depois há o empilhamento dessas imagens para a redução de ruído ou para simular exposições mais longas. Já o blending é a partir de duas imagens da mesma cena em horários diferentes ou então no mesmo horário, porém com exposições diferentes. Em seguida, faz-se a combinação das duas para ter uma imagem mais homogênea em relação à exposição do terreno e do céu. No composite não há regras: pode-se usar uma imagem feita na Itália durante o dia e combinar com uma imagem do céu noturno da Namíbia.
Ensina que sempre vale chegar durante o dia para pensar no enquadramento e na composição da cena. No início do ano, o núcleo da Via Láctea começa a aparecer na linha do horizonte na direção sudeste, no céu noturno perto do amanhecer. À medida que o ano avança, ele vai começando a surgir mais cedo e percorre o céu girando em direção ao sudoeste. No final do ano, começa a aparecer junto ao horizonte na direção sudoeste. “Considerando essa movimentação, cada lugar deve ser estudado para verificar em que época do ano será viável a composição desejada”, explica.


Buscar conhecimento
Para iniciantes que querem se dedicar ao segmento, Victor Lima tem duas dicas principais: estudar conceitos básicos de fotografia e saber usar aplicativos para o planejamento das saídas para produzir imagens. Ele defende a ideia de que, independentemente do equipamento, o fotógrafo que tem uma base sólida nos dois itens citados por ele conseguirá bons resultados em registros noturnos.
A quantidade de ruído em uma imagem capturada com pouca luz está diretamente relacionada com o ISO ajustado, ou seja, quanto maior o ISO, maior a quantidade de ruído, diz Lima. Portanto, deve-se procurar sempre usar um maior tempo de exposição e um diafragma mais aberto para ter um ISO mais baixo.

Imagens em que o fotógrafo usa luz artificial para iluminar o primeiro plano ou em dias de Lua cheia, sem a intenção de capturar as estrelas, podem ser feitas com ISO 800 ou ISO 1.600. Já imagens em situações sem iluminação artificial podem ser capturadas com ISO a partir de 3.200, indica ele. “Existe um modo de redução de ruído de longa exposição que, quando ativado, ajuda no controle de grãos. Porém, ele duplica o tempo de captura, já que faz uma foto com o obturador aberto e outra de mesma duração com o obturador fechado”, explica o especialista.
Lima ressalta ainda que tais recomendações levam em conta exposições de no máximo 30 segundos em modo manual. No caso de exposições maiores, em modo B (bulb), o ideal é reduzir o ISO na mesma proporção de f-stops (pontos de exposição) em que se aumenta o tempo de captura. Sobre o foco, ele recomenda usar o modo manual, desligando o estabilizador de imagem com a câmera no tripé para evitar que o motor de estabilização provoque vibração indesejada e atrapalhe a captura.
Victor Lima informa que seus locais preferidos para fotografar ficam em Mangue Seco (BA), Ilha Grande (RJ), Monteiro Lobato (SP), Cambará do Sul (RS), Chapada dos Veadeiros (GO), Deserto do Atacama, no Chile, e nas Patagônias argentina e chilena. Como equipamento, usa uma Canon EOS 6D com objetiva Canon 16-35 mm f/2.8, tripé Manfrotto modelo 055XProb e lanternas de mão e de cabeça.


Quem é ele
Morador de Salvador (Bahia) e natural do Espírito Santo, Victor Lima tem 44 anos e fotografa há quatro anos. Engenheiro civil de formação, o fotógrafo autoditada comprou a primeira câmera para registrar uma viagem e se apaixonou por fotografia de paisagens. Em 2015 inscreveu algumas imagens em um concurso da National Geographic, que acabou escolhendo uma foto dele para compor a capa da edição especial de fim de ano da NatGeo Traveler. Para conhecer mais sobre o trabalho dele, acesse: @victorlimaphoto.