Quem vê as fotografias do escocês Simon Yeung reluta em acreditar que ele esteja há apenas quatro anos no ramo: as imagens – que retratam obras arquitetônicas do presente e do passado – revelam uma combinação de olhar apurado e conhecimento técnico que muitos demoram a encontrar.
“Sempre gostei de fotografia, mas passei a levar mais a sério perto de 2015, quando comprei minha primeira câmera com sensor full frame e comecei a retratar lugares abandonados”, conta. À época, estava de passagem pela França para visitar a irmã. Começou a procurar points fora dos roteiros mais comuns para clicar e acabou se deparando com a linha ferroviária desativada que percorre Paris. Embarcou numa viagem sem volta.
De lá para cá, o tema tornou-se central no portfólio do fotógrafo de ascendência chinesa de 40 anos de idade – para comprovar, basta uma rápida passagem pela conta dele no Instagram (@irnmonkey). As imagens – que vão desde uma antiga casa de banhos na Romênia até uma finada usina elétrica na Hungria, passando por igrejas centenárias nos Estados Unidos – podem ser consideradas um tanto lúgubres, mas, para Yeung, constituem uma espécie de fuga da realidade. “A parte mais especial de registrar lugares abandonados é que vejo coisas que a maioria das pessoas nunca consegue ver ou experimentar. Às vezes, parece que estou entrando em outro mundo”, relata.



Volta ao mundo em busca de cenários
A paixão é tamanha que, durante seis meses em 2018, ele passou viajando por Europa, América do Norte e Ásia exclusivamente para clicar lugares abandonados. Foram mais de 100 cenários. Nos últimos três anos, Yeung diz ter visitado cerca de 40 países com esse fim – a maioria das locações, garante, são “achados” da internet. Algumas outras surgem espontaneamente pelo caminho. Já apontar uma foto preferida é difícil: “Seria como escolher um filho predileto. Mas considero as que estão no meu site (irnmonkey.com) como as mais especiais”.
Simon Yeung é gerente de restaurante em Glasgow, Escócia, e atualmente viaja apenas nas férias e feriados. A maior parte dos perrengues para a série que produz, segundo Yeung, se concentra na própria natureza dos locais fotografados. “Minha maior preocupação sempre são os pisos dos lugares que foram abandonados há muito tempo. Revestimento de madeira com infiltração costuma ser uma combinação muito perigosa”, detalha. Buscar a melhor luz também entra na lista dos desafios constantes. “Fazer boas fotos de cenários ao ar livre depende muito de um tempo bom. A iluminação pode ser uma questão difícil, especialmente quando o edifício já não tem mais teto e lá fora faz muito sol”, comenta.
Além disso, o próprio acesso às construções abandonadas costuma ser um desafio. “Tenho que subir em telhados, o que não é a coisa mais fácil para mim, que não gosto de altura. Já dentro dos prédios, preciso encontrar os melhores cômodos e prestar atenção para não cair em pisos que possam ceder”, diz.


Equipamento e planos futuros

Atualmente, Simon Yeung trabalha com uma mirrorless Sony A7R III acompanhada de uma zoom Sony FE 16-35 mm f/4 e uma supergrande angular Voigtlander 12 mm f/5.6. Usa também um tripé para manter um alinhamento correto na composição e para poder fotografar em baixa velocidade. Dispara três vezes em cada cena, fazendo exposições para uso de HDR (Hight Dynamic Range), captando alta, média e baixa luzes. A pós-produção fica por conta dos tradicionais Photoshop e Lightroom.
Apesar do pouco tempo de estrada, Yeung coleciona episódios inusitados na sua busca pelo clique perfeito. “De longe, a coisa mais engraçada que me aconteceu dentro de uma construção abandonada foi passar por um guarda desavisado enquanto ele estava sentado, usando o vaso sanitário”, relembra. “A mais louca foi ter deslocado meu ombro numa queda e depois ser obrigado a escalar quatro cercas para sair do prédio em segurança. Felizmente, havia cinco amigos para me ajudar”, conta.
Entre o portfólio online e a conta no Instagram, diz que a página na rede social é a que mais ajuda na hora de divulgar os trabalhos. “Adoro a forma como você pode construir conexões e relacionamentos por lá e conhecer pessoas com os mesmos interesses”, detalha. E, graças às fotografias de lugares abandonados, Yeung afirma ter se interessado, mais recentemente, por registrar obras da arquitetura moderna – especialmente de nomes como o espanhol Santiago Calatrava e da iraquiana-britânica Zaha Hadid: “É algo que pretendo explorar no futuro”, planeja.

