Primeira SLR de uso profissional da marca, a F-1 foi lançada em 1971 com uma série de inovações em um corpo de altíssima resistência. Confira
Hoje a Canon é marca dominante no fotojornalismo e em outras áreas profissionais na maior parte do mundo, mas nos anos 1970 a realidade era bem diferente. A grande guinada da marca ocorreu em 1971, a partir do lançamento da F-1, a primeira SLR profissional da Canon, fruto de cinco anos de muito investimento para desenvolver um modelo que seria chamado de “tanque de guerra” pelos consumidores, unindo avanço tecnológico e resistência.
A Canon já produzia boas câmeras reflex mecânicas de 35 mm nos anos 1960, como a Pellix (com um inédito espelho fixo semitransparente) e os modelos mais vendidos FT, TL e TX. Mas, apesar de deter tecnologia para produzir ótimas câmeras SLR para entusiastas, faltava um modelo profissional – como a Nikon F, lançada em 1959 e que havia se tornado um ícone no fotojornalismo (veja na edição 271).
O mercado clamava por uma iniciativa para o segmento profissional, e a Canon gastou muito dinheiro, tempo e energia para chegar à F-1 – o equivalente ao que seria necessário para desenvolver pelo menos 10 câmeras convencionais, segundo a própria empresa. Curiosamente, o lançamento do novo modelo coincidiu com o início das vendas da Nikon F2. Como a rival, a F-1 também tinha visor removível e aceitava motor-drive, os principais diferenciais em relação às câmeras SLR comuns da época.

Vantagem no fotômetro e no motor drive
A Canon F-1 tinha algumas características superiores à Nikon F2: o fotômetro era mais sensível e de resposta mais rápida, com duas células CDS que vinham embutidas no corpo da câmera (e não no visor), o que mantinha a medição de luz independente do visor usado. Já o motor-drive era mais avançado: fazia 3,5 fotogramas por segundo, com comando de disparo elétrico, diferente dos motor-drives MD 1 e 2 da Nikon F2, em que a velocidade do avanço deveria ser pré-ajustada para não “explodir” a câmera por falha no sincronismo de ações.
Diante um concorrente também com novos conceitos tecnológicos, a Canon F-1 se destacaria pela qualidade de fabricação: foi a primeira câmera produzida por máquinas industriais controladas por computador, grande novidade para a época. O modelo era montado com 240 peças, e a uniformidade da produção vinha da checagem eletrônica em 60 pontos vitais.

Para avaliar a resistência dela, a Canon a submetia a testes de estresse de 100 G (força de gravidade), valor considerável. Além disso, o corpo de metal não se deformava no tórrido calor do deserto nem no frio de arrepiar da neve – poderia ser operada a 60 oC e a -30 oC. Outro ponto de destaque eram as objetivas de baioneta FD, que não precisavam ser giradas para o encaixe, o que se fazia somente no anel. Como não havia atrito no encaixe, desgastes eram menores, assegurando a precisão das lentes por muitos anos.
Titânio usado pela primeira vez
Um componente inovador foi a cortina do obturador, de deslocamento horizontal, feita em titânio – material totalmente novo na ocasião, introduzido pela F-1. Diferentemente das cortinas de tecido ou emborrachadas, era muito mais resistente e podia aguentar até 100 mil ciclos (disparos) – número recorde para a época.
Para instalar o motor-drive, era preciso remover completamente a tampa inferior da câmera. Mas isso não requeria chave de fenda. Bastava retirar a pequena tampa da bateria, o que também soltava o encaixe do lado oposto. Em 1972, a F-1 já tinha um motor de altíssima velocidade, com capacidade de 9 disparos por segundo, o que mudou a cobertura esportiva nos Jogos Olímpicos de Munique, Alemanha, naquele ano – iniciava-se aí a grande reputação e o domínio da Canon no fotojornalismo esportivo, algo que persiste até hoje.
Para remover o visor, era preciso pressionar dois pequenos pinos nas laterais que permitiam deslizá-lo para fora da câmera. Como outras câmeras com visor removível, o flash podia ser instalado na lateral direita, sobre o botão de rebobinar, via adaptador. Porém, na F-1 havia um inédito acessório que se encaixava sobre o engate (na base do rebobinador) e levava a conexão hot shoe para cima do visor. Esse adaptador fazia parte de uma enorme série de acessórios (cerca de 200) e objetivas (por volta de 50) disponíveis para ela.
Seguindo a promessa da Canon, a F-1 foi vendida durante 10 anos sem receber modificações. Somente em 1983 ganharia uma sofisticada versão eletrônica, mas mantendo a mesma denominação F-1, com o apelido (não oficial) New. Poucos anos depois, ela seria superada por uma nova safra de SLRs eletrônicas profissionais automáticas da marca, como a A1 Program (1978), a T 90 (1986) e, finalmente, a geração EOS com autofoco.
