Força, beleza, elasticidade, flexibilidade e equilíbrio mesclados a um conjunto de luz expressivo dão origem a imagens em P&B de ações congeladas em que corpos atléticos se impõem como tema. Essa é uma forma resumida de definir o trabalho autoral que vem sendo executado desde 2013 pelo conceituado fotógrafo curitibano Manoel Guimarães.
O projeto Corpos começou quando ele foi procurado pela acrobata Fernanda Jorge (atualmente diretora da Escola de Circo no Paraná) para realizar um ensaio pessoal. Aproveitando-se das habilidades de Fernanda, Guimarães apostou na ideia de fotografá-la fazendo acrobacias em uma cama elástica.
A partir desse trabalho, a mente do fotógrafo começou a idealizar novas possibilidades com outras modalidades atléticas para incluir performances aéreas, no solo e até aquáticas. Hoje, ele já soma cerca de 40 ensaios.
Guimarães conta que o maior desafio do projeto é criar algo inusitado e que ao mesmo tempo valorize a anatomia corporal, a luz e a habilidade de cada atleta. “A princípio, o objetivo era apenas desenvolver meu olhar sobre os atletas fotografados em ambiente de estúdio com luz controlada, sem o viés erótico, e sim com propósito estético e escultural. Entretanto, depois desses anos todos reunindo material, é bem provável que vire um livro de arte”, conta ele.


Em busca de modelos sob medida
No início, Guimarães não sabia como e onde buscar novos modelos para os ensaios. A única certeza que tinha era a de ir ao encontro de atletas com um perfil estético não musculoso demais, mas com corpos bem definidos e com habilidades, como a flexibilidade, e de pertencer a modalidades pouco exploradas pela grande mídia, como acrobatas, bailarinos e ginastas.
Foi preciso fazer muita pesquisa na internet e receber várias indicações de quem sabia o que ele procurava para conseguir encontrar o perfil ambicionado. Para isso, bateu em portas de academias, centros de danças e escolas de circo. No começo da captação, mesmo sendo um profissional renomado em Curitiba (PR), ele encontrou dificuldades. Com pouco material para mostrar, precisava explicar detalhadamente o projeto para os candidatos para “vender” a ideia e convencê-los a posar.
Conforme conseguia fotografar um atleta, outros ficavam sabendo, gostavam do trabalho e chegavam a ele na base da indicação. Foi com dedicação e ajuda de amigos que Guimarães conseguiu reunir uma lista de modalidades diferentes no projeto, como ginastas olímpicos das categorias artística e rítmica e atletas de nado sincronizado, além de bailarinos, ciclistas, artistas circenses, skatistas e praticantes de pilates e yoga. Em troca do uso de imagem para Corpos, cada participante recebeu de presente todas as imagens digitais em um pendrive.

Material de apoio
No estúdio de 150 m² que ele mantém em Curitiba, o fotógrafo costuma suspender tecidos de suplex para que os atletas façam acrobacias aéreas durante o ensaio. Também conta com um trapézio colocado no teto para o mesmo princípio. Outro recurso é deixar o suplex em cima de um colchão ou cama elástica, incentivando os modelos a pularem para criar movimento no tecido. Barras de polidance e de academia, além de cubos de madeira, também fazem parte do acervo do estúdio e ficam disponíveis para que os atletas possam usar durante a sessão de fotos.
Manoel Guimarães explica que todas as imagens são captadas em fundo infinito, com algumas exceções, como na série aquática, em que ele usou a pequena piscina que tem no estúdio para fotografar algumas atletas do nado sincronizado. Nela, também gosta de submergir tecidos de suplex, que acabam tendo a função de fundo e ao mesmo tempo de acessórios de interação para os atletas.
Uma peculiaridade evidente na maioria das imagens captadas para o projeto é o isolamento dos rostos dos atletas. Segundo o fotógrafo, essa ação é essencial para que o olhar se volte apenas para os corpos e os movimentos flexíveis dos modelos. Já o figurino é outra preocupação para que os corpos fiquem ainda mais em destaque. Normalmente, ele opta pelo nu ou, no caso das mulheres, tops e peças de hotpants (shorts mais curtos, que lembram as calcinhas vintage) e, no caso dos homens, sunga ou shorts.

Uma iluminação contrastante
Guimarães diz que realiza aproximadamente mil cliques por sessão, aprovando no máximo dez imagens. Os ensaios são feitos com câmera Canon EOS 5D Mark III e a lente 50 mm. Ele capta as imagens em cor e as converte para P&B no Photoshop usando um plugin da Nik Colection.
Para conseguir o resultado de atletas e tecidos em movimentos congelados, ele usa velocidades altas do obturador (1/160s ou 1/250s). O fotógrafo lembra que a velocidade do obturador depende muito da velocidade do assunto registrado, e nesse caso os movimentos são leves e moderados, diferente de congelar o movimento de um carro de Fórmula-1, que precisaria de velocidades muito mais altas que 1/250s (geralmente acima de 1/1.000s).
A ideia é produzir o ensaio usando muito contraste, o que favorece o volume dos corpos atléticos e dá ênfase a eles. Para isso, Guimarães ilumina os ensaios com dois tipos de luz: uma suave, feita com um softlight de tamanho 40 x 140 cm totalmente na lateral e em ângulo de 45 graus; e uma luz dura, vinda de um refletor parabólico colocado na contraluz.
Nas imagens feitas com fundo infinito, a cor é sempre o branco, mas como não há iluminação direcionada para ele o resultado é cinza. Como o estúdio de Guimarães é grande, a iluminação se espalha pelo ambiente, criando efeitos bem diferentes do que se fosse realizada em um estúdio menor. “Como o trabalho está em andamento, ainda estou aberto a receber mais candidatos para o projeto”, comenta o fotógrafo. Para quem se interessar ou para saber mais sobre o trabalho do fotógrafo, acesse: www.manoelguimaraes.com.br.
