Os cariocas Marcelo Portella, 53 anos, e Wander Rocha, 51, o paulista Emerson Murakami, 52, o paranaense Renato Machado, 49, e o gaúcho Jorge Diehl, 52, fotógrafos talentosos e experientes, têm algo em comum além de serem especialistas quando o tema é paisagem: são leitores de Fotografe há anos e já participaram de seções como “Revele-se”, “Portfólio do Leitor” e “Lição de Casa”, além de concursos organizados pela revista.
A redação quis saber deles detalhes como planejamento para fotografar, como fazer uma imagem diferente, se usam regras de composição, como veem o elemento humano na paisagem, que equipamentos usam e que ajustes fazem na pós-produção. Em vários pontos, eles têm posições muito parecidas. E há uma unanimidade: todos capturam as imagens em formato RAW. Veja a seguir o que os cinco fotógrafos responderam, conheça um pouco do trabalho de cada um e inspire-se neles.
MARCELO PORTELLA
Planejamento
“Preparo meu calendário de acordo com as características de cada destino, sempre tentando evitar a alta temporada. O uso de ferramentas como TPE, Photo- Pills, Planit!Pro, Google Maps, entre outros, facilita muito o planejamento fotográfico para cada localidade. Além de aumentarem a produtividade, garantem que fotografemos em segurança e com margem para planos alternativos, o famoso Plano B.”
Fazer diferente
“Busco o diferencial estudando, pesquisando novos equipamentos e acessórios tecnológicos, assistindo a exposições e vendo trabalhos de outros fotógrafos. Mas, acima de tudo, experimentando a minha maneira de olhar o mundo pelo visor e as possibilidades que ele oferece, pois as ofertas são as mesmas para todos.”


Pós-produção
“Capturo em RAW sempre e uso o Lightroom para deixar a imagem, no geral, 90% pronta: módulo básico com destaque para claridade e vibração. Raramente uso o desembaçar e quase sempre o correção de lente. Também trabalho o detalhe usando bastante a máscara, e com frequência o filtro graduado. Já o Photoshop entra em cena para retocar manchas, uso dodge & burn e aumento de contraste de forma mais localizada com camadas e máscaras para não perder detalhes na sombra e na alta luz.”
Regras de composição
“Acho que tempo e experiência criam, de forma instintiva, as nossas regras de composição particulares. Mas tenho buscado quebrar as minhas próprias, por exemplo, trocando uma lente que normalmente utilizaria por outra.”

Equipamento
“Uso a Nikon D850, a Nikon D800E full conversion para experimentalismos e uma Mavic Pro. Entre as lentes, Nikkor 14-24 mm f/2.8, 24-70 mm f/2.8, 80-400 mm f4.5/5.6, 20 mm f/2.8 e teleconverter 1.4x; e ainda a Sigma fisheye 7 mm; dois tripés Gitzo e sistema Pan RRS.”
Elemento humano
“Nem sempre uso o elemento humano na paisagem e não sinto essa necessidade na minha fotografia. Sou atraído pela natureza bruta.”
EMERSON MURAKAMI
Fazer diferente
“O jeito mais simples de se fazer algo diferenciado é fotografar um local desconhecido. Mas mesmo um local desconhecido pode ser descoberto e outros fotógrafos podem aparecer com imagens similares. Por isso, quando saio para fotografar, tenho uma espécie de mantra: ‘Preciso fazer uma foto diferente e que seja difícil de ser copiada’. A diferença na fotografia de paisagem vem de um conjunto de elementos que terão influência: procurar lugares pouco visitados, estações do ano que possam criar um outro cenário e trabalhar em horários em que a maioria não fotografa. Gosto de criar imagens com muita simplicidade e com o mínimo de elementos possível, apenas o essencial, pois acredito que a beleza está na simplicidade.”

Equipamento
“Nikon D850 por ser uma full frame e pelo tamanho da imagem que cria (cerca de 46 MP). Fora isso, ela oferece um Dynamic Range (alcance dinâmico, ou seja, a diferença entre as áreas claras e escuras) muito bom, facilitando o processo de pós-produção – o tamanho da imagem é importante para que eu possa imprimir em grandes formatos. Quanto às lentes, uso as mais luminosas, a 24-70 mm f/2.8, mas não deixo que a objetiva interfira no meu processo criativo. Se achar que apenas o pico da montanha iluminado pela primeira luz do amanhecer é a parte mais atraente da cena, não vou deixar de usar a tele de 400 mm, por exemplo. Entre os acessórios: tripé, disparador e filtros de densidade neutra (para as capturas de longa exposição) e degradê (para os momentos de grande diferença de luz, como o nascer do sol e a sombra que se forma em uma montanha).”
Pós-produção
“Divido a fotografia em três etapas: captura, pós-produção e impressão. Quanto melhor for o trabalho de uma etapa, mais fácil ficará a próxima, ou seja, se a captura for feita com qualidade, facilita a pós-produção e consequentemente a impressão, pois é nessa hora que as imperfeições de uma imagem aparecem de forma amplificada. A qualidade da imagem é o resultado do equipamento, do momento do clique e da pós-produção. Faço tudo em RAW e, na pós-produção com o Lightroom, procuro melhorar os pontos positivos e corrigir as imperfeições, como áreas que por ventura tenham ficado muito escuras ou muito claras, alguma sujeira causada pela lente, além de alguns ajustes de enquadramento e de proporção.”
Elemento humano
“No meu trabalho, o elemento humano vai se inserir por meio da observação. Procuro criar imagens que conquistem o olhar do observador e o convide a explorar os detalhes daquele ambiente. Muitos fotógrafos de paisagem utilizam o elemento humano como forma de escala para dimensionar o tamanho da cena. Prefiro que tudo fique na imaginação, para que cada olhar crie a sua maneira de decodificar a minha foto.”


Planejamento
“A programação deve ser feita por meio de um extenso e detalhado planejamento. Dedico cerca de 25% do tempo planejando as viagens. Procuro descobrir a melhor estação do ano para fotografar, a previsão do tempo para os dias que pretendo trabalhar, a fase da lua, além de pesquisar roteiros, mapas, distância entre os locais de fotografia e os de hospedagem, meios de transporte e vários outros aspectos necessários para que haja um bom cenário.”
Regras de composição
“Não me preocupo com regras de composição quando estou procurando por uma cena, mas talvez por já tê-las intrinsicamente no cérebro. Certamente elas acabam influenciando a captura, mas honestamente esta não é uma preocupação que tenho, pois gosto de me sentir livre para criar
WANDER ROCHA
Planejamento
“Um bom fotógrafo de paisagens tem sempre que estar muito atento às informações relacionadas a previsão de tempo, fases da lua, nascer e pôr do sol, posicionamento de astros e outros detalhes. Além disso, dependendo do tipo de fotografia, saber quais equipamentos deverão ser levados.”
Equipamento
“A câmera principal é a Nikon D700 full frame. E para o tipo de fotografia que faço é imprescindível ter um bom tripé (se possível, com um ball head), lentes do tipo supergrande angular (tenho uma Nikkor 24-85 mm f/2.8-4 e uma Sigma 10-20 mm f/4-5.6), filtros polarizador e de densidade neutra, lanternas e um disparador remoto.”

Elemento humano
“O elemento humano pode ser o diferencial na hora de fotografar. A inserção dele ajuda e modifica a leitura da imagem. Dependendo da foto, ele também serve para demonstrar proporcionalidade em relação à paisagem, como no caso de um homem perante a grandiosidade de uma montanha, de uma árvore ou de um céu estrelado. Outro detalhe que considero bastante pertinente é a não direção de elementos humanos para esse tipo de foto. Prefiro a espontaneidade. Já perdi algumas boas fotos por não gostar de montar cenas. Questão pessoal.”
Fazer diferente
“Procurar o diferencial é um desafio. Creio que o uso de técnicas avançadas, como zooming (puxada de zoom) e light painting (pintar com luz), em conjunto com uma bela composição, pode ser um caminho. A inserção do elemento humano, ou um animal ou um objeto, também pode ser uma forma de obter algo a mais na fotografia de paisagem. Procuro nunca deixar de eleger um assunto principal na composição para que não fique confusa e sem sentido. Uso e abuso da profundidade de campo para evitar uma foto plana, sem perspectiva. O ideal é que o olhar do observador percorra toda a imagem, sem grandes interrupções. E, o mais importante, estudar o ambiente. O fotógrafo de paisagem deve ser paciente, caminhar, observar a luz, verificar pontos estratégicos, possíveis composições e enquadramentos. Fotografia e observação andam de mãos dadas.”


Pós-produção
“Acho importantíssimo que o fotógrafo de paisagem execute a sua pós-produção, pois somente ele sabe exatamente a luz, as cores e os contrastes do momento do clique. Capturo sempre em RAW e uso o Lightroom na maioria das vezes e, para pequenos ajustes, o Photoshop e o Nik Collection. De um modo geral, dependendo da imagem trabalhada, ajusto equilíbrio de branco (às vezes para dar um tom artístico), exposição, contraste, claridade, vibração e saturação. Não sou purista e acredito que a pós-produção é parte importantíssima no processo da criação da imagem.”
Regras de composição
“Uso sempre, mas com o passar do tempo as regras de composição são incorporadas automaticamente no ato do enquadramento. Torna-se natural. Mas nunca abandono meu feeling. Testar nunca é demais.”
JORGE DIEHL
Pós-produção
“Para arquivar e catalogar as imagens, uso o Lightroom. Assim, a importação e inclusão de palavras-chave é toda feita nesse programa. A captura sempre é em RAW pelas vantagens que o formato permite, e na pós-produção tenho o seguinte fluxo: ajustes básicos no Lightroom (WB, exposição, sombras, altas luzes, brancos, pretos etc.) e finalização da edição no Câmera Raw e no Photoshop. Nesses dois programas, dispenso mais tempo na edição: uso de camadas, máscaras, transformação da imagem, mesclagem e limpeza. No caso de conversão para P&B, gosto de utilizar o Silver Efex.”
Regras de composição
“Procuro seguir as regras que são exaustivamente utilizadas, como incluir na cena um primeiro plano e a regra dos terços, pois acho que com elas há mais chance de se fazer uma bela foto. Mas existem outros fatores que merecem atenção: a condição da luz; como você irá captar o movimento da cena; que elementos incluir ou excluir do enquadramento; que técnica usar para captar as diferenças de luz que incidem na cena, ou seja, uma foto será suficiente para captar aquela luz ou você irá mesclar várias fotos? Claro que com o tempo e a experiência você saberá que situações podem render uma foto melhor do que a outra.”

Fazer diferente
“A boa fotografia sempre irá se destacar e é basicamente isso que busco: fazer boas imagens. Mesmo um local muito fotografado pode render belas cenas. O desafio na fotografia de paisagem é conseguir transmitir uma sensação, emocionar. Esse é o diferencial.”
Elemento humano
“É importante para você dar a ideia de dimensão ou grandiosidade de uma paisagem. O exemplo é quando você quer mostrar que o homem é muito pequeno em relação à natureza. Por sua vez, em alguns tipos específicos de fotografia de paisagem ou outdoor, o elemento humano é um componente essencial, como nas cenas de montanhismo.”


Equipamento
“Duas câmeras Nikon, D810 e D500. A mais requisitada para paisagens é a D810 por diversos motivos: é full frame, produz um arquivo maior, o Dynamic Range (alcance dinâmico) é mais elástico, o ruído é menor e porque minhas objetivas são para baioneta FF. A D500 uso com mais frequência para fotografar vida selvagem e em situações com movimento por ser uma câmera mais rápida. Tenho tripés Manfrotto e Benro, filtros (ND, ND graduado, polarizador e stop 10) e cabeça nodal Ninja 4 (para imagens panorâmicas).”
Planejamento
“Procuro fazer viagens para locais que possam render boas fotos, como Chapada dos Veadeiros e região no entorno de Brasília (DF), onde moro. Também já participei de expedições fotográficas para o Pantanal, Bolívia, Patagônia e Jalapão.”
RENATO MACHADO
Elemento humano
“A fotografia de paisagem normalmente é um momento intimista e solitário. Quando estou só, me insiro em algumas composições para dar em alguns momentos a noção da amplitude da paisagem. Quando estou acompanhado e é preciso usar o elemento humano, busco inseri-lo com aquele ar de contemplação da cena.”
Pós-produção
“Sempre capturo em RAW e faço a pós-produção com o Lightroom, o Photomatix para HDR e o Photoshop, mas apenas para remoção de manchas ou algum item indesejado na composição. No meu fluxo padrão aplico ajustes de sombra e realce; ajustes de claridade; ajustes na temperatura de cor, principalmente quando uso filtro ND; ajustes de cor (maior intensidade), além de ajustes locais de realce e claridade para destaque de luzes direcionadas; e como grande angular aplico a correção dos efeitos da lente. Em alguns casos, quando a foto em RAW não transmite profundidade ou equilíbrio de cores/luzes, faço uma simulação de HDR a partir de três cópias da imagem original em exposições -1, 0 e +1. O resultado muitas vezes é surpreendente e elimina parte de um grande esforço de pós-produção de uma foto inicialmente perdida.”

Fazer diferente
“O resultado está ligado a dois grandes fatores: o lugar que será fotografado e o estado de espírito do fotógrafo naquele momento. Prefiro ser mais livre nas minhas capturas. Acho que as regras e as práticas servem como guia, porém, cada momento exige um olhar diferente. Nem tudo que você vê a câmera captura. A foto nasce no campo e termina no computador. Muitas vezes ficar totalmente travado nas regras e técnicas inibe a criatividade. E, por mais que a fotografia de paisagem seja uma área clássica, a tecnologia permite levar o resultado a patamares nunca vistos nessa arte.”
Equipamento
“Trabalho com dois equipamentos, sendo que o principal é a full frame Canon EOS 5D Mark II com as lentes Canon 17- -40 mm e uma 24-105 mm. Como segundo corpo, levo o modelo EOS 60D, mais utilizado em fotos em que preciso do monitor retrátil em virtude do ângulo ou da posição. Com ela uso apenas zoom grande angular Sigma 10- -20 mm. Tenho ainda dois tripés Manfrotto, o 290 Xtra, mais reforçado e grande por causa da minha altura (1,96 m) e um compacto. Como acessórios, um conjunto de filtros gradual e ND das marcas Lee e Walkingway.”


Planejamento
“Faço pesquisas antes das viagens, levanto os dados mais relevantes e procuro monitorar o clima em aplicativos, assim como a quantidade de nuvens no momento e no local em que pretendo fotografar.”
Regras de composição
“Normalmente uso as regras mais consagradas, pois acredito que a assimetria torna a foto mais real. Porém, às vezes deixo as regras um pouco de lado.”
Matéria publicada originalmente em Fotografe Melhor 270