José Fujocka, 51 anos, é o nome por trás da marca Fujocka Creative Images, um dos estúdios de tratamento de imagens mais conceituados do Brasil. Mineiro de Uberaba radicado em São Paulo (SP) desde 1988, ele entrou no nicho da pós-produção no início dos anos 1990, quando abriu o laboratório Oficina da Fotografia. Já naquela época começou a usar o Photoshop e se especializou em tratamento digital.
A demanda de trabalho para o mercado publicitário o levou a abrir em 2002 o estúdio de pós-produção digital que leva seu nome. De lá para cá, as mudanças proporcionadas pela revolução digital foram enormes, principalmente para o tratamento de imagens coloridas.
Apesar de ser um especialista em campanhas publicitárias, nos últimos anos ele tem realizado cada vez mais trabalhos de tratamento de cor diretamente para fotógrafos renomados, como Araquém Alcântara, Miro, André Penteado, Iatã Cannabrava, João Farkas e Claudia Jaguaribe – geralmente voltado à preparação de livros e exposições. Esse tipo de atuação é muito mais livre do que no mercado publicitário e depende de uma interação muito próxima com o autor para buscar em conjunto o melhor tipo de abordagem.
Fujocka afirma que é trabalho que exige muito mais dedicação e entendimento, pois na maioria das vezes os pedidos são muito subjetivos. Por isso, segundo ele, quando um fotógrafo encontra um parceiro de tratamento de imagem dificilmente vai querer fazer o trabalho com outro profissional. “Nesse caso, a confiança e a liberdade de diálogo é mais importante do que o valor cobrado”, avalia.
Esse maior envolvimento direto com fotógrafos acabou influenciando José Fujocka a criar em agosto de 2018 a livraria e editora Lovely House, com sede na Galeria Ouro Fino, na famosa Rua Augusta, região dos Jardins, com o intuito de colaborar para a difusão da arte e de publicações de fotografia, tendo como sócia sua mulher, a designer gráfica Luciana Molisani – veja os detalhes no site lovelyhouse.com.br.

A cor no digital
A durabilidade e a estabilidade estimadas de filmes e papéis fotográficos coloridos da era analógica eram bastante inferiores aos materiais P&B. Com a era digital, a evolução dos computadores e monitores, dos softwares de tratamento de imagem e de gerenciamento de cores, o controle do fluxo tornou-se muito mais completo. O arquivo digital não se deteriora, embora também precise ser armazenado de maneira adequada, e as impressões a jato de tinta pigmentada em papéis fine art têm durabilidade estimada em até dois séculos pelos fabricantes.
Fujocka explica, no entanto, que a questão da durabilidade ainda é um debate em aberto entre os profissionais da impressão. “Por mais que os pigmentos tenham evoluído e sejam vendidos com garantia de longa durabilidade, sabemos que essa ainda não é uma realidade. Com certeza a diferença de durabilidade entre um print analógico e um digital é brutal. O digital trouxe uma estabilidade bem maior para o tempo de vida de uma cópia fotográfica, mas mesmo assim ainda não há garantia de que uma cópia vai durar 30 ou 100 anos. Tudo depende das formas de armazenamento, exposição à luz, umidade e também da qualidade dos produtos usados”, esclarece.
O desenvolvimento dos softwares de edição, cujo marco foi o lançamento do Photoshop, em 1990, pela Adobe, ampliou em muito as possibilidades de ajustes e ganhos na imagem e também trouxe recursos para manipulações mais profundas, como a fusão de fotografias e a mescla com ilustração. “Praticamente não temos limite hoje em dia. Podemos criar quase tudo que imaginamos no computador”, assegura o especialista.
A popularização dos recursos de edição digital ao longo dos anos recentes teve impactos no mercado de pós-produção, causando um rebaixamento dos preços. “Todo serviço que tem o software como base para sua execução sempre estará correndo o risco de ser banalizado em algum momento. Nosso estúdio ficou muito conhecido quando fizemos algumas campanhas onde tínhamos que envelhecer as pessoas. Parecia ser algo impossível de fazer naquele momento. Hoje um aplicativo de celular faz esse trabalho em segundos e o resultado fica bem melhor”, compara.


Mercado em mutação
O estúdio Fujocka Creative Images começou atendendo principalmente ao mercado de embalagens de alimentos. Depois, passou ao nicho da moda, atendendo às principais marcas de roupas do Brasil. Chegou a ter uma equipe fixa de 15 pessoas entre 2006 e 2012. Em anos recentes, as campanhas de lançamento de novas coleções tiveram seus orçamentos reduzidos, o que levou a uma reestruturação do estúdio. “Em 2017, fizemos uma transição para uma estrutura enxuta. Somos quatro sócios, com responsabilidades iguais, e dividimos os trabalhos conforme o conhecimento e a experiência de cada um”, diz ele.

Os trabalhos do estúdio ficaram concentrados em campanhas mais complexas, já que o mercado se pulverizou e as demandas mais simples passaram a ser resolvidas pelos próprios fotógrafos ou pelas agências de publicidade. As criações do estúdio para campanhas de grandes empresas geralmente envolvem a criação de imagens baseadas no aspecto lúdico, com uso de ilustrações em 3D e muitas fusões.
“A fotografia é só mais um mercado que está tendo que se adaptar. Hoje em dia um cliente se sente muito mais atraído quando vê uma campanha humanizada do que quando olha para uma foto superproduzida com uma mensagem totalmente fora da sua realidade. Muitas vezes pedir para uma atriz famosa fazer um selfie usando uma determinada marca e postar nas redes sociais dela traz muito mais retorno para a marca do que chamar a mesma atriz e produzir uma foto em estúdio”, constata.
RAW o salva-vida
José Fujocka lembra que um arquivo em formato RAW é o grande segredo para corrigir erros de temperatura de cor ou de exposição, podendo salvar uma imagem. Aqui ele mostra um exemplo de ajuste errado. Abrindo o Câmera RAW do Photoshop, foi possível acertar a temperatura de cor para um tom mais quente, diminuir um pouco o contraste por causa da diferença entre claro e escuro, buscar detalhes da alta luz diminuindo os comandos Highlights e Whites e buscar detalhes nas áreas de sombras através de Shadows. É possível trazer mais brilho nas altas luzes aumentando o Clarity e, por último, acrescentar um pouco de vibração nas cores por meio do Vibrance – que nunca pode ser exagerado para não estourar as cores.



Cor de cinema
Um ajuste que José Fujocka gosta muito de usar e que nem sempre os fotógrafos usam é o Balanço de Cores. Ele é a essência dos ajustes feitos em um laboratório analógico colorido, diz o especialista. Nesse processo, são usadas cores complementares para dar equilíbrio ou acentuar um tom na imagem. Com essa ferramenta é possível corrigir também um desvio de cor, diz ele.
Como exemplo, ele usa uma técnica aplicada em colorização cinematográfica baseada em trabalhar os tons quentes e frios para destacar primeiro e segundo planos. Primeiramente ele usou Levels (Níveis) para dar um leve contraste, aumentando a alta luz e fechando um pouco as baixas. Depois, acessou o Color Balance (Equilíbrio de Cores) para esfriar as sombras, colocando azul, e esquentar as altas luzes, colocando amarelo. Isso já ajuda a dar um efeito de imagem de cinema, separando os planos. Por último, utilizou a Saturação para dar um pouco mais de vibração nas cores. Colocou também uma pequena vinheta nas laterais da imagem para deixar a atenção mais voltada para o centro.




