Com a febre das redes sociais e o alcance segmentado de público, a fotografia tornou–se uma ferramenta importante para quem é personalidade na web. É por isso que cada vez mais os influenciadores digitais estão deixando de usar apenas fotos feitas com os próprios smartphones e apostando em retratos aprimorados para acrescentar mais profissionalismo e dar mais qualidade aos posts. Fotógrafos da área de book e moda, como o experiente Sidnei Gea, 59 anos, passaram a incorporar no portfólio o atendimento a influencers, que, além de conveniente, se tornou uma poderosa ferramenta de divulgação, visto que os canais das redes sociais atingem um grande número de pessoas e empresas, que podem visualizar o trabalho fotográfico profissional.
Gea começou a carreira em fotografia de moda e produtos nos anos 1980, ainda na era do filme, e agora se adaptou às hashtags e arrobas para atender gente influente do mundo virtual, como a socialite Sophia Alckmin, a apresentadora de TV Astrid Fontenelle (que tem canal no YouTube), assim como as influenciadoras digitais Cris Tamer, Anna Fasano, Thasia Naves, Fran Monfrinatti, Nati Vozza, Lala Noleto, Nicole Pinheiro, Helena Lunardelli e Renata Betti, entre outras.
Gea conta que o trabalho das DIs (digital influencer) é cada vez mais usado por grandes marcas para divulgar produtos, ou seja, as empresas enviam “mimos” ou as pagam para que elas postem nas redes sociais o que desejam. Por isso, além de precisarem de retratos ao estilo fotografia de moda, carecem ainda de imagens expondo um momento espontâneo e animado da experiência com o produto. Cabe ao fotógrafo ser rápido (veja box) e saber valorizar os dois aspectos, ensina Sidnei Gea. “O fotógrafo profissional funciona como um upgrade para destacar o produto que elas divulgam. Muitas vezes, nosso trabalho acaba fazendo parte do pacote negociado com a empresa patrocinadora da influenciadora”, explica o especialista.


Pagamento em likes
A prática de parcerias e permutas é muito comum no meio de digital influencer. Quem está investindo no segmento acaba trocando divulgação por serviços para ganhar notoriedade e conseguir viabilizar trabalhos. É habitual salões de beleza, maquiadores e tudo que gira em torno de beleza e moda atenderem em troca de seguidores, o que se estende também à fotografia.
Para Gea, porém, o trabalho do fotógrafo deve ser pago em dinheiro, já que permuta por likes e seguidores não é moeda. Entretanto, pode ser uma boa maneira de um novato ingressar no mercado, principalmente se o profissional ainda não faz parte do meio. “Não vejo problema em trocar ensaios por alguma divulgação para começar a atender o segmento. Fazer fotos para alguém que está em exposição nas redes sociais vai ajudar, mesmo que seja apenas com crédito e marcação nas postagens e stories do Instagram. Nesse nicho, não se pega o portfólio ou site e manda proposta de trabalho. Acaba sendo mais efetivo a indicação por meio de uma postagem”, explica.
O especialista conta que sua entrada nesse mercado é fruto de uma permuta com a influenciadora Nati Vozza. Ela divulgou pelo Twitter, na época, que buscava um fotógrafo no esquema de permuta para clicar a marca de roupas dela. Atualmente, além de fotógrafo, Gea ainda é um grande amigo da influencer. Por conta da visibilidade gerada por esses trabalhos, passou a atender alguns clientes nas áreas de moda, como Hering, Dzarm e NK, além de joalherias, gastronomia e eventos de lançamento de coleções.
Na hora de cobrar pelo serviço, Sidnei sugere fechar um pacote mensal de sessões semanais, que envolvem normalmente meia diária para cada DI. Um bom modo também é cobrar pelo pacote, por exemplo, de 10 looks por sessão. “Houve um declínio no acesso a blogs com a ascensão do Instagram. Isso mudou um pouco o formato das sessões. Antes era um minieditorial para cada look, com fotos frontais, laterais, de detalhes e de acessórios. Agora tudo se resume a apenas uma foto por look. Elas até agregam mais fotos da mesma produção, porém a foto principal é que vai prender a atenção da seguidora”, ensina ele. Para conhecer mais do trabalho do fotógrafo, acesse @sidnei_gea.


Rapidez é o segredo
Sidnei Gea explica que as sessões para influencers ocorrem em geral na própria casa delas, ou em externas em locais próximos, por conta da logística de troca de looks e retoques de maquiagem – outra situação é fotografar nas lojas das marcas e nos arredores. Uma particularidade desse nicho é saber trabalhar com rapidez, pois muitas acumulam outra atividade, como a rotina de mãe. Além disso, o trabalho não se restringe apenas a postagens: elas participam de reuniões com clientes, vão a eventos, a lojas e fazem stories de cada passo que dão. Assim, a sessão de fotos precisa se encaixar no meio disso tudo.
Para isso, o fotógrafo precisa ter disposição e equipamento que caiba em uma mochila. Gea usa duas Nikon, a D600 e a D5300 (backup), com as objetivas
80-200 mm f/2.8 (para clicar na rua e explorar o desfoque do fundo) e uma 24-70 mm f/2.8 (para locações internas e locais com pouco recuo). Eventualmente usa a macro 105 mm e a 50 mm f/1.8 para fazer detalhes de joias. “Quando tenho tempo, e a casa tem pouca luz ambiente, costumo usar flashes de estúdio ou flashes compactos”, comenta.
É crucial saber se comunicar bem com a influencer para ter o momento do clique perfeito. Elas não são modelos, desenvolvem um repertório de poses e o trabalho flui, diz Gea. Lembra que elas querem profissionalismo e ao mesmo tempo naturalidade, portanto, a direção é diferente de um editorial de moda. A influenciadora conhece os melhores ângulos dela e sabe o que precisa destacar em um look e em uma peça de roupa.


Outra dica: as influenciadoras querem as fotos “para ontem”. No começo, Gea propôs que as fotos fossem baixadas no computador para escolha e depois fosse feito o tratamento. Porém, na prática, conta que, enquanto estava no carro indo para casa, as fotos foram publicadas. Hoje, elas baixam direto no smartphone e fazem elas mesmas as correções.