O mercado em baixa e as medidas de isolamento social para ajudar a frear o avanço da pandemia do novo coronavírus afetaram a atividade profissional de muitos fotógrafos. Com mais tempo em casa, surge a oportunidade de organizar o material que você guarda em seus arquivos. Trabalho muitas vezes visto como pouco prazeroso (e por isso deixado de lado), a edição e a indexação de imagens digitais precisam ser feitas periodicamente e com metodologia, segundo Marcos Issa, fundador da agência Argosfoto e que estuda formas de conservação e disponibilização de acervos desde 1985.
Issa aponta que as principais mudanças da era analógica para o digital estão na quantidade de imagens produzidas e na forma de armazenamento. “O volume de imagens de um fotógrafo cresce exponencialmente. Se na era analógica era possível organizar acervos pessoais, com algum esforço, criando álbuns e pastas, guardados de preferência em armários de aço, agora a atenção precisa ser redobrada. O volume é infinitamente maior”, compara.
Por outro lado, os recursos para lidar com esse volume de informação são também cada vez mais eficientes. Programas como o Lightroom e o Capture One oferecem uma série de ferramentas que facilitam a organização e a indexação de arquivos fotográficos. Issa organiza seu fluxo de trabalho via Lightroom e comenta que o ponto mais importante para a organização de acervos digitais está nos metadados, informações “embutidas” em cada imagem, que permitem identificá-la e gravar detalhes como data e hora de captura, abertura, velocidade, sensibilidade, além de câmera e objetiva utilizadas.

Organização das pastas e importação
Marcos Issa lembra que os metadados incluem campos que devem ser preenchidos pelo fotógrafo para identificar a imagem, inserindo dados como autor, título, descrição e palavras-chave. Uma imagem sem identificação fica muito mais difícil de ser encontrada. O preenchimento da autoria também é fundamental para que os direitos autorais da imagem sejam respeitados.
Outro ponto relevante é a renomeação dos arquivos. Issa comenta que há muita confusão sobre isso e muitos fotógrafos acabam optando por renomear as imagens de maneira a identificá-las. É um equívoco que gera trabalho sem retorno de eficiência. O local apropriado para identificar uma imagem é nos metadados, diz ele. “A principal função da renomeação é dar uma identidade única ao arquivo, um código que não se repita nunca mais. Para isso, pode-se usar uma combinação de datas, iniciais do fotógrafo e uma sequência numérica. Não dá trabalho nenhum, pois o software faz isso automaticamente, basta configurá-lo”, explica o especialista.
Ao importar as imagens no Lightroom, é possível renomeá-las e ao mesmo tempo atribuir palavras-chave e descrições comuns àquele lote. O ideal é sempre importar do cartão de memória ou do celular usando o Lightroom para que as imagens já entrem em seu arquivo renomeadas e identificadas. “A organização por pastas é menos importante do que o uso de metadados. As pastas são organizadas de maneira similar à era analógica, com nomes temáticos ou cronológicos e subpastas, quando necessário”, explica Issa, indicando que é importante que tudo esteja armazenado numa mesma “pasta-mãe”. Um recurso prático oferecido pelo Lightroom são as coleções, que permitem agrupar virtualmente imagens de diversas pastas sem precisar movê-las.


Edição e Revelação

Após a importação, chega o momento de editar as imagens. Essa etapa é compreendida pelo processo de classificação e escolha, separando “o joio do trigo” – a ideia é selecionar as melhores imagens para tratá-las e refinar as informações de metadados. O Lightroom oferece uma classificação por estrelas de 0 a 5, que Marcos Issa utiliza de maneira progressiva. Na primeira passada, dá uma estrela às imagens que são boas e, depois, ativa o filtro para exibir apenas elas e repassa dando duas estrelas nas melhores imagens e assim sucessivamente até ficar satisfeito com o resultado. Com as melhores imagens filtradas, o passo seguinte é refinar as informações de metadados, melhorando a descrição. Isso pode ser feito por lotes, selecionando mais de uma imagem que corresponda a uma mesma cena ou situação.
Issa chama o processo de tratamento das imagens de “revelação”. Ele justifica o uso do termo pelo fato de fazer suas capturas em RAW, formato “cru” que exige ajustes em vários parâmetros para ficar do jeito que fotógrafo quer. “Revelar é ajustar a imagem para o olho do fotógrafo, para corresponder àquilo que ele viu ou quer mostrar com a foto. Não existe imagem sem ‘tratamento’. Quem prefere fotografar em JPEG está sujeito ao tratamento automático que a câmera faz”, alerta Marcos Issa.
O Lightroom oferece cinco etiquetas coloridas que podem ajudar no fluxo de cada fotógrafo de maneiras distintas. “No meu caso, sei que toda imagem com rótulo azul indica que já está disponível no meu banco de imagens. Às vezes, preciso interromper um trabalho de edição e coloco um rótulo vermelho para lembrar onde parei. As fotos com rótulo amarelo são as que precisam de alguma atenção, falta algo ainda a ser feito”, explica o especialista.
Exportação e becapes
Uma vez identificado, classificado e editado o material, Marcos Issa só dá saída se houver demanda. Esse processo é controlado pela janela de exportação do Lightroom, que permite realizar uma série de ajustes, como tamanho, qualidade e formato de arquivo, conforme a finalidade de cada caso, como envio para o cliente, publicação em redes sociais ou impressão.
O fotógrafo usa dois HDs externos para becape das imagens, “A” e “B”, sendo que “B” é a cópia do primeiro. Além disso, mantém quase tudo na nuvem, usando o serviço de armazenamento do site Photoshelter. Ele adverte que toda mídia tem um tempo de vida útil. O ideal é trocar de HD a cada cinco anos no máximo e migrar constantemente para novas opções, acompanhando o avanço tecnológico. Leitores de CD e DVD, por exemplo, são cada vez mais raros, o que limita a utilização dessas mídias para becape.
O ideal é controlar os becapes de forma automática, com uso de um software que compara os arquivos existentes e copia apenas os novos ou os que tenham sido atualizados. Issa usa o ChronoSync no sistema operacional macOS e indica que há pelo menos dois similares para Windows, o SynBackPro e o SyncToy. Para fazer o becape do sistema, utiliza o Time Machine, que já vem instalado no Mac.
O serviço de armazenamento em nuvem é uma novidade positiva para os fotógrafos, diz Issa, pois permite acessar e disponibilizar arquivos de qualquer lugar e representa uma segurança extra para os becapes físicos. Mas é importante não confiar apenas na nuvem, pois a empresa que presta o serviço pode quebrar e deixar o cliente na mão – por mais que pareça etérea, a nuvem depende de uma estrutura física de banco de dados para funcionar. “’O ideal é não usar uma nuvem qualquer, mas um serviço especializado em imagens, com ferramentas que permitam fazer busca por metadados inseridos nas fotos. Isso vai fazer com que suas fotos sempre sejam encontradas rapidamente, de qualquer lugar”, avalia.


