Com a fotografia cada vez mais inserida no mercado de arte, ter obras na parede de casa pode ser um prazer pessoal e um bom investimento. O Clube de Colecionadores de Fotografia do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), que faz 20 anos em 2020, foi criado tendo como um dos objetivos incentivar o hábito do colecionismo a um valor convidativo, além de promover a produção artística brasileira no segmento. A ideia surgiu na gestão do curador Tadeu Chiarelli com imagens selecionadas por um grupo da direção da instituição e prosseguiu a partir de 2006 com a curadoria específica do fotógrafo Eder Chiodetto. Nessas duas décadas, diferentes modos de pensar a fotografia foram incorporados pelo MAM.
Ao todo, o Clube reúne 107 artistas que representam visões autorais em diferentes plataformas, o que se pode chamar de fotografia expandida em seus limites. Uma visão talvez mais contemporânea do que moderna, pensando em termos da própria instituição. Entretanto, são trabalhos que constituem uma entrada ao universo do colecionismo sem grandes riscos de investimento.
As obras escolhidas para o Clube de Colecionadores também passam a fazer parte do acervo da entidade e as imagens da coleção podem ser vistas em seu website. Os direitos autorais são doados pelos participantes, com uma tiragem para cada trabalho de no máximo 100 exemplares mais 15 Provas de Artistas (P.A.), sendo que dez delas ficam para o autor e cinco para o Clube, o que aumenta significativamente o trânsito das obras no mercado de arte secundário.
Cabe ressaltar que a fotografia no MAM, inaugurado em 1948, começou a despertar interesse simultaneamente ao seu início graças às atividades do fotógrafo húngaro-brasileiro Thomaz Farkas, então organizador do “Comitê de Fotografia” do museu, que mantinha tratativas desde 1947 com o luxemburguês Edward Steichen (1879-1973), renomado curador de fotografia do Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York, já pensando no intercâmbio com a futura instituição.
-brasileiro Fernando Lemos em um autorretrato feito na década de 1950
Gerações de autores
Nesses 20 anos, o Clube também serviu como um termômetro para o crescimento dos autores no panorama nacional, incluindo modernistas como Thomaz Farkas e German Lorca ou contemporâneos deles, como Claudia Andujar , Maureen Bisilliat e Walter Firmo, nascidos entre os anos 1920 e 1930; a turma dos anos 1940, como Nair Benedicto, Walter Carvalho, Boris Kossoy e Cristiano Mascaro; autores dos anos 1950, como Claudia Jaguaribe e Klaus Mitteldorf; e uma marcante geração formada pelos nascidos nos anos 1960, como Cássio Vasconcellos, Rochelle Costi, Caio Resenwitz e Hirosuke Kitamura, que se juntam aos da década de 1970, como Rafael Assef, Guilherme Maranhão e Pedro Motta – há ainda raros nomes dos anos 1980, como Thiago Rocha Pitta, Barbara Wagner, Sofia Borges, Jonathas de Andrade e Breno Rotatori.
Eder Chiodetto explica que estabeleceu cinco diretrizes para a coleção: Limites e Metalinguagem, frente exploratória que mais tem sido usada, pois tem um diálogo mais abrangente com o resto da coleção, que, segundo ele, afasta–se da mimese fotográfica pela busca do real – nesse viés, encontram-se artistas como Rosângela Rennó, Adriana Varejão e Lia Chaia; Documental Imaginário, que traz obras de Luiz Braga, Pedro Motta e Cia. de Foto, surge como uma vertente renovada do documental a partir da década de 1990 em parte incorporando novas tecnologias – essa diretriz se recompõe também em Identidade Nacional, especialmente com as questões sociais e os temas ligados à cultura, com imagens de Maureen Bisilliat, Ricardo Teles, Barbara Wagner e Paula Sampaio.
Outra diretriz é de Retratos e Autorretratos, uma busca pela evolução e complexidade desse meio em visões mais experimentais, como a de Felipe Cama e Paulo Bruscky, ou representações mais formais, como de Gal Oppido, Vik Muniz ou Anna Bella Geiger. Mas, como o próprio curador afirma, são referências que se movem em diferentes direções: alguns autores podem representar amplas diretrizes ao mesmo tempo, visto que a fotografia não é algo estático.
Nesse movimento que se ressignifica e se inter-relaciona, a diretriz Vanguardas Históricas é uma espécie de sustentação para o vasto arcabouço formado pelo Clube. Reúne autores que romperam paradigmas renovando o pensamento fotográfico, como Fernando Lemos, Claudia Andujar, Boris Kossoy e Vânia Toledo.
Cinco autores novos por ano
Todo trabalho curatorial envolve certa arbitrariedade, pois recai sobre uma pessoa a decisão da entrada ou não de determinado trabalho. Independentemente do interesse pessoal do curador, as 107 imagens constituem um vasto alcance, geográfico e conceitual, assim como o mapeamento do que vem sendo produzido no Brasil para além dessas duas décadas de existência do Clube. A cada ano são escolhidos cinco novos autores e os inscritos pagam determinado valor anual por lotes de cinco, quatro ou três obras comissionadas.
O colecionador Miguel Chaia, cientista social e coordenador do Núcleo de Estudos da Arte da PUC–SP, iniciou ao lado de sua mulher, Vera, uma coleção de arte em 1969. Chaia conta que a fotografia chegou ao seu acervo a partir do Clube do MAM, ajudando a dar um caráter mais complexo a ele. Já o casal de jornalistas paulistanos Leão Serva e Lilian Pacce diz que cada fotografia do Clube que adquirem é analisada e discutida. “Decidimos quais irão para a parede e quais serão guardadas. É interessante perceber como uma fotografia de um determinado ano parece desconectada do conjunto, mas depois, com as próximas edições, ela ganha novas relações e assim a coleção vai ficando mais orgânica”, diz Lilian.
O valor da inscrição para ser sócio do Clube de Colecionadores do MAM (em gravura ou fotografia) é anual e por obras a que o associado terá direito: cinco obras, anuidade de R$ 6.200,00; quatro obras, R$ 5.400,00; três obras, R$ 4.500,00. A anuidade pode ser paga em até 10 parcelas no cartão de crédito, com 10% de desconto em uma das categorias, caso a pessoa se associe às duas. Mais informações: clubes@mam.org.br; ou (11) 5085-1406 e WhatsApp (11) 94368-3988.
