A Islândia, distante e gelado país nórdico que duas décadas atrás muitos só conheciam por causa da cantora pop Björk, é hoje um dos destinos mundiais mais procurados para expedições fotográficas. No meu caso, tudo começou em setembro de 2013, quando viajei para lá pela primeira vez. Tinha em mente exatamente isto: planejar uma expedição para fotógrafos brasileiros e entender in loco por que a Islândia começava a ser tão cobiçada.
Durante o planejamento, percebi que os cenários entre o inverno e o verão eram muito distintos. Como estaria na Europa em agosto, optei por essa época e dei a volta ao redor dessa ilha de 103 mil km2 habitada por apenas 350 mil pessoas. Aos poucos, fui entendendo a complexidade e as várias faces desse país de cultura marcante e com paisagens surreais desenhadas pela força da natureza – e que sofre uma constante transformação pelos quatro elementos (terra, ar, fogo e água) porque a Islândia é considerada geologicamente jovem. A coexistência de gelo e fogo, por exemplo, torna a ilha única e sedutora para quem curte fotografar natureza e paisagens. Além disso, há cachoeiras espetaculares, geleiras fantásticas, montanhas incríveis na Highlands e, na época certa, o maravilhoso fenômeno da Aurora Boreal.

abaixo, em foto noturna
Antes mesmo do final da viagem, cheguei à conclusão de que seria importante voltar no inverno para complementar a experiência. Feito isso, escolhi a época de frio por ser a mais interessante para montar a primeira expedição; e de forma definitiva a Islândia entrou para o meu calendário de destinos fotográficos.
A estrutura oferecida é muito boa, com acesso fácil para muitos atrativos e uma estrada principal que dá a volta em toda a ilha. Mas, como o tempo pode mudar inesperadamente, estar despreparado para rodar por lá pode ser um erro muito grave – principalmente com neve ou gelo na estrada. Por essa razão, a logística e o planejamento são fundamentais, pois muitas vezes só
há cerca de 30 a 60 minutos de luz ideal.

Show de quedas d’água
As cachoeiras, com diversos formatos, fazem parte de todos os roteiros e estão presentes em todas as regiões, sendo quase impossível apontar a mais atraente. Para fotografá-las, a técnica é simples, quase uma receita de bolo, fácil de ser seguida. No geral, faz-se uma foto de longa exposição de pelo menos 1 segundo para dar a sensação de movimento – quanto maior for o tempo de exposição, maior será o efeito da água borrada.
É necessário contar com um tripé bem firme para manter a câmera estável durante a captura e disparar via cabo disparador ou pelo modo automático do temporizador. Para as fotos feitas sob a luz do dia, é fundamental o uso do filtro ND (Densidade Neutra), pois sem ele não é possível ajustar velocidades mais lentas. O filtro de densidade neutra tem a função de reduzir a quantidade de luz que entra pela lente da câmera, permitindo assim trabalhar com velocidades de 1s, 2s ou mais lentas. Existe uma ampla gama de filtros ND, de 1 até 16 stops (veja box). E não esquecer de tapar a ocular do visor para evitar a entrada de luz.
Durante a expedição, uso os cenários de cartão-postal para ensinar alguns fundamentos técnicos, mas instigo os fotógrafos da expedição a usarem ângulos não tradicionais e diferentes distâncias focais para fugir do óbvio. A Dettifoss, por exemplo, é a cachoeira com maior volume de água da Europa. Com um corte com a lente de 50 mm, e não uma grande angular como de costume, procurei conduzir o olhar do espectador para dentro da cachoeira, dando a falsa impressão de que estava no meio da corredeira. Aumentei o impacto da cena trazendo volume, textura e movimento da água.

Já na famosa Seljalandsfoss, que no inverno tem o entorno coberto por gelo e neve, me distanciei do véu da cachoeira e, ao contrário da anterior, usei a grande angular com a distância focal em 14 mm, câmera montada no tripé regulado entre 40 e 70 cm de altura, inclinada cerca de 40o para baixo, com o objetivo de enfatizar a curva do rio em primeiro plano e afastar a cachoeira no plano de fundo, criando assim uma relação visual entre o próximo e o distante. A grande angular exagera a importância do primeiro plano e aumenta a sensação de profundidade – apesar de o foco estar no plano mais próximo, toda a cena está nítida. Algumas dicas: observe bem todos os elementos da cena, use os elementos geométricos para conduzir o olhar do espectador e faça a distorção causada pela lente trabalhar a seu favor.
Para a fotogênica Aldeyjarfoss, trabalhei novamente com a grande angular, aproveitando o entorno como uma moldura. Já para a foto noturna, planejei uma exposição de 10 minutos e usei uma lanterna LED bem potente para trazer mais detalhes das colunas de basalto que formam a parede do cânion. Durante o tempo de exposição, me mantive afastado da câmera e movimentei a lanterna nas mais variadas direções.

O controle da luz
Sempre planejo fotografar em horários extremos, considerando chegar ou sair cerca de 90 minutos antes ou depois do pôr do sol. O benefício é poder registrar as cores incríveis do Cinturão de Vênus e da Sombra da Terra. O Cinturão de Vênus é um fenômeno atmosférico que produz uma faixa de cor rosa entre a sombra da terra e o céu azul. Já a Sombra da Terra ocorre à medida que o planeta gira e a atmosfera passa a não refletir mais a luz solar direta, tendo a sua sombra projetada.
O cenário planejado contemplou a formação rochosa Reynisdrangar, que após o pôr do sol ganha cores incríveis. A cena mais clássica seria fotografar a partir da Reynisfjara, também conhecida como a Praia de Areia Negra, mas, por ser um lugar famoso, fica absurdamente lotado e pode ser impossível conseguir um bom ângulo – e esse tem sido um problema com a fama crescente dos incríveis cenários islandeses.
Um dos lugares mais mágicos para enquadrar o nascer do sol é a Diamond Beach, nome dado em referência aos blocos de gelo provenientes da Lagoa Glacial Jökulsárlón. Eles navegam pelo Rio Jökulsá e vão de encontro ao Oceano Atlântico. Ao bater na água, sofrem uma espécie de polimento e chegam à areia brilhando como diamantes. Sem ver a imagem, creio que seria impossível imaginar uma praia de areia negra repleta de blocos de gelo polidos. Poderia ser uma pintura surrealista de Salvador Dalí.
A dica para fotografar cenas assim é usar velocidades mais baixas, entre 1 e 3 segundos, criando um rastro de água para ter um grafismo incrível, complementado pelo contraste entre a areia negra e os blocos de gelo. Mesmo em dias nublados, são inúmeras as possibilidades de criação. Previamente, discuto com o grupo as possibilidades de composição e os fundamentos técnicos para eliminar a preocupação de alguém não conseguir registrar a cena como desejada.

Olho na fotometria
Fotografar em um lugar totalmente coberto de neve demanda atenção com a fotometria, pois, quanto mais intenso o branco, maior será o desvio de leitura do fotômetro, calibrado para o cinza-médio 18%, e a cena ficará escura. Chamo a atenção do grupo para lembrar de compensar entre +1 e +2 pontos e sempre recomendo fazer testes de leitura de luz e avaliar o histograma da imagem. Outra dica é capturar em formato RAW, o que sempre aumenta as possibilidades de ajuste na pós-produção, até mesmo reparar pequenos erros.
Os cavalos islandeses, por exemplo, são belos e extremamente dóceis, um bom tema para fotografar na neve. Com uma teleobjetiva (135 mm) para não ficar muito próximo, priorizei a velocidade mais alta (1/1.000s), pois queria trazer o máximo de detalhes, e usei a abertura f/8. Fiz a compensação de 1 ponto e 1/3 por causa do chão do fundo extremamente branco e porque parte do pelo do animal também era branco – a fotometria indicava a velocidade de 1/2.500s, e como sabia que a foto ficaria escura busquei uma outra parte da cena com a mesma intensidade de luz, porém com uma tonalidade mais neutra; fiz uma nova fotometria e como a intensidade da luz não estava variando pude manter 1/1.000s e f/8 durante toda a sessão de fotos.

Outra grande aventura da expedição durante o inverno é fotografar a Caverna de Gelo, quando é preciso usar superjipes 4 x 4 para chegar aos pés do glaciar Breioamerkurjökull – depois, ainda há uma caminhada de cerca de 1 hora até alcançar a caverna. O desafio lá é lidar com a diferença de luminosidade, principalmente quando se usa a lente grande angular – uma ótima opção é utilizar a técnica do HDR, tanto o Lightroom quanto o Photoshop fazem isso muito bem, mas existe também outra boa solução, o Photomatix. O ideal é fazer a fotometria na alta e na baixa luz e daí calcular quantas fotos serão necessárias para compor o HDR numa só foto.
O modo mais prático é configurar o bracketing da câmera para três fotos com incrementos de 2 pontos (para mais e para menos), utilizar um tripé estável, escolher o formato RAW e acionar o temporizador automático para disparar as fotos sequencialmente. Após o disparo, serão feitas três fotos com exposições (0EV, -2EV e +2EV), e elas podem ser mescladas no Lightroom (veja abaixo).


Dicas para o uso de filtro ND
1 – Monte a câmera no tripé e faça a composição antes de encaixar o filtro ND;
2 – Configure a sensibilidade em ISO 100, a abertura em f/16 e o equilíbrio de branco no modo automático.
3 – Faça a medição de luz para determinar o tempo de exposição (o ideal é usar o modo de fotometria Matricial). Faça um teste de exposição e avalie se é necessário fazer algum ajuste na composição ou na fotometria.
4 – Encaixe o filtro ND e faça a compensação da exposição. Ela pode ser feita por uma conta básica, uma tabela impressa ou um aplicativo no celular. Exemplo: com filtro ND 6 stops ou ND 6 pontos: valor da exposição antes do filtro: 1/30s, f/16 e ISO 100. Para cada ponto (stop) do filtro é necessário diminuir 1 ponto ou reduzir a metade do valor da exposição, sendo assim: 1/30s para 1/15s (1 ponto), depois 1/8s
(2 pontos), 1/4s (3 pontos), 1/2s (4 pontos),
1 segundo (5 pontos) e finalmente 2 segundos (6 pontos).
5 – Lembre de tapar o visor da ocular, usar o cabo disparador ou o modo temporizador automático para evitar movimentar a câmera. Faça a foto em formato RAW.
Atenção: alguns filtros ND alteram a tonalidade da imagem, mas isso pode ser solucionado facilmente no Lightroom ajustando o equilíbrio de branco.

Mesclar fotos no HDR
Em situações com muita luminosidade, fazer pelo menos três fotos para mesclar as luzes baixa, média e alta é a solução. Depois, na pós-produção, basta importar as imagens para o Lightroom, selecionar os três arquivos e, no menu superior “Foto”, escolher a opção “Mesclar Fotos > HDR”.
Em seguida, marcar a opção “Alinhamento automático”, desmarcar “Configurações automáticas”, escolher a opção “Nenhuma” em Intensidade de Deghost, escolher que a opção “Criar pilha” e finalmente clicar no botão “Mesclar”. A partir das três fotos, o Lightroom cria um novo arquivo no formato DNG com mais qualidade do que você poderá tratar da sua forma habitual.

