Na história dos grandes fotógrafos há quase sempre um dilema: o que veio primeiro, a vontade de fotografar um assunto ou o interesse pelo assunto é que levou alguém a se tornar fotógrafo? No caso do paulistano Luciano Candisani, especializado na documentação da natureza e do meio ambiente, a paixão pela ecologia surgiu primeiro, levando-o à profissão e posteriormente ao cânone do gênero.
Com um percurso peculiar, Candisani faz parte da prestigiosa International League of Conservation Photographers (ILCP) na categoria fellow member (fotógrafo que trabalha e se envolve na preservação do meio ambiente) que agrupa nessa categoria somente 58 dos mais importantes fotógrafos do mundo. Entre eles, os famosíssimos norte-americanos David Doubilet, Jim Brandenburg e Robert Glenn Ketchum.
A ILCP tem sede em Washington, Estados Unidos, e conta também com mais 45 fotógrafos na categoria fellow associate (fotógrafos que têm interesse na imagem de preservação da natureza, com possibilidades de se tornar um member). Candisani é o único brasileiro que se enquadra como membro. Outra peculiaridade é que ele será o segundo brasileiro a figurar com uma reportagem especial na versão internacional da revista National Geographic, programada para maio de 2013.
Com versões espalhadas em diferentes línguas, a centenária National Geographic é o sonho de consumo de quase todo fotógrafo de natureza, apesar de não ser exclusivamente uma publicação desse gênero. Mas sem dúvida é a que traz mais visibilidade ao profissional pela simples razão de ser consumida no mundo inteiro. Antes de Candisani, somente Wolfgang Jesco Von Puttekamer (1919-1994), nascido no Rio de Janeiro de pais alemães, havia publicado reportagens especiais sobre a Amazônia na década de 1960.





Praia, campo e Cousteau
O caminho para chegar à National Geographic foi longo e começou na adolescência de Candisani, quando ele ia para a casa de praia da família em Itanhaém, litoral sul de São Paulo, ou no sítio dos avós, próximo de Arujá, no interior paulista. Hoje aos 42 anos, relembra: “A praia era na Vila Lotti, naquele tempo, bem deserta. Mas era lá que passávamos quase todos os finais de semana”.
O fotógrafo conta que ficar em São Paulo “era mesmo uma obrigação”. Também nessa época, fazia visitas com o pai, dono de uma ótica, ao centro da capital paulista, em especial à loja Fotoptica, de Thomaz Farkas ( 1924-2011), que era um parceiro comercial. “Ficava fascinado com as câmeras, filmadoras 8 mm e 16 mm”. Naquela época, materiais óticos e fotográficos ainda eram muito próximos na maioria das lojas.
A atração pelas filmadoras veio pelo fato de ser fã incondicional do grande explorador francês Jacques Cousteau (1910-1997) de quem não perdia um filme na televisão. Responsável pela popularização do mundo submarino, Cousteau foi fotógrafo, conservacionista, explorador e cientista, além de desenvolver muitos dos equipamentos para o mergulho autônomo (feito com cilindro de ar comprimido) e produzir dezenas de filmes e livros que marcaram gerações.
Em 1963, a fábrica japonesa Nikon lançou a Nikonos I Calypso, a primeira câmera 35 mm especialmente desenvolvida para fotografia subaquática produzida em série. O nome vem das primeiras câmeras Calypso criadas pelo próprio Cousteau e o engenheiro belga Jean de Wouters, uma câmera rangefinder. Em 1984 já estaria no mercado a Nikonos V, também rangefinder, mas já com fotometria automática. Foi com esse modelo que Candisani começou a fazer suas imagens subaquáticas em 1985.
Ele tinha feito o curso de mergulhador autônomo na escola paulistana Aqua Mundo, em 1984, mas em vez de comprar um equipamento de mergulho optou por comprar uma câmera: “Já estava me incomodando a questão da conservação da natureza pelos lugares em que andava”, conta ele. Essa indignação, juntamente com as leituras da National Geographic, o incentivou a expandir os horizontes na fotografia. Entretanto, com uma diferença para os demais fotógrafos: “Não queria apenas registrar a natureza, queria interpretá-la, à minha maneira, sob meu ponto de vista”.





