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No olho da rua

Descubra o dinâmico universo da street photography com as dicas de quatro feras: David Gibson, Alexandre Urch, Guillermo Franco e Melvin Quaresma 

Erico Elias por Erico Elias
7 de outubro de 2020
em Matérias
No olho da rua

Foto: Alexandre Urch

Criador do Manual do Fotógrafo de Rua, o inglês David Gibson acredita que sua especialidade não é um conceito ou um campo definido, mas uma atitude. Ela diz respeito essencialmente à relação do fotógrafo com o ambiente urbano. E muitas atitudes são possíveis nesse contexto. O fotógrafo pode optar por passar despercebido, “roubando” imagens de forma sorrateira, ou pode interagir com as pessoas e chamá-las a participar, criando ambiguidades entre o espontâneo e o encenado. “O que é a fotografia de rua? A questão é mais bem respondida considerando-se primeiro quem faz fotografia de rua. Se você der um mergulho profundo nas motivações, tudo se torna mais claro”, diz Gibson.

Nem sempre as pessoas são o principal foco. Há fotógrafos de rua que focam texturas, grafites, cartazes, escritos, anúncios, vitrines, elementos arquitetônicos, placas e sinalizações de trânsito. A paisagem urbana é densamente povoada não apenas de pessoas, mas também de elementos visuais. Alguns trabalhos se concentram exatamente na interação entre o elemento humano e a paisagem urbana.

Na relação entre fotógrafo e ambiente urbano, o equipamento entra como um elemento fundamental. Não se trata de ter o melhor equipamento, ao contrário, muitas vezes o mais simples, compacto e leve tem larga vantagem. O importante é ter rapidez no foco e no disparo. Seja qual for a câmera escolhida, ela só será eficiente a partir do momento em que se tornar uma extensão natural do corpo do fotógrafo, algo que só se conquista com a prática constante e sistemática.

Flagrante nas ruas de Londres realizado por David Gibson explora relação entre as crianças e o aviso escrito no muro
O fotógrafo pode explorar as linhas e formas encontradas na paisagem urbana, como nesta imagem de Alexandre Urch

Saber esperar

Não há outra forma de se desenvolver na fotografia de rua senão andar muito. É preciso se perder pelas vias urbanas para encontrar imagens únicas e inusitadas. Ao descobrir um cenário interessante, é o momento de parar e observar o movimento ao redor, buscar se antecipar aos acontecimentos, saber esperar.

As saídas a campo devem ser intercaladas com uma constante busca por referências, tanto no universo da fotografia de rua como provenientes de outras áreas e mesmo de outras artes. É essencial possuir uma cultura visual para conseguir encontrar um caminho próprio. As boas imagens não surgem apenas do acaso e da sorte, mas principalmente de um olhar treinado e educado.

A fotografia de rua também envolve questões éticas. A princípio, não é necessário solicitar autorização para uso de imagem de pessoas fotografadas em espaços públicos. Porém, o fotógrafo estará suscetível a ações judiciais caso haja algum tipo de dano à imagem do cidadão, que não deve ser fotografado em uma situação constrangedora ou degradante. O cerne da questão não é jurídico, mas ético, já que pessoas em situação de rua, por exemplo, não têm meios para se defender.

Visto pelo viés histórico, a fotografia é filha da revolução industrial, assim como as grandes cidades. Ela surge em meio a um ambiente de rápida urbanização e massivo êxodo rural. Não é sem razão que a primeira imagem icônica apresentada ao público por Louis Daguerre, em 1839, tenha sido uma imagem do Boulevard du Temple, uma das vias mais movimentadas de Paris. A massa de transeuntes é vista como um espectro, dado o longo tempo de exposição exigido, mas é possível enxergar um homem que engraxava os sapatos – teria sido por acaso ou proposital?

Mas foram necessárias algumas décadas de desenvolvimento técnico para que a fotografia chegasse às ruas. Em primeiro lugar, o surgimento, na década de 1870, das placas secas, que podiam ser expostas em frações de segundo e dispensavam os fotógrafos de preparar e emulsionar os negativos. Em 1888, com o surgimento da primeira Kodak, vem a popularização, a câmera se torna compacta e passa a usar filme em rolo.

Foto: Augusto Malta
Foto: Paul Strand
Foto: Henri Cartier-Bresson

Fotografia moderna

A fotografia de rua ganharia seu maior impulso a partir do início do século 20. O movimento Photo-Secession, nos Estados Unidos, transitou do pictorialismo para a fotografia direta, por meio das imagens de Alfred Stieglitz e Paul Strand realizadas nas ruas de Nova York. No Brasil, destacam-se nesse período Augusto Malta, grande cronista da vida carioca na virada do século, e Vincenzo Pastore, que saiu do ambiente controlado do estúdio e ganhou as ruas de São Paulo na década de 1910, revelando o rosto dos transeuntes com uma espontaneidade inédita.

É com o surgimento da Leica I, primeira câmera para rolos de filme de 35 mm, lançada em 1925, que a fotografia ganha definitivamente as ruas. A câmera alemã trouxe duas características fundamentais: leveza e agilidade. O francês Henri Cartier-Bresson foi o primeiro grande nome a encarnar essa transformação, assumindo-se como fotógrafo da espontaneidade, aquele que perambula na busca de captar instantes únicos.

São inúmeros os fotógrafos que seguiram nesse caminho aberto por Cartier-
-Bresson e pelo surgimento da agência Magnum, fundada por ele em Paris, em 1947, em parceria com Robert Capa, David “Chim” Seymour, George Rodger e William Vandivert. Dentre os nomes mais conhecidos da fotografia de rua estão Robert Doisneau, Walker Evans, Robert Frank, William Klein, Helen Levitt, Lee Friedlander, Elliott Erwitt, Bruce Gilden, Daido Moriyama, Garry Winogrand e Vivian Maier. No Brasil, destacam-se nomes como German Lorca, Hildegard Rosenthal e Carlos Moreira.

Foto: German Lorca
Foto: Vivien Maier
Foto: © Elliott Erwitt
Foto: Helen Levitt
Foto: Carlos Moreira

Coletivos contemporâneos

Com o desenvolvimento recente dos smartphones, criou-se uma legião de potenciais fotógrafos de rua. Milhões de imagens são feitas diariamente nas cidades ao redor do mundo e compartilhadas via redes sociais. No rastro dessa ampliação, também os coletivos e as comunidades de fotógrafos de rua, tanto internacionais como locais, se multiplicaram. Observe, Burn my Eye, Full Frontal Flash e The Street Collective são alguns exemplos de coletivos internacionais que emergiram em anos recentes.

O premiado fotógrafo Gustavo Minas, de Cássia (MG), faz parte do Burn my Eye desde 2018 a partir do convite de alguns membros. Conta que não conhece nenhum deles pessoalmente, mas troca ideias constantemente por meio de um chat no Facebook e um grupo no Flickr. “Como em todos os coletivos desse tipo, a maior dificuldade é fazer as coisas acontecerem fora do mundo virtual. Publicações de zines, exposições e encontros têm sido discutidos desde que entrei, mas ainda não saíram do papel. Há membros na Europa, Ásia, EUA e aqui. Tem sido uma boa experiência”, comenta.

Acima e abaixo, imagens feitas em Brasília (DF) por Gustavo Minas, fotógrafo faz parte do coletivo internacional Burn my Eye
Foto: Gustavo Minas

David Gibson: inspiração nos livros

David Gibson

A fotografia de rua invadiu a vida do inglês David Gibson quando ele entrou em contato com o trabalho de fotógrafos como Henri Cartier-Bresson e Elliott Erwitt durante um curso superior em Fotografia de Publicidade e Editorial, em 1988. Mas a descoberta dessa denominação só viria mais tarde, ao longo dos anos 1990, quando passou a diferenciar a fotografia de rua como um gênero circunscrito dentro do universo mais amplo da fotografia documental.

Gibson conta que seu trabalho não segue uma proposta específica. “Ao longo dos últimos 30 anos, venho fazendo fotografias sem um intuito preciso. Talvez minha conexão com a fotografia de rua esteja ligada à ideia do flâneur, aquele que flana pelas ruas na busca das próprias imagens. Algumas fotos minhas podem ser reunidas em torno de temas ou sentimentos, mas no geral vejo meu trabalho como uma grande bagunça”, comenta.

Gibson ainda não “organizou” o próprio trabalho em livros autorais ou exposições. A dimensão comercial de sua atividade está ligada à curadoria e ao ensino. Ele dá cursos sobre fotografia de rua e tem publicações paradidáticas sobre o tema. Também auxilia fotógrafos a editarem seus trabalhos.

Seu estilo e sua abordagem mudaram bastante ao longo dos anos. “Estou sempre buscando escapar do que já fiz, tento experimentar novas formas. Atualmente tenho me envolvido bastante com a abstração, inspirado por fotógrafos como Ernst Haas, Mario Giacomelli e, mais recentemente, Saul Leiter e Gueorgui Pinkhassov. A fotografia abstrata é um escape e uma experimentação”, avalia.

Cenas cotidianas engraçadas flagradas por David Gibson em Brighton (acima) e Henley (abaixo), na Inglaterra, ambas em 1998
Foto: David Gibson

Câmera compacta

Atualmente, a câmera que David Gibson usa com mais frequência é a compacta Fuji X100T. Ele iniciou na fotografia com uma Nikon FM2 e, com a chegada do digital, migrou para câmeras DSLR da Canon. “Acho que as câmeras digitais trazem muitas regulagens. Às vezes parece que estou na cabine de controle de uma aeronave, tamanha a quantidade de botões e alavancas. Para mim o equipamento tem de ser simples de usar. Migrei para a X100T por ser uma câmera menor, que não chama muito a atenção. Mas nenhuma câmera é perfeita. Essa, por exemplo, me faz perder algumas fotos por causa do sistema de foco automático e do modo macro, que às vezes são difíceis de usar”, explica.

Como dica aos interessados na área, Gibson recomenda tirar um pouco os olhos do monitor e buscar por referências impressas. Os livros de fotografia são importantes por trazerem uma edição coerente. “Você pode julgar um fotógrafo por seu trabalho, mas também pelos livros que já publicou. Esse interesse pode ser estendido à arte em geral, ao cinema e até à literatura. A mente e os olhos precisam de estímulos. Por fim, não fique muito preocupado com regras e definições. Somente se deixe inspirar pelo trabalho dos outros”, indica.

Gibson conta que já houve casos de pessoas que se identificaram com suas fotos. “Na maioria das vezes, a reação foi positiva. Gosto de pensar que a minha fotografia de rua nunca é cruel ou injusta de maneira alguma”, afirma.

Duas imagens captadas em Londres por David Gibson: para o fotógrafo britânico, o equipamento deve ser pequeno, para não chamar a atenção, e simples de usar
Foto: David Gibson

Quem é ele

Com 62 anos, David Gibson é britânico e vive em Kent, próximo a Londres, onde realiza a maioria de suas fotografias de rua. Gibson começou a se interessar pela fotografia de rua nos anos 1990. Além de fotógrafo e membro fundador do coletivo In-Public, atua como curador e já escreveu três livros paradidáticos sobre o tema, dentre eles o Manual do Fotógrafo de Rua, publicado no Brasil pela editora Gustavo Gili. Site: www.gibsonstreet.com /
@davidgibsonstreetphotography.

O vidro estilhaçado se sobrepõe ao rosto de usuária do metrô – Foto: Alexandre Urch

Alexandre Urch: a rua como ela é

Alexandre Urch

Paulistano da gema, Alexandre Urch cresceu na “selva de pedra” da megalópole brasileira. Desde o início de sua trajetória na fotografia, em meados dos anos 1990, ele busca na rua a matéria-prima para sua criação. Seu principal objetivo é o de mostrar a rua como ela realmente é. “A rua é um ambiente hostil, duro e sujo, mas também humano, para quem abre seus olhos para ela. Gosto de tornar visível aquilo que passa por invisível para a maioria das pessoas”, explica Urch.

Seu trabalho é composto por séries, a maioria delas surgidas do embate com o ambiente urbano. A série Everyday People, ganhadora da categoria Ensaio do Concurso Leica-Fotografe, em 2012, foi totalmente feita com um iPhone 3GS no metrô de São Paulo, em uma época em que poucos pensavam ser possível realizar um trabalho fotográfico profissional usando um smartphone. Dentre outras séries urbanas que ele destaca estão Babilônia Zero Onze, com imagens do dia a dia de São Paulo, e O Cheiro da Rua, na qual busca exprimir os odores da cidade por meio de imagens.

As grandes referências para Urch são os fotógrafos americanos Bruce Davidson e Bruce Gilden, que fotografaram as ruas de forma “nua e crua”, e os brasileiros German Lorca e Carlos Moreira, que se enveredaram na busca de mostrar “algo mais além da fotografia para turista ver”. Atualmente, as referências que mais influenciam seu trabalho são provenientes de outras artes, como a colagem, a pintura, o grafite e a música.

Cena de rua explora jogo de luz e sombras e contrapõe os humanos ao manequim. Foto: Alexandre Urch
Aqui a moça da
loja se confunde com os manequins. Foto: Alexandre Urch

Fotógrafo invisível

Para Urch, a discrição é a principal característica de um fotógrafo de rua, e isso passa pela forma como o equipamento é utilizado. “Se tem uma coisa que não define meu trabalho é equipamento. Utilizo desde um celular até uma DSLR full frame de última geração. Existe uma ‘regra’ na fotografia de rua que diz que o equipamento tem de ser pequeno e discreto, mas o principal fator para o resultado final é o fotógrafo, que tem de passar praticamente invisível. O equipamento é só uma extensão do fotógrafo”, esclarece.

Ele não concorda com a ideia de que a fotografia de rua teria menor viabilidade comercial do que outras áreas de atuação. “O grande magazine de roupas, a marca de tênis famosa, a modelo para o editorial da revista, o filme no cinema, a marca de carro, todos esses produtos geram suas imagens tendo o ambiente urbano como pano de fundo. Quando um fotógrafo de rua cria uma identidade em seu trabalho, aquilo que seria apenas uma documentação do dia a dia urbano acaba sendo alvo de marcas que o contratam para campanhas publicitárias, como já aconteceu comigo. Muitas fotos e séries que fiz também foram comercializadas em galerias ou diretamente por mim”, informa.

As dicas de Alexandre Urch para quem quer se aventurar nessa área passam pela segurança e pela necessidade de se deslocar. “Primeiro, coloque seu equipamento e celular no seguro, a rua não é um playground. Em segundo lugar, ande, ande muito, respeite a rua e a rua respeitará você. Ande sempre no sentido contrário dos turistas e da maioria das pessoas, pois é nesse sentido contrário que a fotografia de rua se encontra”, aposta.

Cenas registradas em São Paulo por Alexandre Urch: a rua não é um playground, ensina ele. Foto: Alexandre Urch
Foto: Alexandre Urch

Quem é ele

Alexandre Urch, 42 anos, nasceu e foi criado em São Paulo, onde realiza a maior parte de seu trabalho. Utiliza a rua como matéria-prima criativa desde que começou a levar a fotografia mais a sério, em 1996. Ficou em primeiro lugar na categoria Ensaio do 9o Concurso Leica-Fotografe em 2012, com uma série realizada no metrô da capital paulista. www.alexandreurch.com.br / @aurch.

Acima, a curiosidade do menino flagrado por Franco quando olhava para dentro de um bueiro. Foto: Guillermo Franco

Guillermo Franco: o real como ficção

Guillermo Franco

No primeiro dia do ano de 2009, Guillermo Franco carregou sua Nikon FM2 com um rolo de filme P&B ISO 400 e saiu para fotografar algo que sempre o maravilhou: a vida cotidiana de Córdoba, região centro-oeste da Argentina. Foi assim que nasceu a série Allí mis Pequeños Ojos, formada por imagens capturadas nas ruas e repletas de graça, ironia, sensibilidade e afeto. A série segue até hoje em aberto e já gerou diversas exposições.

Franco é dono de um estilo poético e descontraído. Suas fotos de rua quase sempre contam a história de uma interação inesperada e ambígua. “O real se revela ficção. O invisível pode ser apreciado graças à imaginação. O trivial, o banal, o supérfluo se tornam válidos quando há uma surpresa. São tomadas diretas, espontâneas, vívidas. O agora se transforma em para sempre e o efêmero se torna eterno”, define ele acerca do seu trabalho.

Até hoje, Franco só utiliza sua mesma Nikon FM2, sem se importar muito com a qualidade óptica da objetiva, sem uma distância focal predileta e utilizando, segundo suas próprias palavras, “o rolo de filme mais barato que encontrar”. Sua escolha tem a ver com o suspense criado pela imagem latente.

“Gosto da fotografia analógica porque ela mantém a chama do segredo acesa. Faz perdurar o instante e a emoção da tomada, do clique. Centenas de instantes inacreditáveis pululam pelo labirinto de minha memória. Talvez alguns jamais virão à luz. Quanto mais demoro a revelar e a ampliar um negativo, mais duradouro é meu prazer”, brinca.

Quando solicitado a dar dicas para quem quer seguir na fotografia de rua, Franco responde de maneira evasiva e poética, com algumas citações, terminando por uma frase de sua própria autoria: “O real é inapreensível tanto quanto o essencial é invisível. E, no entanto, a fotografia é verdadeira, como a vida”.

A busca pela interação entre seres vivos e as inscrições encontradas no espaço urbano está no cerne do trabalho de Guillermo Franco
Exemplo do humor que desestabiliza. Foto: Guillermo Franco
as relações inusitadas entre um gato e um homem com grafite nos muros. Foto: Guillermo Franco

Fotógrafo por amor

O uso do analógico e o prazer sentido em postergar a revelação dos negativos se tornam viáveis na medida em que Guillermo Franco não desenvolve seu trabalho tendo em vista a difusão nas redes sociais ou a comercialização. Seu sustento vem do trabalho como programador no Cineclube Municipal de Córdoba, como crítico e professor de cinema. Assim, o tempo está do seu lado.

“Vivo da fotografia no melhor sentido da expressão ‘viver de’. É a fotografia que me anima, que funciona como uma pulsão de vida, e não os retornos monetários. Não busco me inserir no mercado editorial, pois não me considero documentarista, muito menos no mercado de arte, pois tampouco me vejo como artista. Sou feliz por ser um simples fotógrafo, não profissional, mas literalmente amador, pois pratico por amor”, conta Franco, que esteve no Brasil em 2017 para apresentar seu trabalho no Festival de Fotografia Paraty em Foco.

Quando se trata de referências, Guillermo Franco é generoso e menciona uma série de fotógrafos que admira e estuda: Helen Levitt, Robert Frank, Willy Ronis, Sabine Weiss, Ed van der Elsken, Garry Winogrand, André Kertész, Tony Ray-Jones, Jacques Henri Lartigue, Ramón Masats, Sergio Larrain, Shirley Baker, Tish Murtha, Elliott Erwitt, Lisette Model, Izis, Martine Franck, Édouard Boubat, Viktor Kolar e Diane Arbus em sua primeira fase. Dentre os argentinos, sua obra favorita é a de Jorge Aguirre.

Suas referências vão muito além da fotografia. Bastam algumas menções para se ter uma ideia. “O que leio de John Berger, a tipografia das máquinas de escrever, o som das caixinhas de música, algum verso de Garcia Lorca, o humor cordovês, uma estrofe de Alfredo Le Pera, o enquadramento nas pinturas de Edgar Degas, algum desfoque de William Klein, recordar do meu pai, os romances de John Fante, as mentiras de Federico Fellini…” A declinação termina com uma referência bastante pessoal: “também, é claro, o que façam e digam Julieta e Joaquim, meus filhos”.

Fotógrafo de rua deve estar atento às rimas visuais do cotidiano. Foto: Guillermo Franco
O real como ficção expresso na desproporção entre o menino e a garagem. Foto: Guillermo Franco

Quem é ele

Guillermo Franco nasceu em Córdoba, Argentina, e tem 52 anos. Formou-se em Comunicação e Fotografia. Trabalha desde 2000 como programador do Cineclube Municipal Hugo del Carril, na cidade onde vive, dá aulas e escreve sobre cinema. Pratica a fotografia de rua desde 2009 por paixão. Avesso às novas tecnologias, nunca fotografou com celular, não tem site nem perfil em redes sociais.

Cena de estilo bressoniano captada por Melvin Quaresma

Melvin Quaresma: a importância dos coletivos

A fotografia de rua surgiu como algo natural na vida de Melvin Quaresma. Na infância, ele morou em Florianópolis (SC) e se divertia quando ia ao centro da cidade olhar o movimento. Na época em que começou a fotografar, já morando em Curitiba (PR), o primeiro impulso foi o de pegar a câmera e sair pelas ruas do centro da cidade.

“Sou muito tímido. Para mim, começar a fotografar na rua foi um desafio, uma forma de superar a timidez. Com o tempo, fui me sentido cada vez mais à vontade para experimentar e comecei a fazer algumas coisas mais segmentadas. Costumo chamar esse tipo de produção de fotografia do cotidiano, pois é realizada no dia a dia e sem a pretensão imediata de se tornar uma série ou algo mais aprofundado”, conta Quaresma.

Das suas incursões pelas ruas da capital paranaense, surgiu a ideia de fazer uma série de retratos, intitulada Centrais. Os personagens são retratados com luz artificial – um flash compacto dedicado utilizado com sombrinha, fora da câmera. Todos os retratados foram encontrados, abordados e fotografados na rua.

Dentre os fotógrafos de rua cujo trabalho Quaresma mais admira estão os brasileiros Carlos Moreira e Gustavo Minas e a americana Vivian Maier, que trabalhava como babá em Chicago e fotografava nas horas vagas, tendo deixado um enorme acervo de cenas de rua e autorretratos, “descoberto” apenas depois de sua morte.

Cena captada no interior de um comércio. Foto: Melvin Quaresma
Senhora e seu guarda-chuva em composição dinâmica. Foto: Melvin Quaresma
Meninos conversam no interior de um ônibus: o cotidiano é o combustível da fotografia de rua. Foto: Melvin Quaresma

Abordagem discreta

Melvin Quaresma fotografa com uma Fujifilm X100F, compacta premium com objetiva fixa de 35 mm, e uma Panasonic GX7, mirrorless que costuma usar em conjunto com uma objetiva de 40 mm. “Prefiro usar equipamentos pequenos, justamente por conta da abordagem discreta. Não gosto de chamar a atenção quando estou fotografando”, relata.

Para Quaresma, a fotografia de rua é algo que surge por paixão, pela pura vontade de fazer, distinta de seu trabalho documental, que é mais elaborado e aprofundado, e de sua atuação comercial. “Comercialmente, faço fotografia para empresas. Tem um pouco de fotografia de rua nisso, de tudo o que aprendi na rua, essa coisa de observar bastante e de interferir pouco”, explica. Ele utiliza o Instagram como principal ferramenta para dar vazão a essas imagens do dia a dia e deixa o site para publicar as séries documentais mais elaboradas.

Quaresma destaca a importância das comunidades e dos coletivos de fotógrafos de rua surgidos em anos recentes. “No Flickr tem uma comunidade que reflete muito do que é a fotografia de rua contemporânea para mim. Há referências muito boas, grupos muito fortes, com uma boa curadoria. O meu preferido é o Hardcore Street Photography. Existe um movimento de globalização que acho muito interessante, coletivos que reúnem fotógrafos de várias nacionalidades, como o Burn my Eye”, aponta.

Para Quaresma, a principal atitude para se tornar um fotógrafo de rua é pegar o equipamento e sair a campo, na busca de descobrir, por conta própria e na prática, qual é a abordagem. “Minha abordagem é discreta. Interajo pouco com as pessoas. O meu trabalho na fotografia de rua foge dos padrões mais praticados hoje em dia. Trabalho bastante em P&B, não costumo fazer composições complexas nem jogos de luz e sombra, fotografo muito em dias nublados e gosto de fazer fotos simples, de fazer o mínimo, enquadramentos com poucos elementos”, afirma.

Acima e ao lado, retratos da série Centrais, feita nas ruas de Curitiba (PR) com flash compacto dedicado usado fora da câmera. Foto: Melvin Quaresma
Foto: Melvin Quaresma
Contraste entre dois personagens que dividem o mesmo banco no centro de Curitiba (PR). Foto: Melvin Quaresma

Quem é ele

O jovem Melvin Quaresma, de 24 anos, vive em Curitiba (PR). Começou a fotografar há sete anos e foi revelado pelo Concurso Universitário de Fotografia, promovido por Fotografe, do qual foi vencedor em 2013. Desde o início se interessou pela fotografia de rua, pois sempre gostou muito de frequentar o centro da cidade. Também realiza séries documentais sobre temas diversos. www.melvinquaresma.com / @melvinquaresma.

Matéria publicada originalmente em Fotografe Melhor 279

Tags: Alexandre UrchAugusto MaltaCarlos MoreiraCena de RuacidadesDavid GibsonElliott Erwittfotografia de ruaGerman LorcaGuillermo FrancoGustavo MinasHelen LevittHenri Cartier-BressonMelvin QuaresmaVivian Maier
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