Participar de concursos não é apenas uma forma de dar visibilidade ao trabalho, obter recompensas financeiras ou dar um impulso à carreira. É também uma oportunidade de progredir e descobrir elementos em seu próprio trabalho. Jean Lopes, potiguar da cidade de Assu (RN) e o primeiro a conseguir a façanha de vencer o Concurso Leica-Fotografe na categoria Cor, com uma só imagem (em 2006), e na categoria Ensaio (em 2007), chegou a essa conclusão na prática.
Ele lembra que foi uma experiência marcante conquistar o primeiro lugar no concurso de 2006. Além da viagem para participar e receber a premiação durante o Festival Internacional de Fotografia Paraty em Foco e da exposição na mídia, o triunfo no concurso o fez enxergar algo que estava na fotografia dele e da qual até então não tinha se dado conta: a presença da cor como elemento da composição. “Essa recompensa adicional não estava prevista no regulamento do concurso”, brinca Lopes.
Por viver em uma cidade do interior do Nordeste, ele conta que aprendeu muito não apenas se inscrevendo, mas sobretudo acompanhando os resultados de concursos. Um dos primeiros de que participou foi o da Nikon Internacional, quando estava começando a fotografar. Ao conhecer as fotos premiadas, ele compreendeu que ainda precisava melhorar muito. “Pense no contexto de quem aprendeu a fotografar antes de existir internet, em que a única formação era na base do erro e do acerto, quando as publicações especializadas eram escassas e o acesso à informação de qualidade era restrito aos grandes centros. Tomei como lição essa experiência inicial e até hoje sigo aprendendo e me inspirando com os grandes concursos”, comenta.

3º lugar no Concurso Leica-Fotografe 2008. Foto: Jean Lopes

Finalista no HIPA 2013. Foto: Jean Lopes

Menção honrosa no Concurso Leica-Fotografe 2007. Foto: Jean Lopes
Igreja e pau de sebo
No concurso Leica-Fotografe de 2006, Jean Lopes foi o vencedor da categoria Cor com um instantâneo feito na comunidade de Pataxó, próxima a Assu. O fotógrafo foi atender a encomenda de um cliente, que queria apenas uma foto da igreja local, e se deparou com a cena, conseguindo rapidamente compor usando no primeiro plano uma mulher que passava com uma sombrinha. “Acho que o sucesso da foto se deve muito ao rigor da composição e, a despeito da explosão de cor, consegue manter tudo em perfeito equilíbrio”, aponta.
Já o trabalho Pau de Sebo, que deu a Jean Lopes a primeira colocação na categoria Ensaio do Leica-Fotografe em 2007, foi realizado ao longo de três anos. Ele fotografou o tradicional pau de sebo, que percorre os bairros de Assu durante o período de festa junina. Misto de brincadeira e competição, o pau de sebo chega a ser desafiador também para quem quer fotografá-lo sem cair na redundância.
Conta que fez o ensaio para si, sem grandes pretensões e sem pressa. Não lembra quantas fotos foram feitas, mas diz que não foram muitas. Às vezes, e especialmente no começo dos ensaios, ele sai a campo só para observar e buscar uma interação com os personagens. “Uma vantagem para quem aprendeu a fotografar na época do filme é saber observar mais e fotografar menos. Ter menos fotos também facilita o processo de edição. Essa etapa do trabalho é muitas vezes penosa, mas crucial para o sucesso de todo o ensaio”, observa.
A edição do ensaio premiado foi realizada pelo fotógrafo, que acredita ser importante que o autor desenvolva a capacidade de escolher o próprio material. Mas é preciso lembrar que esse procedimento pode se tornar uma armadilha, já que o autor pode criar laços afetivos com os personagens, com a história, com o momento da foto e se apegar a certas imagens, mesmo quando não faz sentido incluí-las no trabalho.

Vencedora do 4º Concurso Leica-Fotografe 2006;
Vencedora do Concurso Olhares Inspiradores Canon 2018. Foto: Jean Lopes

Segundo lugar no 29º Concurso Fotográfico Cidade de santa Maria/RS, 2007. Foto: Jean Lopes

Olho no regulamento
A primeira dica que Jean Lopes dá a quem deseja participar de um concurso como o Grande Prêmio Fotografe 2021, que está com inscrições abertas, é a leitura atenta do regulamento. A falta de atenção às regras pode resultar em uma escolha malfeita. Pior, há exemplos de fotos premiadas que tiveram sua premiação cassada por ferir as regras do concurso.
Para quem deseja se inscrever na categoria Imagem Destacada, Jean Lopes indica fugir de clichês, como evitar fotos do pôr do sol ou selfies bonitinhos, fotos de família e outros temas recorrentes. “Não mande fotos muito parecidas, decida antes qual a melhor de sua sequência. Como o concurso tem tema livre, pode ser sua chance de mandar aquela foto esquisita, perturbadora, que causa estranheza… Quem sabe ela não vai ser o achado do concurso?”, argumenta.
Para Lopes, se o fotógrafo tem uma imagem excepcional que já foi enviada a outro concurso e não obteve premiação, talvez seja a ocasião de tentar de novo. Ele ressalta que julgar fotos não é uma tarefa fácil e envolve muitas escolhas subjetivas, por isso fotos excepcionais podem acabar ficando de fora de alguns concursos, a depender do nível geral dos inscritos e da comissão julgadora.
Já na categoria Ensaio, o mais importante é que as imagens formem um conjunto coeso que transmita claramente o que se quer comunicar. Jean Lopes sempre lembra que menos é mais. “Se você só tem seis boas imagens, não tente forçar a barra, incluindo mais fotos no ensaio, isso pode acabar prejudicando o conjunto”, ressalta. Na hora de editar seu ensaio, vale pedir ajuda para alguém mais experiente, sugere ele, principalmente artistas de outras linguagens. “Uma opinião qualificada às vezes muda a percepção sobre nosso próprio trabalho”, avalia.

Finalista no Fresh M.I.L.K. Photography Competition.
Nova Zelândia, 2009. Foto: Jean Lopes

1º LUGAR NO 32º CONCURSO FOTOGRAFICO CIDADE DE SANTA MARIA/RS 2010. Foto: Jean Lopes