Da década de 1950 até o começo dos anos 1960, a câmera rangefinder, de visor direto e foco por telêmetro, dominava o mercado. Isso começou a mudar a partir de 1963, quando a Olympus lançou uma pequena reflex, a Pen F, primeira e única SLR “meio quadro” (metade do fotograma de 35 mm) que dobrava o número de fotos por filme. Pequena, avançada, fácil de usar e com preço atraente, antecipou ao mundo os intrigantes efeitos do fator de corte (crop) das câmeras reflex digitais lançadas 40 anos depois.
Embora reflex, a Olympus Pen F tinha semelhanças físicas com as câmeras de visor direto – era compacta, com quase o mesmo peso, e tão “carismática” como a própria Leica M3. Ganhou recursos criados ou aperfeiçoados pela fábrica japonesa: o espelho de movimento horizontal, um curioso obturador rotativo (com sincronismo de flash em todas as velocidades) e o visor Porroflex de espelhos, substituto do volumoso prisma tradicional. Sem ele, a Pen F perdeu o típico “chapéu reflex”, ganhando um topo plano e dimensões bem menores.
Como em atuais digitais, em que o sensor é menor que o formato 35 mm, a câmera “meio quadro” provaria que, mesmo cortado pela metade, o fotograma de 18 x 24 mm rendia reproduções satisfatórias. Para a projeção de slides, modismo da época, era perfeito.

Marketing do meio quadro
A Olympus Pen F veio à luz pelas mãos de Yoshihisa Maitani, genial engenheiro japonês que quatro anos antes criara a pequena Olympus Pen, de visor direto. Ótima, barata e ideal para ser levada no bolso como uma caneta, tradução literal do inglês para Pen. A versão Pen F foi destinada aos profissionais, com lentes intercambiáveis e uma tela fresnel do visor com centro de microprisma muito mais preciso e eficiente que as rangefinders.
Para convencer sobre o formato de meio quadro, a Olympus informava que ela exigia somente 25% a mais de ampliação que o negativo 35 mm. Era ainda proporcional ao formato das ampliações 9 x 12 cm, 20 x 25 cm e 40 x 50 cm, não causava bordas brancas nem desperdiçava papel fotográfico. Já a qualidade das cópias era garantida pela alta resolução das objetivas. Mas a empresa não se referia à excessiva granulação dos filmes da época. Aliás, comparava o meio quadro com o fotograma de 35 mm usado nas melhores produções de cinema.
Para acompanhar as dimensões do meio quadro, a câmera ganhou o visor Porroflex de espelhos, que fez uma dupla perfeita com o espelho de movimento horizontal (e não vertical, como é comum). Três espelhos fixos refletiam a imagem pela lateral (interna) do corpo até o visor, posicionado na vertical, como o espelho principal. Isso favorecia retratos e fotografia de moda, como desfiles, pois não era preciso girar a câmera para os enquadramentos com a câmera na vertical.
Com o espelho de retorno instantâneo movimentando-se na vertical, havia um risco menor de as fotos saírem tremidas, mesmo com velocidades mais baixas do obturador – que era do tipo giratório, feito com uma finíssima lâmina de titânio, com velocidades de 1s a 1/500s. Permitia o sincronismo do flash em qualquer velocidade, inclusive na mais alta, recorde entre as SLRs japonesas de 35 mm de funcionamento mecânico.

Uma câmera com fator de corte
A Olympus Pen F contava com 15 objetivas Zuiko, da grande angular de 20 mm f/3.5 às poderosas teles de 400 mm f/6.3 e 800 mm (espelhada) f/5, além das lentes com zoom, como a 50-90 mm f/3.5 e a 100-200 mm f/5.
Proporcionais ao formato “meio quadro”, eram menores e mais leves que as lentes comuns para 35 mm, o que viabilizou as objetivas luminosas de preço mais acessível. A trava do encaixe ficava na própria lente, sistema adotado depois nas Olympus da família OM.
Por ter corpo fino e a pequena baioneta, a Pen F aceitava lentes de Nikon, Leica, Exacta e todas as de rosca – com adaptadores originais e, melhor, sem perda de foco no infinito, mas com perda do diafragma automático. As distâncias focais das objetivas seguiam o padrão para negativo integral de 35 mm, e não ao tamanho “meio quadro” da Pen F, que incorria num fator de corte (crop) de 1,43%. A meia tele de 100 mm tinha ângulo de visão de uma 143 mm.

Com o crop, a 20 mm tinha ângulo de cobertura de 29 mm, a 28 mm de uma 35 mm, a 38 mm de 55 mm. Em compensação, com as teles a história era outra: a 150 mm virava 210 mm, a 400 mm ia para 580 mm e a 800 mm saltava para fantásticos 1.150 mm, sem perda de qualidade e de luminosidade – informado numa grande tabela da época, mas não destacado pela Olympus, o fator de corte passou despercebido e causou muita confusão entre os fotógrafos, pouco habituados com o fenômeno.
Disponível nos acabamentos prateado e preto, a Pen F surgiu como uma ótima opção para as complicadas rangefinders de telêmetro, abrindo caminho para a entrada de milhares de SLRs no mercado mundial. A Pen F ganhou mais duas versões, a FT (1966), com fotômetro TTL, e a FV (1967), mais barata, sem leitura de luz.
