Como trabalho com reportagens de turismo, a paisagem urbana faz parte do meu cotidiano nas viagens que faço para fotografar. Costumo focar os endereços mais icônicos dos lugares: avenidas, monumentos, praças, esquinas famosas… É claro que essa abordagem corre o risco de cair em um clichê na linha cartão–postal. Mas não vejo problema em fazer o cartão-postal se houver disposição extra para buscar imagens mais inusitadas.
É uma tarefa difícil conseguir isso em lugares muito famosos, como o Cristo Redentor, o Coliseu, a Torre Eiffel e outros monumentos exaustivamente fotografados – mas o fotógrafo de viagens deve ter quase um compromisso de tentar fazer sempre algo diferente. Meu desafio é buscar imagens que não sejam apenas uma representação pura e simples, mas que consigam trazer um pouco da atmosfera do lugar.
A forma de fotografar a paisagem urbana tem muita semelhança com o preparo de uma fotografia de paisagem de natureza. Sempre que viajo para algum lugar, faço uma pesquisa de imagens na internet. Essa pesquisa pode me trazer muitas ideias e me ajuda a montar um cronograma para o cotidiano de trabalho. Contudo, a ideia não é simplesmente copiar as imagens pesquisadas, elas devem servir de referência. O fundamental é caminhar bastante.

O que funciona muito bem, uma vez no destino, é estudar cada tema e fazer uma inspeção do ambiente. Assim, você consegue perceber quais atributos deseja ressaltar do assunto e quais serão os pontos de vista que irá escolher para fotografar. Muitas vezes, é possível subir em um terraço de um café ou de um hotel ou entrar em algum prédio nos arredores para acessar um andar de onde se tenha um ponto de vista mais alto.
Não é complicado pedir autorização para o zelador ou o administrador de um prédio, a maioria entende o que você está propondo e ajuda. O que não deve ocorrer é tentar fotografar sem ter autorização, pois isso pode acarretar problemas e uma grande perda de tempo. Para fazer uma imagem da Ponte Estaiada, na zona sul da cidade de São Paulo, pedi autorização e fotografei do terraço de um prédio. Inúmeras vezes subi em terraços de cafés para registrar uma esquina ou em hotéis à beira-mar para poder fotografar a orla. Hoje, o drone (veja box) é um equipamento que resolve muitas situações em que é necessário um ponto de vista mais alto e ainda oferece uma tomada aérea que antes só era possível voando em helicópteros ou pequenos aviões – e pagando um preço muito alto por meia hora ou uma hora de voo.

Escolha o horário certo para fotografar
Com a autorização dada, outro ponto fundamental é retornar no horário mais adequado, seja no final de tarde, no crepúsculo ou cedinho, no amanhecer. Nem sempre a luz frontal sobre a fachada de um monumento ou de uma construção ou que ilumina uma rua é a mais adequada. Muitas vezes a contraluz pode gerar imagens mais impactantes. Se for possível fotografar o mesmo local em diversos horários, melhor ainda.
Você pode levar uma bússola (disponível em muitos smartphones) quando fizer a primeira visita ao local ou consultar aplicativos, como o Photo Ephemeris ou PhotoPills, que mostram a direção da luz do Sol a cada hora do dia. Nada o impede de produzir imagens nessa primeira visita de estudo, mas o planejamento amplia muito as chances de obter resultados mais expressivos tanto do ponto de vista de composição quanto de iluminação.
Fotografar ao nascer do dia, por exemplo, exige que o fotógrafo saiba exatamente onde se posicionar. A luz suave do amanhecer dura poucos minutos, por isso, não dá tempo de sair procurando o melhor ângulo. É preciso planejar antes.

Já a hora do lusco-fusco, cerca de meia hora depois que o Sol se põe, é excepcional para paisagens urbanas. Nesse período, a iluminação artificial dos prédios e das ruas está acesa, mas ainda há um pouco de luz natural e o céu ganha um tom azulado – é uma ótima solução para centros históricos, que costumam ter fachadas de construções e monumentos iluminados.
Em momentos de baixa luz como esses, o tripé é fundamental para que a câmera possa ser ajustada em baixa velocidade sem causar imagens tremidas. Sempre faço, e isso é muito importante, bracketing de exposição, ou seja, a captação de três ou mais imagens na mesma cena para captar as luzes baixa, média e alta. Com isso, consigo criar uma imagem HDR (Hight Dynamic Range, ou alto alcance dinâmico) na pós-produção com os melhores detalhes nas sombras e sem luzes estouradas. Também é um bom momento para fotografar avenidas com trilhas de luz de carros, com a câmera no tripé e longa exposição (2s a 8s, em média). E vale lembrar que a luz do crepúsculo também dura muito pouco tempo. Por isso, é crucial ter bem claro o ponto de vista escolhido e o tripé posicionado. Se escurecer demais, o céu preto e o contraste muito acentuado ficam pouco agradáveis em imagens noturnas de paisagem urbana.

abaixo, a contraluz usada para registrar a Catedral da Sé na mesma cidade. Foto: Tales Azzi

Visão em perspectiva
É importante tentar buscar perspectivas variadas ou detalhes que identifiquem o lugar de uma maneira menos convencional para fugir do clichê. Costumo fazer imagens mais amplas com a lente grande angular (geralmente 20 mm ou 24 mm) e depois experimento captar detalhes com a teleobjetiva (135 mm a 200 mm) – recortes de prédios ou monumentos famosos, por exemplo.
As linhas de ruas e de prédios favorecem as composições fundamentadas em grafismos. Arcos ou janelas de construções históricas podem fornecer boas molduras. Pessoas caminhando ou mesmo paradas ajudam a dar a sensação de dimensão e escala a um monumento. Tento evitar fios e postes, busco a composição mais limpa possível – a menos que a ideia seja justamente a de ressaltar um ambiente caótico.
Como é preciso caminhar muito ao longo de um dia de reportagem, tento ir a campo o mais leve possível. Uma câmera, uma grande angular 16-35 mm f/2.8 e uma telezoom 70-
-200 mm f/4, que levo em uma bolsa de cintura. O tripé, acessório chato de carregar, é fundamental, pois com ele não tenho foto tremida, posso usar sempre ISO mais baixos para obter mais qualidade, fazer bracketing para ter imagens HDR, fotos noturnas e longa exposição para trilhas de luz. Portanto, para registrar paisagem urbana em fotografia de viagem, não saia de casa sem ele.


de Assis, em Ouro Preto (MG). Foto: Tales Azzi
Drone oferece mais opções
A chegada do drone aumentou exponencialmente as possibilidades fotográficas e as chances de obter grandes imagens de paisagens urbanas. O cuidado, porém, é triplicado ao voar em áreas habitadas, pois há obstáculos, como prédios e casas, e uma grande interferência de ondas de rádio no ambiente. Esses fatores limitam o alcance do drone, que pode perder o contato com o radiocontrole com mais facilidade.
Também é preciso muita atenção com fios elétricos ao voar em baixa altitude. A dica é sempre manter o drone na sua linha de visada e fazer voos em baixa altitude, até 60 metros, para maior segurança. O fotógrafo jamais deve fazer voos noturnos em cidades, já que o sensor para evitar colisões não funciona bem com baixa iluminação.
