Imagens que abusam da saturação de cores e do neon em criações bem-humoradas e, ao mesmo tempo, ácidas e críticas. É assim que o fotógrafo Pol Kurucz, que se diz um “híbrido” franco-húngaro-brasileiro, polemiza, agrada, desagrada e surpreende. No auge aos 43 anos, ele continua esbanjando excentricidade e autenticidade, rodando pelo mundo com um trabalho pós-moderno que bebe na fonte do surrealismo.
O estilo de Kurucz provoca o observador por muitos aspectos, mas são as cores, baseadas em matizes acentuados (apesar de ele confessar que não usa a teoria da cor conscientemente), que se destacam como característica marcante do trabalho. Nascido na Hungria e criado na França, o fotógrafo mudou-se para o Rio de Janeiro (RJ) em 2013, onde criou o Coletivo Kolor (veja box). Hoje vive entre São Paulo (SP) e Los Angeles, na Califórnia (EUA) – quer se fixar por lá e focar sua atuação em editoriais de moda excêntricos e campanhas publicitárias, além de ter um projeto para retratar celebridades ao seu estilo. Também entrou para o mercado de fine art com produções de “pegada” pop, oferecendo suas criações em galerias formais ou online.


Processo intuitivo-criativo
O trabalho de Pol Kurucz é sempre feito em estúdio. Ele tem por hábito usar entre cinco e sete fontes de luz em cada produção e, como gosta de misturar iluminação cinematográfica com a tradicional de fotografia de estúdio, dispõe de seis flashes Profoto e um refletor fresnel. Ele revela que seu grande segredo do uso de cor está associado a dois processos: “Algumas pessoas acham que meu trabalho tem muita pós-produção, por conta das cores fortes e do aspecto surreal, mas isso tem relação com gelatinas coloridas que coloco diante dos flashes e também com a captura feita com uma câmera digital de médio formato Phase One XF IQ50 com lentes 55 mm e 80 mm”, esclarece.
O fotógrafo relata que os recursos de pós-produção são utilizados apenas para fazer limpeza ou ajustes de nitidez e reconhece que o Photoshop algumas vezes é necessário para realizar fusão de imagens, como integrar algum objeto na cena. Quando questionado sobre tratamento de pele das modelos, esquiva–se e diz que é um segredo particular, relacionado diretamente com a técnica de iluminação e regulagem de câmera.
Kurucz informa que usa a teoria das cores de maneira intuitiva, mas procura lidar com uma paleta de tons diferentes para cada série ou novo projeto. Ele diz que sempre prioriza o emprego das cores não primárias, sejam elas saturadas ou não, e conta que tem tentado reduzir a paleta de cores para uma que o defina como autor, para que possa fazer escolhas menos instintivas. Porém, tende sempre para as combinações inusitadas e misturas não tão evidentes. “Acredito que essa seja a grande essência do meu trabalho”, avalia.
Ele menciona que sua maior referência permanece sendo o americano David LaChapelle, mas também continua admirando o trabalho do checo Jan Saudek, do queniano Osborne Macharia e do britânico Miles Aldridge. Além disso, ele monta a cena, escolhe iluminação, ângulos e poses, dirige as modelos, porém admite, que ainda não tem uma ligação muito afetiva com a câmera – alguém sempre acaba apertando o botão no lugar dele.



Cores fortes como marca
Com imagens já publicadas em revistas renomadas no mundo da moda e do comportamento, como Vogue, Elle, Glamour e Marie Claire, e obras expostas em diversas galerias mundo afora e em eventos, como Semana de Moda de Xangai e Nova York, ArtExpo NYC, Red Dot Miami, Juxtapoz Club House (do festival Art Basel Miami) e Galerias Democrart (no Brasil, para venda de obras via internet), Pol Kurucz consolidou sua trajetória profissional e chamou a atenção do mercado publicitário por explorar com ousadia o universo das tonalidades e texturas pouco comum, difícil de ser trabalhado pela linha tênue que separa o artístico do kitsch.
No Brasil, ele foi convidado pela marca de sapatos femininos Melissa para criar visual e identidade da campanha especial de 40 anos das sandálias queridinhas das garotas. A série intitulada de Fantastic Pop conta uma história colorida e divertida passada dentro de um supermercado. Outra marca nacional que tem a campanha assinada por Kurucz é a de esmaltes Risqué, em que modelos aparecem em cenas comuns do cotidiano e contam a história por trás do nome dos esmaltes. O destaque da campanha fica por conta da unha enorme da mão da modelo, que é usada como agulha para uma vitrola.
“Como a essência do meu trabalho são as cores, isso chama a atenção das marcas, que me convidam visando essa característica dominante. O casamento dessa paleta de tons combina muito bem com diversos segmentos. Diferentemente do que ocorre com muitas campanhas publicitárias, os projetos comerciais que chegam para mim não têm regra fixa, o cliente ou a agência tem uma ideia ampla que tende a contextualizar com meu trabalho. A marca quer encaixar o produto dentro do universo do meu projeto, o que amplia o significado do produto. Não funcionaria se eu tivesse um briefing para seguir”, explica ele.
Com relação ao processo criativo, Kurucz diz que tudo surge muito naturalmente: “Às vezes, estou andando na rua e vejo um cartaz rasgado ou sonho com algo, estou no banho e vem uma ideia ou vejo uma foto de uma modelo em uma revista que me inspira… Tudo isso somado me ajuda a expressar o que desejo comunicar com os valores que apoio. Meu processo de criação é muito intuitivo e acontece aleatoriamente”, admite. Para conferir mais do trabalho do ousado fotógrafo, acesse o site www.polkurucz.com ou o Instagram: @polkurucz.


Do teatro para a fotografia
Envolvido com o teatro desde os 9 anos de idade, Pol Kurucz formou-se em Economia na França. Trabalhou na área por um tempo, juntou dinheiro e voltou a fazer o que realmente gostava: tornou-se diretor de teatro e agitador cultural. Mudou-se de Paris para Budapeste, capital húngara, e lá transformou um velho galpão em centro cultural e, depois, em um bar que fez tanto sucesso que outros bares surgiram na região e ela se tornou muito comercial, reunindo várias baladas. Como ele não tinha o projeto para ganhar dinheiro, mas por amor ao teatro, ao cinema, às artes, decidiu vender o bar e vir para o Brasil.
O novo país não era estranho para Kurucz. Ele tinha morado em Salvador (BA) durante um ano (2011). Antes, em 2006, havia passado seis meses no Rio. “Na época, era bem novo, não valorizei o Rio como deveria”, lembra. Desembarcou novamente na Cidade Maravilhosa em 2013 e criou um coletivo cultural, o Kolor, nome do bar de Budapeste. Assim, um casarão abandonado na Rua João Afonso, Humaitá, centro da cidade do Rio, foi transformado em sede do grupo. Kurucz (foto abaixo) passou a tocar um projeto que incluía palestras, festas, teatro, cinema e outras ações. Como não havia dinheiro para contratar um fotógrafo para registrar as atividades e os eventos, ele resolveu fazer o trabalho sem nunca ter tido contato profundo com uma câmera. Foi seu primeiro passo na fotografia.
Em 2016, o ensaio “Afro-Feminista” foi premiado na convocatória Portfólio em Foco de do Festival Paraty em Foco, e Pol Kurucz passou então a ser então um fotógrafo cada vez mais conhecido, requisitado e admirado.
