A mais destacada revista de fotografia da América Latina
Fotografe Melhor
  • Home
  • Revista
    • Matérias
    • Novidades
    • Edição do mês
    • Exposições
    • Livros
    • Baú da Fotografe
  • Prêmio
    • Grande Prêmio Fotografe 2021Inscrições abertas
    • Ensaios pré-selecionados
    • Imagens Destacadas pré-selecionadas
  • Sobre
    • Histórico
    • Equipe
    • Contato
  • Loja
    • Revista
    • Livros
  • Conta
    • Login
    • Nova conta
Search

Mais resultados...

Generic filters
Fotografe Melhor
  • Home
  • Revista
    • Matérias
    • Novidades
    • Edição do mês
    • Exposições
    • Livros
    • Baú da Fotografe
  • Prêmio
    • Grande Prêmio Fotografe 2021Inscrições abertas
    • Ensaios pré-selecionados
    • Imagens Destacadas pré-selecionadas
  • Sobre
    • Histórico
    • Equipe
    • Contato
  • Loja
    • Revista
    • Livros
  • Conta
    • Login
    • Nova conta
Fotografe Melhor
Home Matérias

Segredos do foco

Cada vez mais sofisticado, o sistema de focalização depende da decisão do fotógrafo, seja para focar ou desfocar. Entenda como isso funciona e domine a técnica

Diego Meneghetti por Diego Meneghetti
21 de setembro de 2020
em Matérias
Segredos do foco

Leonardo de Deus, medalha de ouro e tricampeão pan-americano em Lima, no Peru, em 2019. Foto: Jonne Roriz

O foco na fotografia tem diversos significados, distintos ou correlatos, que interferem diretamente no resultado da imagem e podem, inclusive, ser confundidos com outros parâmetros da captura, como nitidez ou definição. Mas cada um tem um papel diferente: o ajuste da focalização, por exemplo, possibilita que o assunto principal, escolhido pelo fotógrafo, fique mais saliente na imagem registrada e, na maioria das vezes, guie para si o olhar de quem vê a foto em meio a outros elementos do quadro que podem estar desfocados, arrastados, borrados ou sem muito destaque visual.

Essa é uma das explicações técnicas das imagens feitas pelo fotojornalista Jonne Roriz durante os Jogos Pan-americanos de 2019, que ilustram parte desta matéria. Repare, por exemplo, na foto à esquerda, como o olhar é atraído para rosto do nadador Leonardo de Deus, medalha de ouro e tricampeão nos 200 m borboleta. Embora o desempenho do brasileiro mereça destaque, na foto, é o foco no rosto do atleta, em meio a splashes de água congelada e desfocada na frente e atrás da cabeça dele, que faz com que a imagem seja visualmente arrebatadora. Assim como na natação, fotografar dessa maneira requer técnica e treino, além de também ser digno de medalha.

“Cada esporte pede um ajuste diferente. A posição do ponto de foco no quadro e o modo de rastreio do autofoco se alteram porque cada modalidade tem uma velocidade de ação e de permanência do objeto no plano em foco. No futebol, por exemplo, você consegue acompanhar a maioria das ações, pode seguir a bola e prever onde a ação irá ocorrer. Basta decidir o momento de clicar”, explica Jonne Roriz. Ele diz que a natação é um dos esportes mais desafiadores para acertar o foco – a grande dificuldade é driblar a água, que pode ficar em foco em vez do atleta.

O jamaicano Usain Bolt na prova dos 100 m durante as Olimpíadas de Londres, em 2012. Foto: Jonne Roriz

Ajuste no autofoco contínuo

Jonne sempre trabalha com o modo de autofoco contínuo. Na natação, ele geralmente regula para uso de apenas um ponto de foco ativo inicial, o central, e busca solucionar a interferência da água do rosto dos atletas por meio do ajuste de sensibilidade do autofoco, regulado nas configurações da câmera – atualmente ele usa uma Canon EOS 1D-X Mark II, que tem 61 pontos de foco e seis presets de funcionamento do autofoco, com três parâmetros de ajuste fino cada um.

“Tento minimizar o risco de a câmera focalizar na água de duas maneiras: a primeira é diminuir a sensibilidade de busca do autofoco, fazendo com que a água que passa entre o atleta e a câmera não seja considerada pelo autofoco. Selecionar um dos presets de autofoco na câmera também ajuda a fazer esse ajuste. A segunda abordagem é quase o oposto: deixo a sensibilidade do autofoco no máximo, mas ativo o foco por meio do botão AF-ON só quando a cena está prestes a ser fotografada. Isso pede um pouco mais de treino, mas com o tempo você aprende o momento certo de ativar o autofoco”, ensina.

A experiência também permitiu que Jonne identificasse momentos mais assertivos de fotografar nadadores. “Perco muita foto não tanto pela falta de foco, mas pela estética da imagem, que pode não estar tão boa. Do meio da piscina em diante estão as fotos mais bacanas. Naquela região, o atleta está com o gás todo, precisa de muita força para fazer a virada, e nesse momento a expressão dele é mais interessante para a imagem”, sugere. Jonne geralmente usa teleobjetivas longas, de 400 mm e 600 mm, com a abertura mais clara possível.

Por outro lado, em alguns casos, é possível escolher focalizar justamente a água, com a pessoa com o corpo todo dentro da piscina. Foi o caso da foto de Isidora Martinez e Natalie Mena (veja ao lado), chilenas do nado artístico, em que Jonne fez o foco na superfície da água e explorou a textura das ondas de maneira mais plástica.

Além da natação, o boxe é outra modalidade desafiadora. “Ele tem um tempo de foco diferente. Você trabalha com uma distância muito reduzida, com uma profundidade de campo estreita e com planos que mudam muito rapidamente”, conta. Nesse caso, o especialista explica que diminui a sensibilidade de busca do autofoco ao máximo para que o plano em foco permaneça inalterado mesmo durante a variação dos planos, já que as ações são muito rápidas.

“Diferentemente do futebol, em que você sabe aonde a bola vai chegar ou aonde o jogador vai cabecear e pode se antecipar a essas ações durante pelo menos 90 minutos, no boxe você não sabe quando o soco vai entrar ou quando a luta vai terminar. Então, você tem que fotografar todos os socos, e uma hipersensibilidade do foco pode atrapalhar. O ideal é usar o foco contínuo com uma busca leve”, diz. Assim como a própria luta que, sem previsão, pode acabar em nocaute a partir de um único golpe, é possível que o fotógrafo consiga uma ótima imagem em apenas um movimento dos lutadores.

Isidora Martinez e Natalie Mena, do Chile, se apresentam na prova de nado artístico nos Jogos Pan-americanos de Lima 2019. Foto: Jonne Roriz
Yarisel Ramirez, dos EUA, durante luta com a brasileira Jucielen Romeu nos Jogos Pan-americanos de Lima 2019. Foto: Jonne Roriz

A escolha pela estética desfocada

Dependendo do tipo de trabalho fotográfico, pode ser que, por mais que o olhar humano busque áreas nítidas na foto, o destaque da imagem seja intencionalmente um elemento desfocado. É o caso, por exemplo, das imagens feitas pelo fotógrafo Guy Veloso na série Penitentes, na qual ele registra, desde 2002, grupos religiosos que rezam pelas almas perdidas, os “encomendadores de almas”. Com a espiritualidade como tema, é justamente nas formas desfocadas e, às vezes, arrastadas das pessoas – que muito lembram espíritos – que as fotos do projeto ganharam mais destaque.

“Até meados de 2010, tinha uma preocupação muito rígida em relação ao foco e à fotometria. Inclusive trabalhava com uma profundidade de campo muito grande para registrar tudo. Mas, como fotografo muito à noite, em ambientes de baixa luminosidade e sem flash, os recursos limitados que minha câmera tinha – na época, uma Leica M6 com filme Provia 400, puxado para 800 – dificultavam fazer um foco sempre perfeito. E foi essa dificuldade que me levou a incorporar os elementos desfocados em minha estética, o que atualmente faz mais sentido pra mim”, conta Guy. “Hoje, quando revejo fotos mais antigas do meu acervo, gosto de imagens que antes eu rejeitava por estarem fora de foco ou julgava erradas tecnicamente”, diz.

Dificuldade de fotografar em situações de pouca luz levou o fotógrafo a experimentar. Foto: Guy Veloso

Equipamento digital

A partir de 2013, Guy passou a usar câmera digital em seu trabalho documental de religiões. “Pude, então, aumentar bastante a sensibilidade ISO e fotografar em situações de pouquíssima luz. Ainda assim, mantive a estética do desfocado e dos elementos em movimento nas imagens”, afirma. Ele explica que durante o registro usa o foco automático simples apenas para travar a objetiva em uma determinada distância. Depois, desliga o sistema de foco automático e acompanha a ação dos rituais com o foco manual, mas sem refazer a focalização. “Tenho em mente a distância para a qual ajustei o foco e a exposição que estou usando. A partir disso, acompanho as ações usando o desfoque de maneira intencional no registro. Há certo patrulhamento dos fotógrafos para que façamos tudo tecnicamente perfeito. Mas até um trabalho eminentemente documental pode ter elementos fora da técnica tradicional”, defende.

Guy Veloso diz que em suas fotos os elementos desfocados trazem à imagem um aspecto mais misterioso, intrínseco ao tema no qual trabalha. “A pessoa que vê a foto intui o que está acontecendo no fundo. Ressalto o primeiro plano – que geralmente tem algo dramático, pois fotografo muito o transe religioso – e tento registrar o momento exato em que as pessoas se transformam, assumem outra identidade. E a maneira que hoje faço isso é desfocando ou deixando elementos indecifráveis no quadro”, explica.

Para as imagens da série religiosa que faz, Guy Veloso opta pelo uso criativo do desfoque para conseguir um aspecto misterioso

Rapidez é um desafio

O automobilismo é um esporte em que a ação às vezes é mais rápida do que o autofoco da câmera. E, nesse caso, o melhor é se antecipar à ação. O fotógrafo José Mário Dias, especializado no segmento, ensina que a duração da corrida é algo que interfere na abordagem. “Se é uma corrida longa, como na Fórmula 1, há tempo de explorar mais os carros e experimentar fotos mais artísticas durante a corrida, com efeitos como panning e contraluz. Já em corridas curtas, como na Stock Car, esse tipo de foto não é tão frequente, é importante garantir o registro logo”, diz.

José Mário conta que durante a corrida usa o autofoco contínuo na maioria das fotos, com a chave do limitador de foco acionada – ele trabalha com uma zoom 70-200 mm f/2.8 e uma tele 500 mm f/4, travada para foco de 8 m ao infinito para não focalizar se algo surgir no primeiro plano. Já nas imagens de bastidores, dos pilotos e de carros parados, utiliza o autofoco simples ativado pelo botão AF-ON, com o ponto de foco acima do elemento que deseja focalizar – trabalha com uma Nikon D5, com 153 pontos de foco para ajudar nessa seleção precisa. Em fotos com uma profundidade de campo muito curta, uma tática é fazer um tipo de bracketing manual de foco: ele trava o foco e faz três disparos, variando levemente seu corpo para frente e para trás. “Em uma das imagens, o foco certamente vai estar cravado no olho do piloto”, diz.

Para congelar o movimento em corridas, o foco contínuo é usado na maior parte das situações. Foto: José Mário Dias
Foco feito no modo One-Shot da câmera, para temas com pouca ação. Foto: José Mário Dias

Foco manual

Mesmo com os recursos do autofoco, há momentos em que a área de ação do sistema não cobre a posição do quadro que ele deseja focalizar. Nesse caso, entra em ação o foco manual. “Em fotos com grande angular extrema ou quando quero colocar o carro em um dos cantos do quadro, sempre faço o foco manual na região que desejo e aguardo o carro entrar na posição”, explica o especialista. Outra situação para o foco manual é em corridas noturnas, já que o autofoco não funciona muito bem com a baixa luminosidade da pista e os faróis dos carros ligados.

Para panning, a clássica técnica para carros em movimento em que o registro é feito com velocidade lenta de obturador, acompanhando o movimento da ação, José Mário ensina alguns truques: “Quanto mais rápido o carro estiver, mais fácil é acertar o panning, pois é possível usar uma velocidade de obturador não tão lenta e, ainda assim, a imagem fica com um belo arrasto. Além disso, quando há elementos entre a câmera e o carro, como pessoas na arquibancada, o carro arrasta menos e consegue ficar mais nítido. Nesse caso, faço o foco manual no carro e acompanho o movimento um pouco antes e um pouco depois de disparar a câmera”, explica.

Exemplo de uso do foco manual para um panning através das pessoas. Foto: José Mário Dias
Foco manual cravado no olho de um piloto. Foto: José Mário Dias

Arte com foco seletivo

O foco seletivo é o efeito que utiliza as áreas desfocadas da imagem, resultado do uso de objetivas especiais que mudam a orientação do plano em foco na imagem: em vez de ser paralelo ao sensor, o plano em foco fica na diagonal, criando uma estética peculiar. Conhecidas como tilt-shift, essas objetivas podem ser inclinadas por meio de um movimento de báscula semelhante ao das câmeras de grande formato – também é possível ter esse movimento por meio de adaptadores especiais, acoplados entre a câmera e objetivas comuns.

Desenvolvidas para ampliar a profundidade de campo para uso em fotos de produtos e de arquitetura, deixando toda a imagem com foco aparente (o plano da profundidade de campo coincide com o plano registrado na cena), as lentes tilt-shift produzem um efeito criativo se forem usadas com a função contrária. Em alguns casos, como em fotos de cidades feitas de cima para baixo e a certa distância, o recurso óptico gera um efeito visual de “miniaturização” da cena. Na prática, a focalização é idêntica à realizada com lentes comuns, mas as objetivas tilt-shift oferecem apenas o foco manual.

Acima, foto feita em São Paulo (SP) e, abaixo, retrato realizado na Bahia: escolha da área em foco é marca de Claudio Edinger
Foto: Claudio Edinger

Do grande formato à DSLR

O foco seletivo é explorado por vários fotógrafos, sendo o paulistano Claudio Edinger um dos mais reconhecidos pelo seu uso artístico. Edinger começou em 2000, ainda na era do filme, com câmeras de médio e grande formatos dotadas de báscula – que faz o mesmo que as lentes tilt-shift. Para ele, a grande formato ensina de fato a fotografar. “Fazer cada imagem demora. Tem de montar a câmera, acertar o foco, o enquadramento, colocar o polaroid, depois o filme… Você aprende a pré-visualizar, a fazer a foto sem a câmera. Quando fui para o digital, o hábito estava formado. O trabalho continua com a mesma força que tinha com a 4 x 5 polegadas”, explica Edinger.

Hoje, com uma DSLR digital, ele não se furta a recorrer a softwares para criar o foco seletivo que antes conseguia com a báscula da grande formato – e que deu identidade ao seu trabalho. “Depois de 25 anos fotografando, cheguei ao foco seletivo e soube que estava em casa, esse é meu lugar. Como faço não importa”, diz.

Imagem realizada no centro de São Paulo (SP): Claudio Edinger usou câmera de grande formato por anos para conseguir esse tipo de foco; hoje, com o olhar treinado, chega ao mesmo resultado via software

Foco no micromundo

Um dos aspectos que interferem na profundidade de campo é a distância entre a câmera e o objeto fotografado: quanto mais perto do objeto em foco a câmera estiver, menor será a profundidade de campo. É por isso que em segmentos como a macrofotografia é tão difícil fazer um foco perfeito, principalmente com diafragmas mais abertos, que deixam entrar mais luz na cena, registram de maneira mais nítida, mas geram uma profundidade de campo ainda mais restrita. Qualquer movimento pode tirar o elemento de foco, principalmente se for muito pequeno, como um inseto.

“Nas fotos em macro, costumo trabalhar com diafragmas entre f/8 e f/11 para deixar o bicho todo dentro da profundidade de campo. O truque é, sempre que possível, cravar o ponto de foco no terço da frente do inseto, pois a profundidade de campo é mais longa na região posterior ao plano em foco”, diz o fotógrafo mineiro Lester Scalon, apaixonado por fotografia de vida animal. Com uma objetiva macro 100 mm, Lester faz os registros de insetos quase sempre com luz natural, deixando o flash apenas para situações em que a iluminação é baixa.

A restrita profundidade de campo em fotos macro exige diafragmas bem fechados para obter focalização na cena toda

Estudar o comportamento dos animais

Lester diz que o objetivo é mostrar sempre o inseto com o corpo todo no quadro, sem uma magnificação muito grande. Ele fotografa com velocidade de obturador em torno de 1/250s e autofoco contínuo em ponto central – isso ajuda a equilibrar eventuais movimentos do corpo, já que estabiliza a câmera na mão, sem o uso de tripé. “Outro truque que uso é, com muita calma, segurar um galho próximo do inseto e esperar até que ele suba no galho – encostar antes o galho no suor do corpo ajuda a atrair o bicho. Depois, com o inseto no galho, consigo me movimentar até achar a luz e o ambiente que desejo”, conta.

Além do ajuste preciso de foco, Lester diz que na macrofotografia de insetos é importante estudar o comportamento dos animais, aprendendo o horário e os locais em que costumam aparecer, áreas onde buscam alimento e água, entre outros. “No jardim de casa é possível encontrar uma variedade grande de insetos e registrá-los. Mas não queira fazer isso sob o sol do meio-dia, pois nenhum inseto vai aparecer”, diz.

Para magnificações ainda maiores, com a câmera no tripé, é possível controlar o foco (e o desfoque) de maneira perfeita com a técnica de photo stacking (algo como “empilhamento de fotos”), que consiste em fotografar o objeto em macro várias vezes com a objetiva na abertura mais nítida, alterando a posição do plano de foco a cada registro, do ponto mais próximo do objeto até o mais distante. Ao fim do processo, tem-se várias imagens semelhantes, feitas com a variação apenas do plano de foco. No computador, por meio de softwares como o Photoshop, é possível juntar todas elas em uma só final, com o objeto inteiramente focalizado.

Acima e abaixo, imagens que Lester Scalon faz com o uso do modo de autofoco contínuo em ponto central
Foto: Lester Scalon

A lente controla o foco

Em uma definição mais técnica, foco é o ponto exato em que feixes luminosos, após atravessarem uma lente, convergem em uma superfície. Nessa região focalizada, a luz emitida ou refletida pelo elemento mais nítido da cena estará projetada de maneira pontual – no sensor da câmera, essa imagem projetada formará um ponto, e não um círculo. Isso é um comportamento físico da luz e funciona de maneira análoga em outros conjuntos ópticos, como a lupa, o microscópio, o olho humano… Por isso, a focalização, na fotografia, é realizada pela objetiva; o controle pode até estar no corpo da câmera, mas é pelos elementos ópticos da lente que o foco será ajustado para determinado objeto da cena.

Dessa maneira, exceto com o uso de objetivas especiais, como as lentes tilt-shift, apenas um plano da imagem, paralelo ao sensor da câmera, estará em foco. À frente e atrás desse plano, a imagem já começa a ficar desfocada. Mas a diferença entre esses planos não é abrupta: uma região antes e depois de onde o plano de foco foi ajustado, conhecida como profundidade de campo (DOF, na sigla em inglês para depth of field), irá parecer que está em foco. Isso ocorre por causa do poder de resolução limitado do olho humano, que, dependendo da distância que enxerga, não é capaz de diferenciar um ponto de um círculo (entenda mais sobre isso no box “Círculo de confusão”).

Os elementos ópticos da lente são responsáveis pelo foco nas imagens . Foto: Shutterstock

Nitidez da lente

Outro aspecto intrínseco da objetiva é a nitidez, a qual se distingue da focalização. Isso porque cada abertura do diafragma da lente possibilita uma certa nitidez, que varia com a circunferência da abertura: uma lente 50 mm f/1.8, por exemplo, pode fotografar elementos em foco com mais nitidez se o diafragma for ajustado para f/5.6, em vez de f/22. Esse comportamento ocorre em qualquer lente: diferentes fotos, feitas com aberturas distintas, podem gerar imagens com alteração de nitidez, mesmo que o ponto de foco permaneça inalterado nas capturas (veja box ao lado).

Isso também se relaciona com a profundidade de campo: na mesma situação anterior, um elemento focalizado em f/5.6 estará mais nítido do que se fosse fotografado em f/22, mas, na imagem feita com o diafragma mais fechado (f/22), a profundidade de campo será maior, aparentando que uma região mais ampla está em foco.

A abertura do diafragma da objetiva tem impacto na profundidade de campo. Foto: Shutterstock

Círculo de confusão

Conceito herdado da física, o círculo de confusão é o maior diâmetro que um círculo pode ter para ser entendido pelo olho humano como um ponto, a certa distância.  Para quem vê uma foto a 25 cm de distância, por exemplo, o círculo de confusão é cerca de 0,25 mm. Esse valor pode mudar com a acuidade visual da pessoa e o contraste da imagem, mas, na prática, gira em torno de um milésimo da distância da observação.

Com um diâmetro maior que o círculo de confusão, o olho humano não enxerga o elemento como um ponto, mas como um círculo. Na foto, a região onde o círculo de confusão se torna perceptível está fora da profundidade de campo e, portanto, fora do foco aparente.

Registrada por uma câmera full frame, essa mesma imagem desfocada terá, no sensor, um diâmetro a partir de 0,03 mm. No sensor APS-C, o círculo de confusão fica em torno de 0,019 mm. É por isso que, quanto maior é o sensor, menor é a profundidade de campo em uma mesma abertura de diafragma.

Fotografar com a ajuda do tripé é uma forma de assegurar uma boa focalização em diversas situações. Foto: Shutterstock

Qual abertura é a mais nítida?

Em geral, aberturas intermediárias do diafragma são as que produzem imagens mais nítidas. Se uma objetiva tem aberturas que variam entre f/2.8 e f/22, por exemplo, posições f/5.6 e f/8 geram os melhores resultados.

Pelos testes feitos por Fotografe, na maioria das vezes, a abertura mais nítida da objetiva é em dois ou três pontos mais fechada do que o diafragma mais claro. Em uma lente de abertura máxima f/4, por exemplo, a posição mais nítida será em torno de f/8.

Você pode avaliar qual a abertura mais nítida de sua objetiva: coloque a câmera em um tripé, focalize algo plano e não muito distante (como um quadro na parede) e o fotografe diversas vezes, alterando a abertura a cada registro. Depois, com as imagens no computador e ampliadas em 100%, avalie visualmente qual delas ficou mais nítida.

Fotos de longa exposição são geralmente feitas com foco manual, mas pode-se usar o autofoco para a focalização e depois desligá-lo . Foto: Shutterstock

Foco manual e automático

Assim como ao usar uma lupa, a focalização ocorre ao ajustar a distância de alguns elementos da objetiva para mais perto ou para mais longe do elemento que se deseja fotografar em foco. Por isso que, em boa parte das lentes, há um anel de controle manual de foco, que ao girar faz com que a objetiva aumente de tamanho – assim, a lente fica mais perto do elemento que se deseja focalizar. No visor da câmera há sempre um ou mais pontos indicadores que, posicionados sobre um elemento da cena, emitem um sinal visual e/ou sonoro que indica que o plano onde está aquele objeto está no foco.

Com o ambiente sob controle (em estúdio ou em retratos posados), em situações de baixíssima luminosidade (como fotos noturnas, de estrelas etc.) ou ainda onde a área do autofoco não funciona (como os cantos do quadro, em algumas câmeras), o foco manual continua como um aliado importante. Mas também é verdade que nas objetivas mais recentes usar o foco manual pode ser um desafio, pois elas são otimizadas para o modo de foco automático, que é mais rápido e cada vez mais sofisticado. Nesses modelos, o anel de foco pode ter um curso bem curto e não fazer com que a objetiva aumente de tamanho – nas especificações do produto, isso é chamado de “foco interno”.

Atualmente, as câmeras podem oferecer três modos de foco automático, úteis para diferentes situações de cena. No modo simples (denominado One-Shot nas câmeras da Canon e AF-S em outras marcas), o foco é ajustado para um dos pontos ativos e travado naquela posição a cada disparo. Como é útil para diversas situações, esse modo é um dos mais usados e o ideal para assuntos estáticos, como retratos, paisagens ou cenas cotidianas. Para usá-lo basta pressionar o disparador pela metade (ou o botão AF-ON, em algumas câmeras); a objetiva irá focalizar o plano que coincide com o ponto de foco ativo e o foco ficará travado naquela distância até a câmera registrar a foto. Se for necessário mudar a distância focal, ou a distância entre o assunto e a câmera, será preciso refazer a focalização.

Muitos modelos de objetivas recentes são otimizados para foco automático, dificultando o uso no modo manual. Foto: Shutterstock

Autofoco contínuo

Para assuntos em movimento, como fotografia de esportes ou cenas de ação, o modo de autofoco contínuo (chamado de AI Servo na Canon, ou AF-C em outras marcas) funciona melhor. Nesse modo, ao manter o disparador pressionado pela metade (ou o botão AF-ON), o sistema acompanha o movimento do assunto inicialmente focalizado sob um dos pontos ativos no visor. O autofoco segue esse caminho mesmo após o obturador disparar – isso gasta mais bateria da câmera e pode não ser muito preciso em cenas com movimentação muito rápida ou caótica. Em câmeras mais novas, existem variantes desse recurso, com rastreio automático de elementos, rastreio 3D, detecção de face, detecção de olho, entre outros.

Há ainda o modo “automático” (denominado AI Focus, na Canon, ou AF-A, em outras marcas), que serve para fotografar assuntos mistos, que variam cenas estáticas ou em ação, como em eventos sociais. Nesse modo, a câmera analisa a movimentação da cena e determina como o autofoco irá funcionar, se no modo simples ou no contínuo. Em todos os modos, em ambientes com pouca iluminação ou sem muita textura, como uma parede lisa, os modos de foco automático costumam ser mais lentos e têm dificuldade para operar.

Detalhe de objetiva macro com diferentes opções de cobertura de foco. Foto: Shutterstock

Pontos de foco e tipos de sistema

Em cada modo de autofoco (e também no modo manual), é possível definir quantos pontos de foco estarão ativos no visor, agrupá-los ou reposicioná-los no quadro, dentro da área de trabalho do sistema de autofoco. Quanto mais pontos em funcionamento, mais rápida será a detecção de foco em algum objeto. Para selecionar um ponto ou grupo de pontos e definir sua posição, basta usar o joystick ou as setas direcionais da câmera (alguns modelos permitem também usar o monitor como um touchpad para essa seleção).

Em câmeras recentes, a quantidade de pontos de foco chega a impressionar: a Sony Alpha a7 III, por exemplo, tem 693 pontos AF, em um sistema híbrido entre fase e contraste (entenda mais no box); já a mirrorless Canon EOS R chega a 5.655 pontos no sistema Dual Pixel CMOS AF (nem todos são selecionáveis, mas funcionam muito bem para rastreio de objetos em movimento). Contudo, ativar muitos pontos AF implica em deixar a câmera determinar em qual plano será feito o foco automático. Muitas vezes é melhor ativar apenas um ponto (o mais próximo do elemento que se deseja focalizar), ajustar o enquadramento e fotografar.

Hoje hà câmeras com centenas de pontos de foco no visor, o que torna quase impossível não obter uma boa focalização. Foto: Shutterstock
Visor de câmera mostra em vermelho os pontos de foco ativos. Foto: Shutterstock

Pontos de foco

Já os sistemas de autofoco podem ser distintos, funcionando por detecção de fase, de contraste ou com um sistema híbrido entre os dois. Nas DSLRs, ao usar o visor para fotografar, a imagem que chega à câmera é separada em duas e direcionada a um sensor dedicado ao foco, situado no interior da caixa de espelhos. Nesse sistema de detecção de fase, uma sobreposição das duas imagens permite à câmera avaliar se o assunto está na frente, atrás ou exatamente no ponto de foco ativo. Com a medição dessas distâncias, a câmera ajusta a objetiva para uma focalização precisa. Em geral, uma câmera com autofoco por fase tem poucos pontos de autofoco, 9 nos modelos mais básicos ou cerca de 150 nas top de linha, agrupados na região mais central do quadro.

Já ao se fotografar com uma mirrorless ou pelo monitor de uma DSLR, a câmera avalia o contraste da imagem projetada no sensor para realizar a focalização. Nesse caso, como é usado o mesmo sensor de captura, é possível haver mais pontos de autofoco localizados em todo o quadro. Modelos mais recentes chegam a oferecer centenas de pontos de autofoco por contraste, como a Sony Alpha a7 III citada.

Foto: Shutterstock

Matéria publicada originalmente em Fotografe Melhor 276

Tags: aberturaautofocoClaudio Edingerdiafragmadicas práticasDiego MeneghettiesportesFocoFoco automáticofoco manualFoco seletivoFotojornalismoGuy VelosoJosé Mário DiasLester ScalonmacrofotografiaObjetivas
CompartilharTweetPinEnviar

Outros conteúdos

Fotojornalismo no front da pandemia
Matérias

Fotojornalismo no front da pandemia

12 de fevereiro de 2021
Caminhos para se tornar um profissional
Baú da Fotografe

Caminhos para se tornar um profissional

11 de fevereiro de 2021
Oito anos em busca de penitentes
Baú da Fotografe

Oito anos em busca de penitentes

9 de fevereiro de 2021
Faça seu site você mesmo
Matérias

Faça seu site você mesmo

8 de fevereiro de 2021
O olhar nas alturas de Custódio Coimbra
Baú da Fotografe

O olhar nas alturas de Custódio Coimbra

5 de fevereiro de 2021
Fotografe 292
Edição do mês

Fotografe 292

25 de janeiro de 2021

Edição do mês

Cadastre-se em nossa Newsletter

Fotografe Melhor

2020 © Editora Europa
Feito pelo Estúdio Teca

A mais destacada revista de fotografia da América Latina

  • Home
  • Revista
  • Prêmio
  • Sobre
  • Loja
  • Conta

Siga @fotografemelhor

Search

Mais resultados...

Generic filters
  • Home
  • Revista
    • Matérias
    • Novidades
    • Edição do mês
    • Exposições
    • Livros
    • Baú da Fotografe
  • Prêmio
    • Grande Prêmio Fotografe 2021
    • Ensaios pré-selecionados
    • Imagens Destacadas pré-selecionadas
  • Sobre
    • Histórico
    • Equipe
    • Contato
  • Loja
    • Revista
    • Livros
  • Conta
    • Login
    • Nova conta

2020 © Editora Europa
Feito pelo Estúdio Teca