Em meio à pandemia de covid-19, o fotógrafo Claudio Edinger descobriu meio por acaso como produzir uma série de retratos com um ponto de vista incomum documentando o isolamento das pessoas. A ideia surgiu quando ele foi passar a primeira fase da quarentena, em março de 2020, em uma fazenda em Brotas (SP).
“Fomos tomar banho de rio e levei meu drone. Pedi a Alice, filha de Betina Samaia, minha namorada, que ficasse deitada nas pedras para que eu fizesse seu retrato com o drone. Comecei a pensar em como as pessoas iriam se lembrar desse período. Daí surgiu o projeto de uma série de retratos aéreos”, explica Edinger, que lançou em abril de 2022 o livro Quarentena pela editora Vento Leste.

O fotógrafo vinha usando um drone DJI Mavic Pro 2 antes da pandemia para fazer imagens de paisagens urbanas com a técnica do foco seletivo, do qual é especialista. Nunca imaginou, porém, que o aparelho servisse para fazer retratos. “Aos poucos, começou a fazer muito sentido. Com o drone, há um novo ponto de vista do céu, como se os deuses estivessem nos vendo. Ao mesmo tempo escancara nossa fragilidade, pois através do mesmo ar somos atacados por um vírus cujo tamanho é 125 milionésimos de um milímetro”, comenta Edinger. Aliada à vista aérea, a experiência com o foco seletivo também funciona a favor dele, isolando ainda mais o elemento humano e acrescentando dramaticidade à imagem.
Depois de Alice, os personagens foram se sucedendo: quase todos são amigos ou amigos de amigos. Ele marcava o dia da foto com a pessoa, levantava voo para avaliar a locação e combinava o lugar – na janela, na sacada ou na varanda do apartamento ou da casa ou em um espaço externo em que a pessoa aparece de corpo inteiro, em pé ou deitada, destacada pelo foco.


O curador Marcello Dantas, autor de alguns textos do livro e um dos retratados por Edinger durante a pandemia, diz que o fotógrafo é escolado nas múltiplas possibilidades das linguagens fotográficas, mas que foi absolutamente feliz ao desenvolver uma solução técnica que traduzisse o espírito de uma época marcada pelo isolamento social. “Ao ser retratado por ele, entendi a mudança da geometria na relação fotógrafo, retratado e drone.
O drone atua como uma entidade própria, inoculando a realidade com uma intervenção robótica que se posiciona entre os humanos que ali atuam a seu serviço. A foto é o retrato de uma situação, não necessariamente de uma pessoa. É nessa hora que o contexto se revela e fala sobre o tempo que vivemos”, reflete Dantas.