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03-2023

Arte perde a fotógrafa Rochelle Costi – por Juan Esteves

Rochelle Costi deixou o fotojornalismo para produzir arte - Crédito Rochelle Costi

Rochelle Costi deixou o fotojornalismo para produzir arte – Crédito Rochelle Costi

A arte brasileira perdeu, de maneira trágica, a fotógrafa e artista gaúcha Rochelle Costi, aos 61 anos, vítima de um atropelamento por uma moto na Avenida Europa, em São Paulo (SP), em frente ao Museu da Imagem e do Som (MIS), no dia 26 de novembro de 2022. Uma morte precoce de quem era reconhecida nos mais importantes eventos, como a Bienal de São Paulo.

Rochelle partia do princípio de que o ato de fotografar é análogo ao de colecionar. E colecionar algo exige certo exercício de determinação, o que traz de volta ao ato de fotografar, principalmente quando essa atividade é exercida em uma grande cidade, onde o fotógrafo é imerso em um caos desgovernado.

Seus autorretratos, alegorias de seu estrabismo, alertam o observador para entrar em
seu universo mais íntimo, que na realidade é o ponto de partida para os outros universos,
também íntimos, que ilustraram a sua vasta e consistente obra.

Na sua arqueologia figuravam objetos, ambientes, autorretratos… Obras que faziam o contraponto com seus cartemas elaborados, imagens em suportes não convencionais e as suas instalações conceituais. Fotografias que mostram sua múltipla abordagem, ancoradas na disciplina técnica.

Rochelle Costi produziu incessantemente uma série de momentos e argumentos. Uma
simultaneidade de imagens para quem desejar usar uma das análises propostas pelo semiólogo italiano Umberto Eco. Sua obra ajudou a mudar radicalmente a posição da imagem fotográfica no Brasil, transferindo a realidade à organização do seu discurso – que ela parecia obter não por meio de silogismos, mas por aforismos, pois são incompletos e sugerem uma participação profunda para que possam ser compreendidos.

A fotógrafa gaúcha em retrato de Juan Esteves - Crédito Juan Esteves

A fotógrafa gaúcha em retrato de Juan Esteves – Crédito Juan Esteves

Assim, a argumentação da artista fotógrafa corresponde ao novo universo fotográfico, aquele que você é convidado a integrá-lo e depois a discuti-lo. Contudo, como entendia a artista, são vários os universos e realidades culturais que surgem como fruto de uma presente interação lúdica. Nesse ponto, ela se aproxima do pensamento do filósofo espanhol Alfonso López Quintás, para quem essa ação recíproca do ato lúdico (entre o homem e seu meio ambiente) constitui o objeto primordial da arte.

 

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