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04-2017

Caçadora de tempestades

Por Gabrielle Winandy

No filme Twister (1996), de Jan de Bont, duas equipes rivais de cientistas planejam colocar sensores em um tornado para que seja possível prever quando e por que ele começa. Quando surge um, eles entram nos carros e, em meio à euforia e ao espírito competitivo, berram para que o motorista vá mais rápido. Para a fotógrafa americana Camille Seaman, caçadora de tempestades, a situação é completamente inversa. Quando está atrás de um tornado ou de uma tempestade, vai para o local com pressa, mas sem gritaria. “Ao entrarmos em modo de perseguição, não há tempo para checar o mapa, ir ao banheiro ou descansar. As tempestades se movem a uma velocidade que pode variar de 32 km/h a 95 km/h. No carro há um silêncio eufórico”, afirma ela.

O silêncio se deve principalmente ao fato de que é preciso concentração para enfrentar as dificuldades técnicas. As condições de luz são baixas, o vento sopra com muita força, quase sempre ocorre uma chuva torrencial e, pelo fato de a tempestade se mover, não é possível posicionar um tripé. Também é preciso pensar na distância: a fotógrafa não pode ficar muito perto. Primeiro porque, se um tornado se forma, o vento pode sugá-la para a “barriga do monstro”, como ela diz, e segundo porque, se está muito perto, a tempestade não cabe no enquadramento.

Twister da vida real

Há vários tipos de tempestades. As que Camille persegue são as que permitem a formação de supercélulas – nuvens individuais com dezenas de quilômetros de comprimento que têm as condições necessárias para formar ou não um tornado (o que acontece em 2% dos casos). São necessárias condições climáticas específicas para atrair a umidade adequada para a criação das supercélulas, que podem demorar horas para se formarem. Essas condições são mais frequentes na região das Grandes Planícies, uma área que envolve o centro dos Estados Unidos e Canadá, embora possa ocorrer em qualquer lugar do mundo que tenha as mesmas características meteorológicas.

Em dias de caça às tempestades, Camille e um meteorologista profissional se reúnem em um hotel de beira de estrada com seus carros estacionados na frente, “como nos filmes”, brinca a fotógrafa. “Sentamos na cama, e ele projeta na parede do quarto um mapa com as previsões meteorológicas do dia. Analisamos as informações e decidimos para onde vamos”, explica.

Camille leva com ela de três a cinco câmeras Canon com lentes fixas. “Aprendi da forma mais difícil a não trocar as lentes na hora de fazer as fotos – acabei perdendo várias oportunidades por causa disso”, ensina a americana. Todo o material que usa durante as fotos está coberto por uma toalha de microfibra, que serve para absorver a água, e as lentes têm filtro UV como proteção. Ela usa também materiais de selagem térmica, dependendo da situação.

É importante ressaltar que Camille só faz as imagens se estiver se sentindo segura. “Não acho que valha a pena me machucar ou até mesmo morrer por uma foto, qualquer que seja”, diz. Ela argumenta que: “não sinto que tenho algo a provar, então, não procuro riscos desnecessários”. Outro requisito essencial para as fotos é a emoção do momento. “Tenho de sentir algo para levar a câmera ao rosto”, afirma.

Com isso, ela quer dizer que, se não se sente afetada pelo cenário, não se dá ao trabalho de registrá-lo. Para Camille, isso é um conselho a ser passado: “É importante saber lidar com a luz, entender o que é preciso estar na imagem para passar a mensagem que você quer e o que só distrai, mas se você estiver tenso ou não estiver sendo afetado de forma positiva pela cena à sua frente abaixe a câmera”. Sempre disposta a ver o mundo como ele é, ela não usa Photoshop ou qualquer tipo de filtro para as fotos que faz.

Gigantes de gelo

Até os 32 anos de idade Camille não tinha nenhuma carreira definida. Viajava pelo planeta sempre com uma câmera, mas fotografava por hobby. Vinha sentindo uma necessidade de mostrar ao mundo o que de mais belo havia por aí, pois sentia que as notícias diárias só focavam em tragédias e nos horrores cotidianos. Até que, em 2001, cedeu o seu assento no avião a alguém mais necessitado, em um voo lotado.

Por causa do ato de generosidade, ganhou uma passagem aérea da Alaska Airlines. Viajou para lá e, surpresa com a beleza dos icebergs, fez imagens que mais tarde venderia e inscreveria em concursos, ganhando vários deles. A experiência foi tão boa que passou oito anos viajando constantemente para o Ártico e para a Antártica em busca desses gigantes de gelo.

Certa vez, ela estava no nordeste da Groelândia, na parte externa de um navio. Fazia muito frio e o filme da câmera acabou. Tinha dificuldades para trocar o filme por causa do frio e começou a ficar desesperada, pois viu um belo iceberg e temia perder a chance de fotografá-lo. “O capitão então fez algo que nenhum outro teria feito por mim”, lembra. Ele virou o navio e circulou o iceberg para que ela tivesse tempo de arrumar a câmera para fotografá-lo. “Sou agradecida por ele ter feito isso, porque até hoje é uma das minhas fotos prediletas”, conta.

Foi a filha de Camille, então com oito anos, que, ao ver um programa sobre tempestades no canal da National Geographic, sugeriu que ela que começasse a caçar tempestades. “Três dias depois eu estava no meio das Grandes Planícies fazendo justamente isso, e me surpreendi com a beleza do fenômeno”, diz Camille.

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